"Devemos pedir seu perdão porque, como humanidade, desviamos o olhar de vocês, uma mãe e uma filha de cerca de 6 anos, duas pessoas imigrantes que apenas procuravam um futuro melhor, ou pelo menos possível", escreve Isabella Piro , jornalista, em artigo publicado por l'Osservatore Romano , 22-07-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Caras Amina e Aisha, vamos chamá-las assim porque não sabemos seus verdadeiros nomes.
Temos que pedir seu perdão.
Perdão pela indiferença globalizada que fez vocês morrerem de sede no deserto, na fronteira entre a Líbia e a Tunísia.
Pedimos seu perdão porque, como humanidade, desviamos o olhar de vocês, uma mãe e uma filha de cerca de 6 anos, duas pessoas imigrantes que apenas procuravam um futuro melhor, ou pelo menos possível.
Mãe e filha morrem na fronteira entre Líbia e Tunísia (Foto: @ahmad_khalifa78 | Twitter | Reprodução)
Peço seu perdão porque ninguém estendeu a mão enquanto vocês caminhavam pelo último trecho de deserto que leva ao mar Mediterrâneo. De lá, vocês embarcariam em um barco para tentar chegar às costas da Europa.
Uma "viagem da esperança" também essa, mas ainda assim uma esperança.
Em vez disso, ninguém ajudou e vocês desmoronaram ao chão, lado a lado, as bocas ressecadas pela sede e pela areia. Duas vidas quebradas expostas à fúria escaldante do sol. Nem mesmo um pano para cobrir seus rostos.
O único conforto foi um arbusto que ofereceu uma lasca de sombra. A natureza foi mais misericordiosa do que o homem.
Devemos pedir seu perdão porque seus corpos sem vida permaneceram por algum tempo abandonados, antes que outro migrante os sinalizasse aos guardas de fronteira e fossem transferidos para o território líbio.
Deve pedir seu perdão também em nome da política que procura constantemente soluções para o drama das migrações, mas parece ainda não ter encontrado.
Pedimos seu perdão. E depois ficou em silêncio. Cobertos de vergonha.
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Pedimos seu perdão. Artigo de Isabella Piro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU