28 Setembro 2018
Provoca algumas questões a notícia da participação de dois bispos da República Popular da China no Sínodo dos Bispos sobre os jovens, que inicia na próxima semana. Divulgada pelos órgãos de imprensa, a informação tem como fonte uma comunicação feita por Wang Zuo'an, atual número dois da "Frente Unida", para representantes da Associação Patriótica dos Católicos Chineses e do Conselho de bispos chineses.
A notícia, se confirmada – a Sala de imprensa do Vaticano afirma não ter informações a respeito - poderia indicar uma mudança positiva na política de Pequim logo após do Acordo provisório, considerando que em ocasiões anteriores o governo havia negado o visto. Os bispos chineses foram convidados por João Paulo II ao Sínodo de 1998 e por Bento XVI àquele de 2005. Em ambos os casos, nada havia a fazer, assim como em outras ocasiões desde o Concílio Vaticano II.
A informação é publicada por AsiaNews 27-09-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe, no entanto, uma dúvida. A constituição episcopal Episcopalis communio do Papa Francisco sobre o Sínodo estabelece (Art. 2) que "Os Membros das Assembleias do Sínodo são aqueles previstos pelo cânon. 346 do CIC". O próprio Código de Direito Canônico, no cân. 346 - § 1 estabelece que os bispos participantes são eleitos pelas conferências episcopais ou têm o direito de participar em base às normas das próprias conferências (em geral são os presidentes) ou são nomeados diretamente pelo papa.
Nenhuma das possibilidades indicadas parece se adequar aos dois bispos chineses, inclusive porque o Conselho dos bispos chineses não é reconhecido pelo Vaticano, nem o poderia ser em sua atual composição. E não por uma questão nominal, mas porque a sua estrutura não é aquela de uma conferência episcopal: há bispos (os subterrâneos) que não fazem parte dela, enquanto os leigos também são admitidos.
É possível que mons. Camilleri, subsecretário das relações com os Estados, em seus encontros em Pequim para a assinatura do acordo com o governo chinês, tenha levado um convite papal. Mas o fato que a dar notícia da participação dos dois bispos no Sínodo seja um representante do governo e que nada tenha dito de um eventual convite de Francisco reforça a preocupação daqueles que temem que o acordo acabe sendo uma autorização ao governo para controlar e "guiar" a Igreja. Em qualquer caso, faltaria algum bispo representante da comunidade não oficial. Se estivesse presente, poderia ser um novo passo para a reconciliação dos católicos chineses.
Para reforçar as dúvidas, a identidade dos dois "escolhidos". Mons. João Batista Yang Xiaotin, estudou na Pontifícia Universidade Urbaniana e continuou seus estudos nos EUA. Nomeado bispo pelo Papa e aprovado pelo governo, ele é membro da Associação Patriótica e é um dos seus protagonistas. Em ocasiões públicas, ele glorificou o regime repetindo os slogans sobre a "independência" da Igreja. Mons. José Guo Jincai é um dos sete bispos excomungados e agora readmitidos na comunhão eclesial. Ele frequentou o seminário de Shijiazhuang, em Hebei. É o secretário geral do Conselho dos bispos chineses, um posto chave para o controle da Igreja por parte do regime. O papel é de fato confiado pelo Partido Comunista a uma pessoa de extrema confiança que trabalha publicamente como um funcionário do Estado, com seu posto, salário e posição política.
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Sínodoː perguntas sobre a participação de dois bispos chineses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU