09 Abril 2020
O Papa Francisco continua trabalhando e vendo pessoas, embora siga rigorosamente as medidas para evitar a infecção.
A reportagem é de Nicolas Senèze, publicada em La Croix International, 08-04-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John, reuniu-se recentemente com o Papa Francisco em duas ocasiões distintas durante um período de três dias.
Nas duas vezes, ele acompanhou cardeais que chefiam importantes escritórios vaticanos.
Ele foi junto com o cardeal Luis Tagle para ver o papa na primeira reunião no dia 4 de outubro.
O prelado filipino é o presidente da Caritas Internationalis desde 2015. Recentemente, ele assumiu novas funções como prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide).
Dois dias depois de acompanhar o cardeal Tagle para ver o papa, John acompanhou o cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, para outra reunião com Francisco.
Um dos principais itens da pauta de ambos os encontros era a coordenação dos serviços sociais da Igreja diante da crise do coronavírus.
“Francisco está muito preocupado com a propagação da doença no sul”, disse John ao La Croix.
O secretário-geral da Cáritas disse que o papa, aos 83 anos, está “bem informado da situação” e está “acompanhando as coisas de perto”.
A Itália e o Vaticano estão sob ordens restritas de confinamento desde o dia 10 de março. E todos os compromissos previamente programados por Francisco foram oficialmente cancelados ou adiados.
Visitantes externos não são mais permitidos. Vários grupos de bispos fizeram suas visitas ad limina a Roma durante janeiro e fevereiro, e muitos outros se seguiriam. Mas foram suspensas.
E apenas alguns embaixadores têm permissão para ver o papa. Geralmente, apenas aqueles que estão no fim de sua missão são presenteados com uma “visita de partida” formal.
A Audiência Geral das quartas-feiras e o Ângelus dos domingos são agora transmitidos da biblioteca do Palácio Apostólico.
E apenas algumas pessoas têm permissão para participar da missa diária do papa (seus secretários e algumas religiosas), enquanto uma dezena de empregados leigos do Vaticano estavam presentes na missa do Domingo de Ramos, dentro de uma Basílica de São Pedro vazia.
Mas, apesar disso, Francisco não é um homem isolado em um Vaticano confinado.
Pelo contrário, altas autoridades da Cúria Romana parecem ter um maior acesso a ele do que antes da crise do coronavírus. Elas rapidamente são recebidas pelo papa caso precisem conversar com o pontífice sobre assuntos urgentes.
Na semana passada, por exemplo, o arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, foi compartilhar suas ideias sobre as várias questões éticas que a pandemia está levantando.
Atividade vaticana reduzida a “serviços essenciais à Igreja universal”
Francisco também teve conversas oficiais com a prefeita de Roma, Virginia Raggi, e com o primeiro ministro da Itália, Giuseppe Conte.
Recentemente, ele se encontrou com Marco Impagliazzo, presidente da Comunidade de Santo Egídio, para discutir a situação dos pobres e dos idosos na sua Diocese de Roma.
Obviamente, os assuntos cotidianos do Vaticano foram reduzidos aos “serviços essenciais à Igreja universal”.
Mas, como Francisco disse recentemente durante a missa matinal na sua residência em Santa Marta, cuidar dos pobres é um desses serviços essenciais.
“Quando Jesus diz: ‘Vocês sempre terão os pobres com vocês’, ele quer dizer: “Eu estarei sempre com vocês nos pobres. Estarei presente ali’. E isso não é ser comunista, esse é o centro do Evangelho: nós seremos julgados sobre isso”, disse o papa.
Francisco certamente não nenhuma tem intenção de reduzir o tempo que dedica a eles.
Enquanto isso, o papa tem uma série de compromissos fixos com os superiores de certos escritórios de alto nível do Vaticano a cada semana, e estes continuam.
Por exemplo, ele tem se reunido quase toda semana com o arcebispo Giacomo Morandi, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé. E também vê o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, que vai ao encontro do papa regularmente para aprovar as nomeações episcopais.
Mas os observadores mais atentos também afirmam que, desde que as principais autoridades vaticanas voltaram do seu retiro quaresmal no dia 7 de março, Francisco tem se reunido individualmente com quase todos os chefes de dicastério.
Houve pouca ou nenhuma informação sobre o tema dessas reuniões, mas a futura constituição que governará a Cúria Romana pode estar em pauta.
O Conselho de Cardeais deveria realizar sua última reunião de três dias durante este mês de abril para continuar revisando os rascunhos do texto final. Mas isso foi adiado.
No entanto, Francisco continua consultando membros de seu “conselho privado” para fazer os ajustes finais.
Todas as reuniões pessoais com o papa agora seguem um protocolo específico, que inclui que os convidados devem lavar as mãos cuidadosamente antes de cumprimentá-lo.
“Mas ele continua muito acessível e fácil de contatar: nossas reuniões com ele são muito abertas”, disse Aloysius John, observando que a preocupação de Francisco agora é “garantir a a comunhão apesar do isolamento”.
“Nós sentimos que ele sofre com aqueles que sofrem com a pandemia. Ele nos fala sobre isso com todo o coração”, disse o secretário geral da Cáritas.
Ele disse que parece claro que o papa está vivendo uma comunhão espiritual que nasce a partir dos diversos momentos de oração que ele organizou.
Francisco também garantiu às pessoas com as quais ele se reuniu nos últimos dias que, assim como o mundo será diferente depois que a crise do coronavírus acabar, a Igreja também será transformada.
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Francisco não está tão sozinho na crise do coronavírus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU