"A mãe e uma criança são o símbolo da vida que decidimos humilhar, mutilar com violência", escreve Karima Moual, jornalista marroquina radicada na Itália, em artigo publicado por La Stampa, 20-07-2023.
Eis o artigo.
Abandonadas no deserto, na fronteira entre a Líbia e a Tunísia, com os corpos estendidos, uma próxima da outra. Uma mãe e muito provavelmente sua filha, com os rostos na areia, os ombros, as costas viradas para o inferno. Uma mãe e uma criança são o símbolo da vida que decidimos humilhar, mutilar com violência.
Essa imagem nos chega graças ao jornalista líbio Ahmad Khalifa, que assegura que existem muitas outras como essa. Muitos corpos de migrantes abandonados no deserto na fronteira com a Líbia, graças à iniciativa do presidente tunisiano Kais Saied, que declarou guerra a uma fantasmagórica "substituição étnica", visando diretamente os migrantes subsaarianos no país.
Mãe e filha morrem na fronteira entre Líbia e Tunísia (Foto: @ahmad_khalifa78 | Twitter | Reprodução)
Racismo institucionalizado e violência registrada com imagens e relatos que, em vez de nos indignar, decidimos ignorar, graças à nossa primeira-ministra Giorgia Meloni, dando mais um passo adiante. Concedendo um lugar de honra a quem criou o inferno nas costas dessa mãe e dessa criança. Creditando-o na Europa com a assinatura de um memorando, juntamente com financiamentos para gerenciar os migrantes.
No deserto mais árido, é difícil encontrar uma sombra. Ao redor dessa mãe e sua filha, não há sombra alguma, apenas um pequeno arbusto e o inferno ao redor, enquanto a alma de uma mãe e uma criança voam. Enquanto isso, permanecemos aqui, com nosso inferno no coração, sem vergonha.
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