22 Março 2019
"Moisés se aproximou da sarça ardente. Paulo tenta aproximar a comunidade dos coríntios do exemplo dos antepassados. Jesus tenta aproximar os seus discípulos de uma interpretação correta dos acontecimentos trágicos da vida à luz da experiência da chegada do Reino de Deus.
Com a aproximação da Páscoa, estamos vivendo um tempo favorável para uma mudança de vida, para uma reorientação da nossa conduta fundamentada nas exigências do evangelho de Jesus. Precisamos dar frutos de conversão".
A reflexão é de Luciene Lima Gonçalves, nj, religiosa do Instituto Nova Jerusalém. Ela é mestranda em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. Possui graduação em Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007) e é especialista em estudos bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza - FCF (2015). Atuou como professora de Teologia Bíblica na Faculdade Diocesana de Mossoró - FDM.
Referências bíblicas
1ª Leitura: Ex 3,1- 8a.13-15
Salmo: Sl 102 1-4.8.11
2ª Leitura: I Cor 10,1-6.10-12
Evangelho: Lc,13,1-9
No episódio da sarça ardente (Ex 3,1- 8a.13-15), Moisés é atraído por um fenômeno estranho. Sua curiosidade o conduz a observar mais de perto o que está acontecendo, quando, então, é interpelado por Deus, orientado a retirar as sandálias para pisar nesse lugar santo, a preparar-se para uma experiência única. Para viver tal experiência, era preciso que seus pés tocassem o solo sagrado. As sandálias poderiam impedi-lo de sentir mais profundamente esse momento.
Moisés está mergulhado em suas atividades cotidianas quando tem esse encontro com Deus. Poderia ser um encontro casual, no entanto Ele vem ao encontro de Moisés com o propósito de chamá-lo a ser o guia de seu povo rumo à libertação, para livrá-lo da escravidão no Egito.
O Deus de Abraão, Isaac e Jacó tem uma ligação forte com esse povo. Preocupa-se com ele, sente suas dores, vê seu sofrimento. Oferece Seu nome a Moisés como carta de apresentação de sua missão. Moisés deve falar aos filhos de Israel em nome do Deus de seus pais, que não lhes é indiferente, que deseja construir com eles uma relação de amizade e de confiança, uma aliança.
Com o Salmo 102 1-4.8.11 respondemos a leitura bendizendo ao Senhor por sua bondade e compaixão diante de nossas fraquezas.
2ª Leitura:
No trecho da Carta aos Coríntios (I Cor 10,1-6.10-12) Paulo utiliza as Escrituras para exortar a comunidade de Corinto a estar atenta aos sinais de Deus, a aprender com o exemplo dos antepassados.
Sabemos que embora a comunidade de Corinto tenha causado a Paulo muitas preocupações do ponto de vista pastoral, o apóstolo tinha um profundo amor pelos coríntios. Temos, no Novo Testamento, o registro de duas cartas que revelam a atenção e acompanhamento dado a essa comunidade que foi fundada por ele. Através do exemplo dos antigos, os coríntios são convidados a uma atitude de vigilância e atenção constante em relação à conduta cristã. Se o povo de Deus experimentou prodígios e milagres e foi incapaz de permanecer firme diante de Deus, do mesmo modo também devemos cuidar diariamente para não vacilar em nosso proceder.
Evangelho:
Se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo jeito (Lc 13,11).
No Evangelho de hoje (Lc,13,1-9) Jesus utiliza dois acontecimentos para exortar os seus discípulos sobre a urgência da conversão. Jesus ensina a seu grupo que a morte não é sinal de castigo e selo de infidelidade dos mortos. Ele se aproveita dessa situação para orientar os seus discípulos acerca da necessidade da conversão imediata.
No Evangelho de Lucas, esse trecho está inserido na segunda parte intitulada a viagem para Jerusalém. O discipulado em Lucas é visto como uma caminhada, na qual a formação se dá de maneira dinâmica em meio aos acontecimentos corriqueiros dessa grande viagem. Nesse percurso, os discípulos devem aprender com o Mestre a dar frutos. A parábola da figueira nos mostra que todo discípulo é chamado a produzir frutos. Não há tempo a perder nessa caminhada.
Pistas para a reflexão
Moisés se aproximou da sarça ardente. Paulo tenta aproximar a comunidade dos coríntios do exemplo dos antepassados. Jesus tenta aproximar os seus discípulos de uma interpretação correta dos acontecimentos trágicos da vida à luz da experiência da chegada do Reino de Deus.
Com a aproximação da Páscoa, estamos vivendo um tempo favorável para uma mudança de vida, para uma reorientação da nossa conduta fundamentada nas exigências do evangelho de Jesus. Precisamos dar frutos de conversão.
Não nos basta uma curiosidade a respeito do transcendente, é urgente uma experiência transformadora como a de Moisés. É urgente que, nós cristãos, assumamos o nosso papel no processo de libertação do nosso povo; assumamos a causa dos pobres, dos esquecidos e descartados de nossa sociedade (população em situação de rua, migrantes, índios, mulheres, LGBTQ+, negros etc).
Não basta condenar a infidelidade do povo de Israel na sua caminhada com Deus. É urgente e necessário que aprendamos com esses exemplos, para produzirmos frutos de vida e não de morte.
Não basta lermos os acontecimentos históricos à luz do evangelho, interpretar e discursar sobre a maneira correta de agir. É essencial que assumamos a dureza do evangelho e decidamos seguir Jesus rumo a Jerusalém para enfrentarmos as consequências da escolha pelos valores do Reino (Jo 13,1).
Não podemos nos confiar na nossa eleição e batismo e seguir, como o povo de Israel, sendo desobedientes à voz de Deus. Como cristãos, somos chamados, diariamente, a assumir a radicalidade do nosso seguimento a Cristo, para produzirmos frutos em todas as estações do ano.
Estamos vivendo o tempo da paciência de Deus para com nossos pecados. Quando nos damos conta do grande amor ofertado por nós em Jesus, não é mais possível adiar nossa conversão, pois o Senhor é bondoso e compassivo (Sl 102,8).
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3º domingo da Quaresma - Ano C - Aprender com o Mestre a dar frutos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU