21 Junho 2021
Com mestrado em História, o jovem, que representou a França no pré-sínodo dos jovens de 2018, segue sua trajetória de convertido. Amante de Cristo e do Evangelho, ele acredita na ação solidária para mudar o mundo.
A entrevista é de Alexia Vidot, publicada por La Vie, 11-06-2021. A tradução é de André Langer.
Tenho orgulho das minhas origens popular e proletária. Do lado da minha mãe, meus bisavós eram todos trabalhadores em usinas siderúrgicas e fábricas têxteis na Picardia e Nord-Pas-de-Calais, e meus avós, professores – os dois polos históricos da esquerda! Além disso, havia entre eles dois prefeitos comunistas obstinados, incluindo meu avô, um professor de história e de geografia nas horas vagas.
Eu o vejo confiar a mim uma noite, com a voz embargada: “Lembre-se sempre de que não há nada pior do que a guerra”. É graças a ele que me interessei, desde a adolescência, pelos acontecimentos da Resistência. Esse interesse tornou-se uma paixão quando me deparei com dois documentários veiculados na televisão em 2008: La Résistance. Vivre libre ou mourir e Quand Il fallait sauver les juifs.
A coerência de vida dessas pessoas comuns dispostas a dar suas vidas por um ideal me surpreendeu. Devo ter assistido à passagem da fuga de Vénissieux cerca de cinquenta vezes: esses 600 homens, mulheres e crianças que conseguiram escapar graças à coragem de vários padres filiados à rede Témoignage Chrétien. Que exemplo!
Numa manhã de domingo do mesmo ano de 2008, durante o intervalo comercial da [cadeia televisiva esportiva] Téléfoot, eu inadvertidamente pulei para uma missa televisionada. Em apenas alguns minutos, fiquei impressionado com a beleza das músicas e o sentido do sagrado. Disse a mim mesmo: as respostas às minhas perguntas existenciais, a esses “porquês” que sempre me fizeram mergulhar em profunda angústia, encontram-se talvez no cristianismo.
No processo, comprei uma Bíblia, que fechei quase imediatamente: tive a péssima ideia de começar pelo início, mas o livro do Gênesis é chinês para um adolescente de 12 anos! Em setembro de 2008, o Papa Bento XVI foi a Lourdes. Por curiosidade, participei da missa televisionada e, novamente, a beleza da liturgia me tocou e me apaziguou.
Queria muito ver o que era uma missa de verdade! A ocasião se apresentou no Dia de Todos os Santos. As Bem-aventuranças... sempre me lembrarei da primeira vez que ouvi este Evangelho da felicidade prometido desde aqui na terra, apesar da miséria, das lágrimas e da injustiça. Ser cristão, então era isso: progredir no caminho da alegria?
Peguei minha Bíblia novamente e, quando a abri no final, encontrei a Epístola de São Paulo aos Romanos. Os capítulos 7 e 8 me impressionaram: “Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” Não, nada pode nos separar deste amor que transforma nossas fraquezas em forças para que nos tornemos, cada dia um pouco mais, quem realmente somos.
Naquele dia, no meu quarto, não li um livro, mas encontrei alguém. Uma pessoa que eu tinha um desejo louco de conhecer. O encontro com Cristo não é a adesão a um dogma, a uma ideologia ou a uma moral. É a descoberta amorosa do Deus vivo feito homem, e nada menos!
Mas para o pré-adolescente não batizado que eu era, um pouco solitário e não muito confiante, não era fácil empurrar a porta de uma igreja. Principalmente porque eu tinha dois ou três clichês sobre a instituição – a Inquisição, as cruzadas, os padres pedófilos etc. –, e relutâncias em colocar os pés em um grupo social tão distante do meu.
Sejamos honestos: em muitas paróquias existe uma certa endogamia burguesa, até aristocrática. Isso não é uma crítica, mas uma constatação! A Ação Católica não foi criada à toa... E então a pouca alegria que via no rosto de tantos cristãos me impediu de ir mais longe.
“Seria preciso entoarem melhores cânticos para eu crer no seu Salvador; seria preciso que os seus discípulos tivessem mais aparência de redimidos”, escreveu Nietzsche. Uma catedral não é um parlamento!
Apesar de tudo, um dia, porque a atração era mais forte do que as minhas reservas, resolvi cruzar a soleira da igreja de Amiens para a missa das 9 horas. Adquiri o hábito de ir lá todas as manhãs, em segredo. Quem não é visto não é conhecido. Não entendi muito, mas tive a convicção de vir beber na fonte. Eu tinha que correr, em seguida, para chegar a tempo na escola!
Naquela época, eu participava do Concurso Nacional da Resistência e da Deportação. Para escrever a memória, íamos visitar locais da repressão e encontrar ex-deportados. Aos 16 anos, você ouve a deportada Micheline Foré dizer-lhe “Eu tinha 16 anos em Ravensbrück”, nascem em você o ódio à injustiça – que é uma forma de amor –, e a vontade de se comprometer, de se doar.
O mesmo acontece quando você leu a última carta que Henri Fertet, um católico de 16 anos condenado à morte por atos de resistência, dirigiu à sua mãe. Ele a exortou demoradamente a manter a coragem, explicou-lhe sua visão da França, seu ideal. Imagino-o escrevendo aquelas palavras heroicas, levantando-se e acrescentando este pós-escrito: “Ainda é difícil morrer”.
Essa força de alma e de coração, eu a encontrei em três figuras do cristianismo do século XX: a deportada voluntária Etty Hillesum, os resistentes alemães Hans e Sophie Scholl e a ativista americana Dorothy Day. Seus escritos me marcaram profundamente e para sempre. Levado pelo testemunho desses anciãos na fé e na ação, não pude mais voltar atrás.
Chega de falsas desculpas: tive que pedir o batismo sem demora. O que fiz assim que entrei na faculdade de História. Depois de um ano e meio de catecumenato, me tornei filho de Deus e irmão de Jesus em 4 de abril de 2015, exatamente às 22h30. Lágrimas de alegria!
Não queria parar por aí, porque a verdadeira conversão é um caminho, ela acontece todas as manhãs. Já não acredito na Grande Noite: a verdadeira revolução se dá todas as noites! É por isso que o Evangelho é tão exigente. Só pode ser vivido até o fim, isto é, radicalmente.
Depois do meu batismo, parti em peregrinação à Terra Santa para aprofundar a minha fé aí onde Cristo deu a sua vida por todos os homens. Descobri pela primeira vez a Igreja universal. Descoberta comovente, e que o foi ainda mais na Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, em 2016.
Durante duas semanas, experimentei a imensa felicidade, diria mesmo o milagre, da fraternidade. Desta amizade, desta unidade que perpassa todas as diferenças, e que já vivi na pastoral com pessoas às vezes contrárias à minha visão política do mundo.
A sociedade capitalista, com sua filosofia do “sempre mais”, com sua busca constante do entretenimento, é criminosa quando desvia os jovens da única ascensão que vale a pena: amar sempre melhor e ser melhores artífices da paz.
Este fogo de amor queimava em mim e me incitava a agir. Claro, a oração é essencial, mas o cristão não pode se limitar a isso! Ele não tem o direito de ser um receptor passivo da missa. É uma questão de coerência. Com Dorothy Day, me perguntava: “onde estão os santos que iam tentar mudar a ordem social”.
Minhas ideias sobre a condição dos trabalhadores e dos desesperados me levaram para a esquerda e achei difícil encontrar meu lugar em uma Igreja relativamente de direita. Então, certo dia, um animador do Movimento Rural da Juventude Cristã (MRJC) veio dar um oi! na nossa igreja.
Encontrei-me neste ramo da Ação Católica, no desejo de dar vida ao programa social da Igreja e de lutar contra o dinheiro rei, de modo que rapidamente me associei a ele. Minhas poucas responsabilidades locais levaram então a um compromisso nacional dentro da rede de capelanias estudantis: o campus Ecclesia.
E isso me permitiu participar do Pré-Sínodo da Juventude, em 2018, e depois do Fórum Internacional da Juventude, um ano depois, também em Roma. Duas experiências extremamente intensas. Embora eu seja católico e de esquerda, não gosto de ser rotulado de “católico de esquerda”. Porque então fico preso entre os crentes que me censuram por minhas convicções políticas e os caras da extrema esquerda para os quais nada represento, e o diálogo se torna impossível.
No entanto, tenho um mantra: unir em vez de dividir vivendo plenamente as diferenças entre todos. Não é chegado o momento de voltar ao radicalismo revolucionário do Evangelho e de abandonar as fortalezas que construímos uns contra os outros?
1995 – Nasce em Amiens (80).
2008 – Começa um caminho de conversão.
2010 – Participa do Concurso Nacional da Resistência e da Deportação.
2015 – Recebe o batismo na Páscoa e depois se compromete com o Movimento Rural da Juventude Cristã (MRJC).
2018 – Diplomado com um mestrado em história da guerra pela Universidade de Amiens.
2018 – É um dos jovens delegados franceses no pré-Sínodo dos jovens, em Roma.
2020 – Publica Dieu n'est pas mort en enfer, Édition Salvator (Deus não morreu no inferno) e torna-se um animador do Secours Catholique.
2021 – Publica Les derniers seront les premiers et vice versa, Éditions Première Partie (Os últimos serão os primeiros e vice-versa).
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“A verdadeira conversão se faz todas as manhãs”. Entrevista com Adrien Louandre - Instituto Humanitas Unisinos - IHU