21 Junho 2018
"Pode-se supor que Francisco está perguntando o que Jesus faria pelo bem da humanidade. Parece que Bannon, Burke e Salvini, adoradores de Trump, acham que sabem melhor", escreve Barbie Latza Nadeau, em comentário publicado por Daily Beast, 20-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Um trio de conservadores está agindo contra os esforços do pontífice em defender os direitos humanos e a igualdade - mesmo no Dia Mundial do Refugiado.
Soa quase como uma piada sem graça. Um ex-estrategista de Trump, um cardeal conservador com uma queda por roupas cerimoniais elegantes e um xenófobo de extrema-direita entram em um bar em Roma. Neste caso, o estrategista de Trump, Steve Bannon, o cardeal conservador americano, Raymond Burke, e o xenófobo, o novo Ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini. Não, eles não estão em um bar apenas conversando, e sim conspirando contra o Papa Francisco a respeito da imigração.
Não é segredo que a primeira viagem apostólica de Francisco à ilha italiana de Lampedusa foi em apoio às centenas de milhares de imigrantes, e à política de fronteiras abertas. Ele celebrou missas na fronteira mexicana com os Estados Unidos e alertou líderes mundiais a priorizarem a aceitação dos migrantes, devido a suas preocupações em manter a segurança nacional e evitar discriminação, racismo, nacionalismo extremo e xenofobia.
Em uma série de declarações antes do Dia Mundial do Refugiado, na quarta-feira, Francisco pediu integração e aceitação, e não fronteiras fechadas. “Espero que os estados envolvidos nesses processos cheguem a um entendimento para assegurar, com responsabilidade e humanidade, a assistência e a proteção daqueles que são forçados a fugir de seu próprio país”, disse ele em uma de suas mensagens para marcar a ocasião.
As palavras do Papa foram rechaçadas por muitos políticos e provocaram indignação de Bannon, Burke e Salvini. Bannon disse à ABC News nesta semana que a Igreja Católica era "um dos piores instigadores dessa política de fronteiras abertas", destacando Francisco como a principal razão para a crise migratória na Europa (que começou muito antes de Francisco ser eleito em 2013). Bannon, que proclama sua própria fé católica, disse anteriormente que a Igreja Católica precisa apenas de "estrangeiros ilegais" para preencher seus bancos.
Bannon estava em Roma no início de junho para celebrar o novo governo populista da Itália, dirigido por Salvini, o líder do Movimento das Cinco Estrelas, Luigi Di Maio, e seu previamente desconhecido fantoche, o primeiro-ministro Giuseppe Conte. O cardeal também fez uma viagem ao mosteiro de Trisulti. É uma joia imobiliária de 800 anos, a poucas horas de Roma, sendo desenvolvida por Benjamin Harnwell, um católico conservador britânico ligado ao UKIP, partido que construiu sua reputação como um bastião do pensamento de direita.
Harnwell e sua organização são uma conexão importante entre Bannon e Burke. Foi ele quem reuniu os dois pela primeira vez, de acordo com um artigo do New York Times exibido no site de Harnwell. Em uma das conferências de Harnwell em 2014, por meio de um link de vídeo, Bannon alertou que o êxodo migratório levaria a um aumento do populismo.
Burke realizou uma campanha pela diminuição dos poderes papais. Ele é um dos principais detratores do Papa, questionando abertamente a capacidade de Francisco em dirigir a Igreja. Abertamente também, se dirigiu ao Islã como uma ameaça ao apoiar controles de fronteira mais rígidos, desafiando diretamente seu chefe, o Papa. Ele também é um defensor do presidente americano Donald Trump, a quem o Papa chamou de não cristão por querer construir seu muro na divisa com o México.
O cardeal tem cultivado um relacionamento com Salvini, que o visitou esta semana em Roma. Os dois já haviam se encontrado inúmeras vezes por causa da aversão compartilhada ao atual pontífice.
Salvini fechou os portos italianos para navios de resgate de caridade no início deste mês, enviando mais de 600 pessoas em alto mar para a Espanha. Agora, ele declarou guerra aos povos nômades ciganos, pedindo uma pesquisa física dos acampamentos ciganos para criar um censo, do qual ele fará uma lista de pessoas a serem deportadas.
"Os estrangeiros irregulares serão deportados por meio de acordos com outros países", disse ele a uma emissora de televisão italiana nesta semana.
Não é segredo que Bannon tem sido um grande fã das políticas de Salvini, as chamando de “exemplo” para o resto do mundo. As ações de Salvini também aumentaram sua popularidade em casa.
Uma pesquisa recente mostrou que seu partido tinha 2,2 pontos percentuais a mais do que quando seu governo de coalizão foi inaugurado em 1º de junho. O Movimento Cinco Estrelas, da coalizão, perdeu 2,5 pontos na mesma pesquisa, em parte, por conta de sua base não concordar com a linha dura de migração.
Francisco também não está de acordo, embora esteja perdendo, tanto na Itália, quanto no exterior. Ele tem sido preciso ao falar sobre os direitos dos migrantes nos últimos dias, tanto no que diz respeito ao fechamento de portos italianos, quanto a separação de crianças de suas famílias, na fronteira dos Estados Unidos com o México. "Eu gostaria de salientar que a questão da migração não é simplesmente de números, mas de pessoas. Cada uma com sua própria história, cultura, sentimentos e aspirações", disse Francisco. “Essas pessoas, nossos irmãos e irmãs, precisam de proteção contínua, independentemente de qualquer status de migrante que possam ter.”
Paolo Gentiloni, ex-centro-esquerda da Itália, acusou Salvini de seguir o modelo norte-americano muito de perto, twittando um sentimento que muitos moderados temem: "Ontem os refugiados, hoje Roma, amanhã armas para todos".
Pode-se supor que Francisco está perguntando o que Jesus faria pelo bem da humanidade. Parece que Bannon, Burke e Salvini, adoradores de Trump, acham que sabem melhor.
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Steve Bannon, cardeal Burke, ministro Salvini e o complô para derrubar o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU