04 Outubro 2018
Irmã Teresina Cheng foi convidada como ouvinte. A partir de sua experiência de trabalho em um escritório, decidiu dedicar sua vida à juventude da China, marcada pela solidão, pelo afastamento dos pais, pelas preocupações com o futuro. "Para os jovens chineses a palavra 'fé' é abstrata ... seus desejos mais verdadeiros e mais belos ficam quase enterrados em seus corações."
A entrevista é de Bernardo Cervellera, publicada por AsiaNews, 03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O nome dela é irmã Teresina Cheng, tem 30 anos e é uma das ouvintes do Sínodo sobre a juventude, que começou nesta quarta-feira. Ela era a única chinesa presente, até o momento em que foi anunciada a chegada de dois bispos da China.
A Irmã Teresina entrou em um convento de Hebei em 2004. Ainda não fez sua profissão perpétua, mas após uma experiência de trabalho em um escritório, uma coisa ficou clara para ela: quer dedicar sua vida a ajudar os jovens chineses, marcados pela solidão, pelo afastamento dos pais, pelas preocupações com o futuro. Eis a entrevista que ela concedeu à AsiaNews.
Irmã Teresina, como nasceu a sua vocação?
Comecei frequentando a igreja. Ouvindo o padre durante suas homilias, eu não entendia muito do que ele dizia, mas meu coração estava feliz. Então eu pensei: se eu me tornar uma freira terei a possibilidade de assistir à missa todos os dias. Com esse pensamento em mente, comecei a frequentar os grupos vocacionais. Assim em 2004 entrei na minha congregação. A vida comunitária me agradava muito. Mas como eu era muito jovem e não tinha cursado o ensino médio, minha congregação me convidou a frequentar a escola fora da comunidade. Depois de três anos voltei para o convento, mas percebi que eu não estava mais acostumada a viver em comunidade. Então solicitei para fazer uma experiência de trabalho fora do convento. Durante o período de trabalho, compartilhando a vida com os colegas, todos jovens, eu percebi o quanto esses jovens realmente precisam de ajuda. Eu disse a mim mesma que iria dedicar minha vida a ajudar os jovens. Depois de seis meses voltei para a comunidade e continuei o meu caminho até meus votos definitivos.
De que vivem os jovens chineses?
A sociedade de hoje parece ser menos segura e estável do que antes. Muitos jovens vivem com preocupação e com medo. Os pais trabalham ininterruptamente: muitos deles ficam longe de casa durante todo o ano para trabalha, e ignoram as reais necessidades das crianças. Sem a presença dos pais, o que mais ocupa as vidas dos jovens são os bens materiais, o dinheiro, as amizades na internet. Os jovens também sofrem grande pressão por causa do trabalho; entre eles há muita competição. O rápido desenvolvimento do mundo virtual faz com que muitos jovens se sintam dependentes da Internet: um mundo perfeito, onde se pode viver a vida que se quer, porém evitando enfrentar a verdadeira realidade, o verdadeiro eu. A internet torna-se um abrigo contra a solidão interior e da confusão da vida real.
No mundo todos querem harmonia social e paz. Os jovens chineses não são uma exceção, mas às vezes não parecem saber como alcançar esses objetivos. Muitas vezes, seguindo a multidão, seus desejos mais verdadeiros e mais belos quase ficam enterrados em seus corações, vagos, desconhecidos. Os jovens estão ansiosos para ter a companhia de adultos maduros, guias bons e autênticos; são muito criativos, capazes de assumir as próprias responsabilidades, incluindo sacrifícios. Os jovens querem ser tolerados, aceitos, incentivados e reconhecidos pela sociedade.
Como é vista a fé religiosa entre os jovens?
Para os jovens chineses, o termo "fé" é abstrato. Na melhor das hipóteses, sua fé é a que receberam de seus pais. Mas sua pessoal relação com Deus não é profunda. Na China, aliás, a percentagem de fiéis pertencentes à Igreja Católica é muito baixa. Por exemplo, nas universidades, os jovens católicos têm medo de revelarem-se como tais, por temor de serem considerados "estranhos" ou uma minoria. Dessa forma, porém, é difícil manter uma fé sólida, que corre o risco de enfraquecer. Certamente existem também os jovens interessados em vida cristã, e por sua iniciativa pedem para conhecer melhor a Igreja, o frequentar o catecumenato e participar das atividades nas paróquias. Uma coisa boa e reconfortante é que durante as férias alguns jovens convidam as freiras para participar e orientar seus retiros espirituais. Mas esses casos não são muito frequentes.
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Uma freira chinesa entre os jovens do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU