21 Mai 2024
Para concluir a “Arena de Paz”, o Papa toma emprestadas as palavras de Dom Tonino Bello. "De pé, pacificadores." E as 12.500 pessoas que lotaram o anfiteatro romano em Verona efetivamente se levantaram num aplauso interminável.
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 19-05-2024. Tradução de Luisa Rabolini.
Justiça e paz realmente se beijaram, como dizia o título, na manhã de sábado no evento de sugestões e palavras, depoimentos, perguntas e respostas que foi mais parecido com um show. Com Francisco atuando como solista mais de uma vez para lembrar ao mundo que “a paz é feita com os pés, as mãos e os olhos dos povos envolvidos" e "nunca será fruto de desconfiança, dos muros, das armas apontadas uns contra os outros." Daí o seu apelo: “Não semeemos morte, destruição, medo. Vamos semear esperança! Isso é o que vocês também estão fazendo nesta Arena de paz. Não parem. Não desanimem."
Mensagem simples e poderosa ao mesmo tempo. À qual somam-se gestos como o abraço no palco e diante do Papa dos dois empreendedores, um israelense, o outro palestino, ambos atingidos nos afetos familiares pela guerra em curso. De forma que tudo se torna um não à guerra e um sim à comunidade. Não à ditadura e à exploração dos fracos, sim à democracia e à participação. Não à cultura da indiferença, sim, de se colocar ao lado dos mais fracos. “Estou cada vez mais convencido de que o futuro da humanidade não está apenas nas mãos dos grandes líderes, das grandes potências e das elites. Está principalmente nas mãos dos povos – sublinha o Pontífice –. Peçam aos líderes mundiais para ouvirem a sua voz, para envolver vocês nos processos de negociação, para que os acordos nasçam da realidade e não das ideologias.
“Hoje o Prêmio Nobel que poderia ser dado a muitos é o Prêmio Nobel de Pôncio Pilatos, porque somos mestres em lavar as mãos", afirma Francisco em um dos trechos mais significativos de sua fala de improviso. Depois critica a “cultura fortemente marcada pelo individualismo", que corre sempre o risco de "fazer desaparecer a dimensão da comunidade e dos vínculos vitais que nos sustentam e nos fazem avançar. E isso em termos políticos é a raiz das ditaduras" explica o Bispo de Roma.
“Se a ideia que temos do líder – salienta então – é a de um solitário, acima de todos os outros, chamado a decidir e agir em nosso nome e em nosso favor, então estamos assumindo uma visão empobrecida e empobrecedora, que acaba por secar as energias criativas de quem é líder e tornar estéril toda a comunidade e a sociedade”. A democracia é participação. E esse sentimento deve ser despertado especialmente nos jovens. A paz, porém, também deve ser promovida. “Para pôr fim a todas as formas de guerra e violência, é preciso estar ao lado dos pequenos, respeitar a sua dignidade, ouvi-los e garantir que a sua voz possa ser ouvida sem ser filtrada”, acrescenta o Papa. “É o Evangelho que nos diz para nos colocarmos do lado dos pequenos, dos fracos e dos esquecidos. É Jesus com o gesto do lava-pés quem subverte as hierarquias convencionais. Com suas ações rompe convenções e preconceitos, torna visíveis as pessoas que a sociedade do seu tempo escondia ou desprezava, e faz isso sem instrumentalizá-las, sem privá-las da sua voz, da sua história”. Uma conversão também é exigida de nós hoje.
Isso significa que a paz deve ser cuidada. Francisco voltou a denunciar a sociedade que esconde os idosos e o comércio das armas que produz lucros e fomenta as guerras. Depois alertou contra a sociedade da pressa. “Deveríamos ter mais tempo disponível, mas em vez disso percebemos que estamos sempre apressados, sempre correndo atrás da urgência do último minuto. Segundo Francisco, desacelerar pode soar como uma palavra fora de lugar, mas na realidade é um convite a recalibrar as nossas expectativas e as nossas ações, adotando um horizonte de “diálogo”. Atenção, no entanto. “A ausência de conflito, de fato, não significa que haja paz, mas que se deixou de viver, de pensar, de se empenhar por aquilo em que se acredita”. Ignorar os conflitos é perigoso. Existe o risco de aumentar as injustiças e gerar reações de desconforto e frustração, que também podem se traduzir em gestos violentos”. Nem deve prevalecer um dos polos em jogo. “Isso é um suicídio, porque reduz a pluralidade de posições a uma única perspectiva. Busca-se a uniformidade em vez da unidade, há um medo injustificado da pluralidade e, psicologicamente, aquela sociedade se suicida." O caminho para a paz segue outras lógicas. Diálogo e fraternidade acima de tudo.
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Convite de Francisco: construtores de paz semeiem a esperança - Instituto Humanitas Unisinos - IHU