25 Mai 2023
- Os bispos bolivianos admitiram expressamente que as vítimas encontraram uma Igreja surda aos seus sofrimentos.
- O governo anunciou que revisará os acordos que o Estado tem com escolas administradas pela Igreja Católica para proteger a integridade de crianças e adolescentes, diante das denúncias de abuso sexual e pedofilia contra vários padres que estão sob investigação no momento.
- A medida foi anunciada um dia depois que o presidente Luis Arce enviou uma carta ao Papa solicitando uma verificação conjunta dos antecedentes dos religiosos estrangeiros que entraram no país.
A reportagem é publicada por DR e reproduzida por Religión Digital, 24-05-2023.
Vítimas de abusos "encontraram uma Igreja surda aos seus sofrimentos". Este foi o pedido expresso de perdão formulado nesta quarta-feira pelos bispos bolivianos, imersos em uma crise sem precedentes depois de desvendar o 'Diário de um pedófilo'. Depois de receber a visita de Jordi Bertomeu, o episcopado do país emitiu um comunicado anunciando a criação de uma comissão nacional para investigar os abusos cometidos por alguns padres neste país.
Em nota, a Conferência Episcopal Boliviana reconheceu que, embora tenha havido avanços na criação de protocolos e códigos de conduta, as medidas tomadas foram insuficientes e não deu "a resposta que deveria" aos seus fiéis e à sociedade em geral.
“Por isso, decidimos criar uma comissão nacional de escuta e uma comissão nacional de investigação para apurar responsabilidades e dar visibilidade ao ocorrido. Simultaneamente, vamos trabalhar para prevenir e assim proporcionar às famílias a certeza de que as crianças e jovens estarão seguros nos ambientes da Igreja”, refere o comunicado.
🔵 #ANF | La Conferencia Episcopal Boliviana informó que el monseñor Jordi Bertomeu, Oficial del Dicasterio para la doctrina de la Fe, se reunió con los obispos de #Bolivia para abordar temas de abuso sexual. Se informará sobre los avances para coadyuvar con las investigaciones. pic.twitter.com/GGV2YAmtmw
— Agencia de Noticias Fides (@noticiasfides) May 24, 2023
O governo vai rever os acordos com a Igreja
O governo da Bolívia anunciou nesta terça-feira que revisará os acordos que o Estado tem com escolas administradas pela Igreja Católica para proteger a integridade de crianças e adolescentes, diante das denúncias de abuso sexual e pedofilia contra vários padres que estão sob investigação no momento.
"Como Ministério da Educação, reprovamos esses atos de abuso sexual de meninas e meninos por padres no país e, por isso, é necessário que todo o peso da lei seja aplicado, porque não podemos permitir que esses tipos de aberrações ocorram nas mãos daqueles que têm gerido as nossas unidades educativas por convênios e particulares", disse o ministro da Educação, Édgar Pary.
#Sociedad
— La Razón Digital (@LaRazon_Bolivia) May 23, 2023
El ministro de Educación, Édgar Pary, afirmó que se colaborará en las investigaciones, ante las denuncias de presuntos abusos sexuales que implicarían a religiosos.https://t.co/WUHcJbLy7Q
Em entrevista coletiva, Pary explicou que seu escritório vai colaborar com as investigações criminais que estão sendo realizadas no país sobre essas denúncias "para que esses fatos não fiquem impunes" e anunciou a revisão "dos acordos que estão em vigor com as unidades educacionais do convênio”.
Proteger os alunos
“Revisaremos os acordos que correspondam à questão educacional porque é importante redirecionar com essa finalidade cautelar, para proteger a integridade física, psicológica e sexual de nossos alunos”, afirmou.
O ministro lembrou que o governo de Luis Arce apresentou um projeto de lei ao Parlamento nacional para que os crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes não caduquem.
Ele também mencionou a carta enviada pelo presidente boliviano, Luis Arce, ao Papa Francisco para alertá-lo sobre as denúncias de pedofilia e pedir-lhe uma revisão conjunta dos antecedentes dos religiosos estrangeiros que entraram no país.
Questionado sobre outras denúncias por fatos semelhantes ocorridos em escolas não católicas, Pary reconheceu que esses crimes não podem ser atribuídos a um único setor e afirmou que "ninguém vai ser protegido".
As denúncias de pedofilia no país surgiram depois que o jornal espanhol El País publicou uma investigação sobre um diário do falecido jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas, na qual ele se refere aos supostos abusos que cometeu contra dezenas de crianças quando estava no comando da Escola Juan XXIII, na Bolívia, desde 1971.
Também está aberto um processo sobre o caso que a EFE noticiou em fevereiro de 2019 sobre o jesuíta Luis Roma, já falecido, que foi denunciado por um ex-membro da Companhia de Jesus, que pediu anonimato, e que baseou as acusações em trinta fotografias explícitas no qual disse ter reconhecido o suposto agressor de vários menores entre 6 e 12 anos.
A Promotoria recebeu até agora oito denúncias de pedofilia contra padres, invadiu as instalações da Companhia de Jesus na Bolívia e ordenou a reserva das investigações sobre esses eventos que se espalharam por vários departamentos do país.
A Conferência Episcopal Boliviana (CEB) anunciou a chegada de um alto funcionário do Vaticano ao país para analisar as ações em resposta a essas denúncias.
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Bolívia. Após a visita de Jordi Bertomeu, a Igreja anuncia uma comissão de investigação sobre abuso infantil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU