A esterilidade pode mudar. Comentário de Ana Casarotti

Foto: canva

21 Março 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de Lucas 13,1-9 que corresponde ao 3° Domingo da Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. Jesus lhes respondeu: "Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo". E Jesus contou esta parábola: "Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. Então disse ao vinhateiro: 'Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?' Ele, porém, respondeu: 'Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás".

Estamos no período da Quaresma, que convida a nos preparar para a celebração da morte e ressurreição de Jesus. Durante muito tempo, a Quaresma foi entendida e vivida como um período em que o denominador comum era o sacrifício, a impossibilidade de celebrar a vida, a necessidade de manter uma certa reserva, pelo menos aos olhos da sociedade. A Quaresma, vivida apenas como um espaço de renúncia, abnegação, sofrimento, fragmenta o mistério da Páscoa e se concentra em um Jesus crucificado, destacando seu sofrimento, seu sangue, sua dor, entendendo assim mal o profundo significado de sua morte e o mistério do qual ele nos convida a participar. A Quaresma não enfatiza o sacrifício como uma meta a ser alcançada. Se assim fosse, muitas pessoas em nossas sociedades vivem uma “Quaresma continua” e carregariam cruzes pesadas desde o momento de seu nascimento.

Enfatizar o sacrifício por si só tem uma cota de satisfação pessoal que não tem nada a ver com a Quaresma, mas se assemelha ao fariseu que vai ao Templo para orar e agradecer por “não ser como os outros homens”, listando seus jejuns, orações e dízimos (cf. Lc 18, 9-14). Neste período, somos convidados a nos preparar para viver a Semana Santa e acolher Jesus e sua mensagem com um coração renovado.

Como disse o Papa Francisco: “Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7) [...]. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37).

O Evangelho deste domingo nos fala da necessidade de conversão, de mudança, de transformação interior, trazendo-nos a parábola de uma figueira que não dava frutos e estava ameaçada de ser cortada. Na Palestina, era comum plantar árvores frutíferas em vinhedos, que eram como pomares. De acordo com Levítico, quando uma árvore frutífera é plantada, o fruto não pode ser cortado nos primeiros três anos (Lv 19,23-25); no quarto ano, o fruto é oferecido ao Senhor. Em nossa parábola, a figueira já faz três anos que o proprietário está procurando frutos e não os encontra, ou seja, não produz frutos há sete anos! A decisão de cortá-la é quase óbvia: ela não produz e desperdiça a terra. Mas a figura do jardineiro do mercado aparece e pede mais um ano para fazer algo novo: “Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar frutos”.

Jesus não olha para a nossa vida e a de nossas comunidades para condená-las porque não deram frutos, mas, como o jardineiro, ele nos oferece esse tempo para renovar nosso solo, para fertilizá-lo para que dê frutos. Ele não corta a figueira porque ela está sendo improdutiva, mas procura novas estratégias para fazê-la dar frutos. Na parábola, o jardineiro intercede junto ao proprietário da terra pedindo mais tempo.

A sugestão de “cavar na volta dela e colocar adubo” é algo novo, desconhecido no Antigo Testamento. Ela introduz a novidade que Jesus traz, renovada em cada momento de nossa vida, especialmente neste período da Quaresma. Não existe “uma única conversão” ou “uma melhor maneira de viver a Quaresma”, pois cada solo é original e único. A maneira de cavar e fertilizar o solo responde ao vínculo estreito entre a figueira e a terra. Cavar o solo significa cavar, cavar e colocar o fertilizante necessário para que a figueira plantada naquele solo dê muitos frutos. Não se trata de um ato mágico e, na mesma parábola, o jardineiro pede essa extensão sem ter plena certeza de seu sucesso. O jardineiro, com sábia paciência, fará essa tarefa de cavar e adubar em um solo que anteriormente foi colocado em suas mãos, que foi deixado à sua disposição.

Com essa parábola, o Senhor nos convida à conversão, a revolver nosso solo, a renová-lo com um novo ar, a fertilizá-lo. Isso pode ter diferentes expressões em cada pessoa. Neste domingo somos convidados a deixar que sua Palavra, seu Espírito cave em nosso solo, removendo aquilo que o impede dar frutos. Ele trabalha em nós e aguarda com infinita paciência que nosso solo seja fecundo para que a figueira tenha figos. Esta é a conversão que o Senhor deseja para cada pessoa. Ele é misericordioso e não está aguardando um sacrifício, o um grande sofrimento, pelo contrário, Ele procura que deixemos nossa terra nas suas mãos para que ele possa cavar ao redor dela e colocar adubo para que dê muito fruto.

Mas o Senhor não trabalha sozinho, ele precisa de cada um e cada uma de nós para cavar e adubar a terra. Por isso nos convida a ter sua mirada sobre cada “figueira” e nos chama a cavar e adubar como ele o faz; dar ânimo a quem está sem esperança, e trabalhar juntos para contribuir na fecundidade da figueira.

Fazemos nossas as palavras de Francisco: “A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados” (cf. Fratelli tutti, 193). “Não nos cansemos de fazer o bem”, convida o Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma


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