06 Setembro 2022
A beatificação, no último domingo, do papa Luciani, leva a algumas considerações históricas para enquadrar o evento, e assinalar a sua novidade que confirma uma mudança substancial em relação a uma tradição de meio milênio.
O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L’Adige, 05-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do século XVI até meados do século XX, apenas alguns pontífices foram elevados às honras dos altares. Obviamente houve, naquele longo período, papas de reconhecida vida cristã; no entanto, cada um deles teve que fazer escolhas pastorais, eclesiais e até políticas que, com o passar do tempo, suscitaram juízos e avaliações contrastantes.
Por prudência, portanto, foram excluídas, com muito poucas exceções, proclamações oficiais de sua santidade.
Foi Pio XII (que morreu em 1958) quem começou a demover aquela mentalidade, primeiro beatificando e depois canonizando Pio X, falecido cinquenta anos antes. E desde então quase todos os papas, uma vez desaparecidos, foram elevados à glória de Bernini. Mas com uma exceção: e trata-se justamente de Eugenio Pacelli que, em 1939, tornou-se Pio XII. De vários lados, a partir alguns ambientes judaicos, e alguns históricos, foi-lhe imputada a acusação de não ter tido a coragem de levantar a voz publicamente para denunciar o Holocausto, o extermínio científico e sistemático dos judeus decidido por Hitler.
O Vaticano contestou tais objeções, mas, de fato, embora sua causa de beatificação esteja em andamento - iniciada por Paulo VI - no momento, Francisco praticamente suspendeu o processo.
Com a beatificação de ontem, retomando o ponto de virada de Pio XII, Bergoglio parece não ter mais os temores que tiveram os papas do século XVI até o início do XX; os críticos, no entanto, argumentam que, mais que "canonizar" cada um dos papas, o objetivo seria, por assim dizer, exaltar a própria instituição do papado e subtrai-la de qualquer crítica.
De qualquer forma, beatificando seu antecessor, Francisco disse: “Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja de rosto sorridente, que não sofre de nostalgia do passado, caindo no amor pelo que já foi.”
Todos conhecem a bondade de Luciani, já como padre e bispo no Vêneto. Mas ele também era muito severo quando pensava que a doutrina estivesse envolvida.
Assim, em 1974, ele dissolveu a Fuci (estudantes universitários católicos) porque havia proposto votar "não" ao cancelamento da lei sobre o divórcio. Quanto à contracepção, pensou em deixar o problema para a consciência dos cônjuges; mas depois que Paulo VI, com a encíclica "Humanae vitae", em 1968, proclamou seu "não" a tal prática, Luciani imediatamente se alinhou a essa decisão.
O reinado de João Paulo I no topo da Igreja Romana durou apenas trinta e três dias (é motivo de polêmica se ele morreu repentinamente em 28 de setembro de 1978, de causas naturais ou por outro motivo); no entanto, seu pontificado não foi o mais curto dos últimos séculos. O primado pertence a Leão XI que morreu em 1605, depois de apenas 26 dias de papado, devido a uma pneumonia que o afetou devido a um resfriado contraído durante uma procissão.
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Papa Luciani, beato à sua maneira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU