06 Mai 2022
Sergej Chapnin sempre foi um precursor. Em 2015, em um ensaio profético, ele estigmatizou a nostalgia do “país forte” da Igreja Ortodoxa Russa, ou “Igreja do Império”, como ele a chamou. Palavras que lhe custaram a demissão depois de seis anos à frente do jornal do Patriarcado de Moscou. E em março passado ele foi um dos primeiros a invocar sanções contra o Patriarca Kirill. "É responsável. Ele forneceu a base ideológica e a justificativa moral para a operação militar russa na Ucrânia”, diz ele de Nova York, onde agora é membro sênior do Centro de Estudos Cristãos Ortodoxos da Universidade Fordham.
A entrevista com Sergej Chapnin é de Rosalba Castelletti, publicada por La Repubblica, 05-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Você conhece o patriarca desde a década de 1990. É certo sancioná-lo?
Conhecia o “Kirill metropolita”, uma pessoa afável. O "Kirill patriarca" é outra pessoa. Só pensa em dinheiro e poder. As sanções ajudarão a identificar seus fundos escondidos. É dinheiro roubado da Igreja.
No ensaio que lhe custou o emprego, você falava de uma "nova religiosidade híbrida". O que queria dizer?
Com Alexei II, houve um renascimento puramente formal da Igreja feita de rituais e retórica, mas não de fé. Um renascimento que culminou em uma espécie de ideologia geopolítica: a ambição neoimperial que Vladimir Putin e o Patriarca Kirill compartilham.
Você está se referindo ao conceito de "Russkij Mir", o Mundo Russo?
É um dos seus conceitos-chave. A ideia é que Rússia, Bielorrússia e Ucrânia façam parte de uma espécie de trindade espiritual. Não se pode separá-las. Portanto, quando Kiev pediu para aderir à UE e à OTAN, para Putin não foi apenas uma traição política, mas uma catástrofe espiritual.
Que papel desempenha o que você chamou de "Igreja do Império"?
Na ideologia de Putin existem três impérios russos: o império dos Romanov, o império de Stalin e o próprio império de Putin. No meio houve traidores: Lenin, Gorbachev e Yeltsin.
Quando a Igreja Ortodoxa Russa canonizou o último czar, Nicolau I, vinte anos atrás, com ele canonizou todo o império dos Romanov. Putin depois reabilitou Stalin como aquele que venceu o nazismo. E agora cabe à Igreja construir a figura imperial de Putin como defensor da fé cristã no mundo.
Quem ganha mais nessa parceria? Kirill ou Putin?
Para Putin, Kirill é o líder da "corporação religiosa" da Federação. No mesmo plano dos líderes de outras corporações: energia atômica, petróleo, etc. É Kirill quem mais precisa de Putin: todo o seu dinheiro, poder e influência se baseiam nessa parceria com o Estado.
Há divergência no clero?
É difícil decifrar seus humores. A maioria fica em silêncio, porque na Rússia é impossível falar publicamente.
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“Pensa apenas em dinheiro e poder. Critiquei sua Igreja, ele me demitiu”. Entrevista com Sergej Chapnin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU