29 Setembro 2017
Amadoul quer se tornar um pizzaiolo: "É o desejo de uma vida". Berete estudou para ser eletricista, mas se sustenta sendo cozinheiro: "Graças a Deus, tenho um contrato por tempo indeterminado". Yankuba acabou de se formar no ensino médio, "Consegui nota 70, não foi ruim não, poderia ser pior ...", ele jogava futebol e sonha se formar em biologia. São os três rapazes, pouco mais de vinte anos, oriundos da África, protagonistas junto com outros colegas e compatriotas da campanha da Cáritas Internacional "Compartilhe a Viagem", lançada nesta última quarta-feira pelo Papa durante a audiência geral.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa, 27-09-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Justamente o Papa encontrou-os na praça de São Pedro e, colocando a mão em seus ombros, dirigiu-lhes palavras de encorajamento: "Continuem com coragem, porque às vezes é uma luta. Aqui, vocês são bem-vindos". Atordoados pela emoção, Amadoul, Berete e Yankuba mal conseguiram responder um "obrigado".
Vindos do Senegal, Guiné e Gâmbia, os três jovens têm idades e histórias diferentes, mas seguem um triste script muito parecido: a falta de oportunidades nos países de origem, a viagem tentando a sorte em um barco a partir da costa líbia infestada por contrabandistas, o "renascimento" na Itália, onde, graças ao trabalho da Cáritas, estão se integrando através do trabalho e dos estudos. Segmentos da vida que os garotos quiseram compartilhar com os jornalistas na Sala de Imprensa do Vaticano, à margem da conferência de apresentação da iniciativa que visa precisamente quebrar as barreiras de rejeição e da indiferença e promover o acolhimento de migrantes e refugiados através do compartilhamento de suas experiências.
A história mais dramática é carregada sobre os ombros de Yankuba, da Gâmbia, que tem 21 anos, mas parece bem mais velho. Ao Vatican Insider conta ter sido sequestrado, com pouco mais de dezesseis anos, durante uma viagem de carro da Mauritânia para a Líbia. Vendido para os traficantes ficou preso por cerca de três semanas em uma prisão em Bahe, junto com outros três rapazes, mais ou menos a mesma idade, forçados a levar chutes e socos todas as manhãs e ligar várias vezes por dia para os pais, para que enviassem dinheiro para libertá-los. "Uma noite, enquanto os nossos captores estavam bêbados, aproveitamos a oportunidade para fugir. Nós nos separamos, eu não sei o que aconteceu com os outros. Eu tinha apenas uma escolha: voltar para o horror ou escapar por mar. E escolhi o mar".
Yankuba é um dos 170.000 migrantes que chegaram à costa italiana em 2014, um dos 270.000 desembarcados na Europa. Daquela travessia, que demorou quase dois dias, ele só tem vagas lembranças; agora, seus pensamentos são outros. Como a namorada, que liga ao celular toda hora. É italiana? "Sim. Na verdade, eu também me sinto mais italiano do que gambiano", ele responde.
O jovem vive em Benevento há quatro anos, hóspede de uma família. "Eu tinha 17 anos quando cheguei. Inicialmente foi acolhido em um Centro para menores, depois me mudei para uma estrutura da Cáritas em Roccabasceana, graças à rede Sprar (Sistema de Proteção para Requisitantes de Asilo e Refugiados)" que lhe possibilitou continuar seus estudos que estavam inacabados: "Eu não queria parar, pedi ajuda e encontrei. Este ano eu consegui o certificado do segundo grau".
Seu objetivo hoje é ir para a universidade e estudar para ser biólogo, seguindo a paixão transmitida por seus tios médicos "que me criaram e pagaram por meus estudos, porque meu pai tinha várias esposas e minha mãe sozinha precisava cuidar de oito filhos”. O jovem de 21 anos diz que sempre se sentiu acolhido na Itália, embora não tenham faltado episódios de bullying por parte dos colegas do time de futebol com quem ele treinava. "Eles me falavam coisas do tipo: ‘Fica calado, tu é um negro’ ou ‘volta para o teu país’. Foi também um pouco por isso que larguei o futebol". Em geral, porém, Yankuba encontrou aqui amigos e uma "família".
E encontrou o Papa, nessa manhã, que apertou sua mão. Uma figura que, para ele que é muçulmano, sempre o fascinou: "Acompanho todos os seus discursos, as suas viagens, e as suas iniciativas. Ele é tão marcante porque é "um trabalhador da humanidade". Em que sentido? “No sentido de que a ele não interessa o cristão ou o muçulmano, mas a pessoa humana. Se tem alguém que está sofrendo, alguém que precisa, ele intervém”.
Berete, 24, da Guiné, é católico, mas do encontro com o Papa não lembra nada: "Eu estava com o Papa Francisco diante do nariz, ele nos falou alguma coisa, mas eu estava tão emocionado que eu só me dei conta quando ele já estava indo embora”. A história de sua chegada na Itália é diferente: por trás dela, nenhuma violência, nenhuma guerra, nem pobreza, mas uma escolha imposta. "Eu estudei em uma escola francesa como eletricista e lá por 2009 decidi, ainda adolescente, me mudar para continuar meus estudos. A África do Sul e a Líbia oferecem uma formação avançada para essa profissão; seguindo o conselho de minha mãe, que me pedia para ficar ‘mais perto de casa’, eu escolhi a Líbia".
Mas, depois de um ano e seis meses, algo mudou: "No início, foram apenas avisos para todos os estrangeiros: ‘Vocês têm que sair’ e coisas assim. Eu pensei que fosse algo passageiro, então tranquei por um período meu curso. Mas em determinado momento todas as fronteiras foram fechadas, e eu não podia mais voltar para casa. O exército do governo reuniu todos nós imigrantes e colocou-nos diante de uma encruzilhada: ou vocês se alistam conosco ou vocês saem".
Berete então festejou seus 18 anos fora de seu país. Chegando de Trípoli para Lampedusa em um bote, junto com outras 349 pessoas e com um GPS mal funcionando, mudou-se para Nápoles antes de se estabelecer em Aversa, na província de Caserta, em uma dependência da Cáritas. Graças aos voluntários e operadores matriculou-se nos cursos noturnos para aprender o idioma e terminou seus estudos. "Quase imediatamente comecei a trabalhar. Agora tenho um contrato por tempo indeterminado como cozinheiro em um restaurante". Dos circuitos elétricos aos fogões, portanto: "Estou feliz", diz ele, "e agradeço ao Papa e à Cáritas pelas oportunidades que me deram. Naturalmente também agradeço à Itália porque me ensinou uma coisa: a esperança".
O mais jovem do grupo na Sala de Imprensa, com seus 20 anos, é Amadoul, do Senegal. Tímido o ponto de gaguejar mesmo nas respostas mais simples, comove-se quando relata ao Vatican Insider sobre esses "bons amigos" que o apóiam no projeto de se tornar um pizzaiolo e na integração "com pessoas de idioma e cultura diferentes". Filho mais velhos de uma família de sete irmãos (o último tem 6 anos), Amadoul conta: "Com a morte repentina de meu pai, tive que assumiu a responsabilidade de ajudar financeiramente a minha família". Mas, no Senegal, onde se vive principalmente de agricultura, nem tanto para ganhar dinheiro, mas para ter algo para colocar sob os dentes, um propósito desses não é fácil de realizar. Então, ele se mudou para a Itália: "Uma viagem dolorosa e difícil", ele conta, "corri muitos riscos, ao longo da estrada se encontra de tudo. Fui assaltado várias vezes, e não faltaram violências. Agora estou aqui, e posso ajudar a minha família e acredito que estou fazendo algo de bom para o futuro".
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Pobreza e violência, depois o "renascimento" na Itália, graças ao Papa: a história de três jovens migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU