17 Outubro 2018
"Sem confiança também correm o risco de não serem suficientes as demandas de reforma quanto ao ensinamento sobre o sexo, a demanda generalizada de uma revisão dos caminhos da iniciação cristã, assim como a leitura não prejudicial da difusão da rede entre as novas gerações. Aqueles jovens, que se tenta recuperar para a Igreja, poderiam decidir ficar de fora. Longe dos adros. E o que é pior, para sempre."
O comentário é do jornalista italiano Giovanni Panettiere, publicado em Quotidiano.net, 15-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Igreja precisa atualizar seu ensinamento sobre a sexualidade, envolver os jovens na reforma das estruturas eclesiais, estabelecer um novo ministério da escuta e, no plano do diálogo ecumênico, empenhar-se para que a Páscoa possa ser celebrada por cristãos de todas as denominações (católicos, ortodoxos e protestantes) no mesmo dia. Na espera do resultado do segundo turno do trabalho dentro dos grupos restritos do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens, essas são as principais propostas que emergem do relatório dos primeiros debates dentro dos 16 círculos menores em que são divididos, por língua de pertencimento, os 267 participantes da assembleia.
As trinta e duas páginas dos relatórios levam em conta o confronto na primeira parte do Instrumentum laboris, o esboço de trabalho da assembleia do qual surgirá o documento final. A reflexão se concentrou na condição atual das novas gerações. Garotos imersos em um mundo globalizado e secularizado (uma oportunidade mais que um mal para a maioria dos círculos), onde os adultos muitas vezes não servem como modelo, mas se reduzem a imitar filhos e netos (a figura paterna é a que mais está em crise), a fé é cada vez menos transmitida de geração em geração e, mesmo que se assista a uma crescente necessidade de espiritualidade entre os jovens, muitos deles se afastam a Igreja ou permanecem indiferentes à sua mensagem.
As palavras-chave para reverter o percurso se chamam "escuta" e "empatia", termos que ecoam nos relatórios dos círculos italianos e espanhóis, passando pelos ingleses. Tipo o Anglicus C, que encoraja, pelas palavras do convidado especial da assembleia, o prior da comunidade ecumênica de Taizé, frei Alois Löser, a introdução na Igreja de um “ministério da escuta".
Do envolvimento das novas gerações à reforma das estruturas eclesiais fala, por sua vez, o Hispanicus A. Em parte fora do coro o grupo Anglicus D - moderado pelo presidente dos bispos norte-americanos, o cardeal conservador Daniel DiNardo -, preocupado pelo fato de que com a ênfase colocada na escuta "não se comprometa nem subestime a autêntica missão de Ensinamento da Igreja".
A reflexão dos bispos não evitou, inclusive, temas de extrema atualidade. A partir do fenômeno da migração, que, se, por um lado, vê milhares de jovens do Terceiro Mundo, levados "pela miragem do Ocidente" a subestimar as conseqüências de deixar para trás os seus países de origem, por outro lado, engendra na Europa "o perigo da xenofobia" (Gallicus A). Também deixa alarmados os Padres sinodais o crescimento de novas formas de religiosidade fundamentalista e intolerante que "tornam mais necessário do que nunca a educação dos jovens ao respeito pelo outro, ao diálogo entre crentes e não-crentes, e no âmbito interreligioso e ecumênico" (Italicus B). Disso surgiu o apelo a um renascimento do caminho de unidade dos cristãos que leve, em um futuro próximo, à celebração no mesmo dia da solenidade da Páscoa (Gallicus A).
Foi rica a dialética sobre a incidência da web na vida dos jovens, cada vez mais (hiper) conectados.
O pedido de maior sistematicidade nessa área, com vistas à elaboração do documento final, é acompanhado por um juízo suspenso entre luzes e sombras sobre as oportunidades da Internet. No entanto, permanece a consciência, evocada por vários círculos, que as oportunidades oferecidas na rede ainda não estão disponíveis para os jovens de todo o mundo.
A fuga dos jovens da Igreja é analisada em chave etiológica pelos bispos de língua alemã (Germanicus). No banco dos réus acabam "a aparente incompatibilidade entre uma moderna visão de mundo científico e a fé e, em segundo lugar, as questões direta ou indiretamente relacionadas à sexualidade" e por último "a conexão aparente e muitas vezes confirmada entre a religião, de um lado, e a violência do outro". Sobre as questões relacionadas ao sexo e à afetividade, o pedido de mudança de visão é constante nos relatos dos grupos restritos. "A Igreja é chamada a atualizar o seu ensinamento sobre esses temas, na consciência de ser serva da misericórdia de Deus", declararam os bispos do Gallicus B. O acompanhamento dos jovens na vida afetiva e sexual deve acontecer "com clareza, profunda humanidade e empatia", ecoa o Italicus B, cujo relator é o arcebispo liberal Dom Bruno Forte, protagonista no Sínodo passado sobre a família, da tentativa (fracassada) de promover uma pastoral mais aberta para os casais homossexuais. Alemães e austríacos, no entanto, pedem para enfatizar, em vista a um aprofundamento e uma orientação antropológica sobre essa dimensão da vida, "a qualidade das relações humanas". Curioso o apelo do Hispanicus A para uma reflexão sobre a fase do "namoro".
Os bispos do grupo A de língua inglesa foram mais prudentes e lamentam a ausência no Instrumentum laboris de uma ênfase do valor da castidade, "bom e possível de ser alcançado pelos jovens". Por seu lado, os membros do Gallicus A, se mostraram preocupados em expressar a ligação entre o Sínodo da família e a assembleia sobre os jovens que é mencionada na ordem do dia dos trabalhos: por isso estão reivindicando a necessidade de reiterar que a família é uma união entre um homem e uma mulher com ambos os cônjuges abertos à vida.
Finalmente, ao Anglicus A se deve a reflexão mais acalorada sobre o que permanece o convidado de pedra do sínodo: o escândalo da pedofilia no clero. Embora não se poupem críticas a uma sociedade que, por vezes, quer "as cabeças", afirma-se em alto e bom tom a necessidade urgente para a Igreja de recuperar a "confiança" dos jovens, aquela que descrevem os bispos de língua Inglês com uma metáfora bastante eficaz, "é adquirida lentamente a pé e se perde a cavalo". Dito isto, segue o apelo, compartilhado por outros círculos, para que o Sínodo seja a oportunidade certa para iniciar a cúpula de fevereiro entre o Papa e presidentes das conferências episcopais que terá como centro justamente o tema dos abusos em menores. Sem confiança também correm o risco de não serem suficientes as demandas de reforma quanto ao ensinamento sobre o sexo, a demanda generalizada de uma revisão dos caminhos da iniciação cristã, assim como a leitura não prejudicial da difusão da rede entre as novas gerações. Aqueles jovens, que se tenta recuperar para a Igreja, poderiam decidir ficar de fora. Longe dos adros. E o que é pior, para sempre.
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Mais misericórdia sobre o sexo e escuta: as primeiras propostas do Sínodo dos jovens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU