16 Março 2020
"Fechar as igrejas é uma medida de prudência civil, totalmente recomendável. Mas abrir uma exceção para poucas igrejas, deixando-as inacessíveis, mas com as portas abertas e as luzes acesas, permite à cidade, que está fechada, encontrar uma passagem, salvaguardar uma via de saída".
A opinião é de Andrea Grillo, teólogo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, em artigo publicado por Come Se Non, 14-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
A grande oscilação de sentimentos - e de decisões - que também o Vicariato de Roma experimentou entre ontem e hoje, e que diz respeito à oportunidade de fechar ou manter abertas as igrejas romanas, corresponde a um compreensível dissídio. Ou seja, aquele entre o exercício da responsabilidade de excluir qualquer possível causa de contágio e a oportunidade de que o local de maior identidade de "comunhão eclesial" - a Igreja como edificação - possa ser fechado, inacessível, distante.
O fechamento das igrejas funciona simbolicamente em diferentes níveis. Pode ser percebido como a "irrelevância da fé" na sociedade ameaçada pela doença, pode ser reelaborado puramente como questão funcional e temporária, pode ser sentido, sofrido ou contrastado, até a objeções de consciência que podem beirar o código penal.
Mas não se pode dizer que essa alternativa seca (aberto/fechado) não possa deixar espaço para razoáveis, mesmo que não evidentes, mediações. Penso que seja oportuno esclarecer, em primeiro lugar, que não é justo propor soluções "discricionárias". Quando digo "discricionais", quero dizer soluções que atribuem aos indivíduos envolvidos uma ampla margem de manobra, que, por não ser controlável, colocaria em risco a sua saúde e a dos outros.
Na reflexão que se desenvolveu atualmente, no debate da mídia, ficou claro que passar das "igrejas fechadas" para as "igrejas abertas", mesmo que sem as celebrações, não resolve os problemas. Porque o local de culto, quando tornado acessível aos fiéis, por mais contingentes ou controlados, se torna potencialmente um local de contágio, mesmo que as pessoas observem 2, 3, 4 ou 5 metros de distância entre si. E então?
Hoje li um belo texto que Michele Nicoletti publicou no Facebook intitulado "Ontologia da distância". Lembra, com extrema lucidez, que a união e a intimidade de que precisamos com o próximo e com Deus também vivem das distâncias necessárias. A leitura desse texto me convenceu de que seria possível, simbolicamente, especialmente em Roma, ou talvez também em outros lugares nas várias dioceses, uma abertura específica de algumas igrejas, que garantiria a distância máxima.
Seria uma questão de manter algumas igrejas abertas, mas vazias de fiéis: essa abertura inacessível ou fechamento com portas abertas teria o sentido de deixar em jogo, no horizonte da clausura citadina, uma passagem, um limiar, uma fenda, uma fissura.
Seria um símbolo frágil e forte, uma Igreja de pedras que não substitui a Igreja de carne que sofre, luta e ama. Precisamos de um símbolo gratuito e louco, mesmo aqui, mesmo agora. Um pouco como o que aconteceu nas últimas noites, em que os italianos cantavam nas varandas, algumas igrejas abertas em Roma, nas quais o acesso fosse proibido por segurança sanitária, mas que restassem paradoxalmente com as portas abertas, com o interior iluminado, talvez até musicalmente vívidas (talvez com a ajuda de um bom organista). Esse sinal teria um valor exemplar e teria sua própria força de resistência e antecipação. "Eu fico em casa" não vale para Deus: Deus nunca está em casa, ele está em toda parte por excelência.
Mas uma Domus Dei permanentemente fechada não fala dessa ubiquidade. Simplesmente não fala. Cala. Parece não ter nada a dizer. Obviamente, essa "operação de abertura simbólica" ainda precisaria de uma organização não casual, com a presença de forças da ordem para garantir a segurança. Por esse motivo, não poderia ser realizada, exceto em alguns poucos casos. Mas talvez pudesse fazer sentido assim, nessa sua forma necessariamente limitada, periférica, mas não marginal.
Seria irresponsável permitir o acesso a locais de culto como possibilidade de contágio sem controle, porque ninguém poderia garantir isso. No entanto, é possível garantir que a Igreja edificação, permanecendo inacessível aos fiéis, não permaneça fechada e se abra para a cidade. Não é uma cidade que se abre arriscadamente para a Igreja, mas uma igreja que se abre simbolicamente em uma cidade fechada.
Recentemente, fiquei sabendo que, quando seus grandes regentes morrem, a Orquestra do Teatro alla Scala executa a Marcha Funeral da 3ª sinfonia de Beethoven e o faz no teatro sem público e com as portas abertas. Foi o que aconteceu com C.M. Giulini e C. Abbado. É um belo sinal, forte e comovente. Nas contingências dessa crise de pandemia, é necessário um suplemento de alma para a Igreja católica italiana e romana.
Fechar as igrejas é uma medida de prudência civil, totalmente recomendável. Mas abrir uma exceção para poucas igrejas, deixando-as inacessíveis, mas com as portas abertas e as luzes acesas, permite à cidade, que está fechada, encontrar uma passagem, salvaguardar uma via de saída. Sem correr para si (ou deixar os outros correrem) o risco de sofrer contágio, nem o risco de perder contato. Uma ontologia da presença implica uma sabedoria das distâncias.
Mas uma ontologia da distância sabe que é um componente insuperável de toda verdadeira comunhão. Algumas igrejas abertas na cidade fechada são uma possibilidade prudente, mas talvez também uma provocação esperada e um sonho matutino, no qual todos podem entender a razão cheia de esperança e a força de uma fé que não é apenas religiosa.
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Clausura sanitária e abertura simbólica. Uma igreja aberta na cidade fechada? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU