O sínodo dos jovens precisa ouvir todas as vozes — sejam ou não católicas

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02 Abril 2018

Nossa tarefa era aparentemente impossível: escrever um documento que resumisse a experiência atual de adolescentes e jovens no mundo todo. Nos disseram para capturar o que pensam sobre fé, como entendem Jesus Cristo, o que fazem para discernir sua vocação e como encontram e mantêm sua identidade. Trezentos jovens reuniram-se para discutir estes temas e milhares participaram de fóruns on-line. O Papa Francisco nos incentivou a sermos ousados e não termos medo de expressar nossa opinião com honestidade, sem medo do julgamento. E foi o que fizemos.

Katie Prejean McGrady, participou do recente encontro pré-sinodal em preparação ao Sínodo dos Bispos a ser realizado em outubro de 2018, indicada pela Conferência Episcopal dos EUA, em depoimento publicado por America, 29-03-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Após horas de conversa, dias de escrita e vários pratos de macarrão, o encontro do Pré-Sínodo dos jovens gerou um documento de 11 páginas  que vai informar o Sínodo dos Bispos sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, em outubro. Este documento não apenas fez com que nossa missão fosse cumprida, mas também ajudou a criar uma nova forma de preparação para os líderes da Igreja em diálogos sobre temas extremamente importantes.

Acho que é justamente essa "nova norma" e a dificuldade da tarefa que fez alguns fazerem duras críticas ao encontro do Pré-Sínodo, chegando ao ponto de dizer que o evento foi manipulado e o documento desnecessário e fraco. Por ser uma dos 300 delegados que estava na sala, posso dizer com convicção que não foi uma conspiração do Vaticano para definir uma agenda pré-concebida para que os bispos discutissem determinados temas (e evitassem outros) em outubro.

Os jovens que se reuniram tiveram conversas emocionantes que revelaram o quanto muitos adolescentes e jovens ao redor do mundo estão se sentindo desafiados, feridos, confusos e perdidos. Cada grupo, dividido por idioma, contribuiu com um resumo, e o documento final realmente refletiu as nossas vozes. Lemos cada projeto com atenção. Não era um mero experimento de pensamento, uma tentativa de ver se os jovens do mundo todo conseguiam fazer algo útil. Nem era uma tentativa de fazê-los "se sentirem ouvidos” para serem ignorados e negligenciados depois. Foi um convite para partilhar nossos pensamentos e ideias em um esforço para ajudar os bispos a entender exatamente o que se passa com pessoas de uma determinada faixa etária para que possam entender melhor como pregar para os jovens e adolescentes, ensiná-los com cuidado e acompanhá-los.

Vamos pensar brevemente: O Papa Francisco e os bispos realmente querem entender o que conduz os jovens hoje. Querem saber por que os jovens estão deixando a Igreja e por que são atraídos pelas redes sociais. Querem entender como levar aos jovens mensagens que sejam relevantes, interessantes e compreensíveis. Querem compartilhar o Evangelho com os jovens de forma melhor e mais eficaz. Para fazer isso bem, eles sabiam que precisavam ouvir as próprias pessoas para quem querem fazer tudo isso.

O pedido foi um sinal de humildade da hierarquia da Igreja. Também foi uma grande honra para aqueles de nós que estavam reunidos para compartilhar e escrever. Levamos a sério a oportunidade que foi criada antes de nós e conseguimos responder com um documento que representa os muitos jovens ao redor do mundo: os católicos fervorosos e os que ardentemente não têm afiliação religiosa, os que se identificam como cristãos e os que se dizem infiéis, os que querem ter um relacionamento com Jesus e os que nem sequer o consideram real.

Quem duvida que este documento é uma representação precisa dos jovens de hoje não consegue ver a amplitude e a profundidade da experiência trazida à reunião. Quem critica o documento não se enxerga em cada um de seus aspectos, mas isso é porque nenhum texto resume a experiência de alguém com e na Igreja. Os jovens não são iguais, algo que rapidamente descobri ao conversas com meus colegas.

Há muitos jovens que amam a Igreja, a liturgia e Jesus Cristo e sua alegria e paixão pelo Evangelho são inspiração e um grande incentivo aos que ainda estão buscando sua fé. Os bispos precisam saber que esses jovens estão aqui e celebram a sua fé, ajudando-os a expandi-la. Mas também há muitos jovens que questionam a doutrina da Igreja e questionam se o que a Igreja nos convida a crer é verdade. Os bispos precisam saber que esses jovens não estão apenas lá fora, mas buscam respostas.

Se o documento não incluísse uma perspectiva ampla, tanto dos que já estão envolvidos com a Igreja como dos que não estão, teríamos entregue algo inútil aos bispos. Transmitiria a mensagem de que "o time está ganhando” e que ninguém está saindo da Igreja, nem a questiona ou duvida de suas ações. Restringir o documento a uma série de afirmações teria sido um grande desserviço aos bispos e à Igreja. Não teríamos realmente cumprido o pedido do Santo Padre. Teria sido um ultraje e um insulto aos fiéis cultos que nos pediram para sermos honestos.

E foi o que fizemos. tentamos capturar as alegrias e as lutas dos jovens, lançar luz aos fiéis confiantes e aos questionadores e ajudar os bispos a compreender o que achamos que eles podem fazer para acompanhar todos os jovens em sua jornada na descoberta da Verdade, encontrando Cristo e vivendo uma vida de fé obediente e apaixonada na única e santa Igreja Católica Apostólica.

O documento pode causar desconforto em alguns, o que pode ser bom, pois desafia os leitores a ampliarem sua compreensão da experiência do outro. Alguns podem nunca ter dado muita atenção à realidade de quem não tem um relacionamento com Jesus ou amor pela liturgia. No entanto, ouvir que há jovens que não têm a mesma experiência ou visão de mundo não deve causar irritação, mas sim inspirar a pedir para os bispos trabalharem para conquistar seu coração e sua mente para a fé — e talvez inspirá-lo a fazer o mesmo.

Talvez você não tenha tido dificuldade para encontrar companheiros ao longo da jornada — pessoas que ajudam a trilhar o caminho com Cristo todos os dias. Se for esse o caso, excelente. Mas no mundo todo para muitos é extremamente difícil encontrar mentores religiosos, e os bispos precisam saber do desespero de muitos jovens por expressões vibrantes de uma fé alegre, para que também possam vivenciá-la. Talvez você tenha tido a sorte de morar num lugar com belas liturgias que elevam o seu espírito e causam muita alegria ao encontrar Jesus na Eucaristia. Mas muitos jovens não têm a mesma experiência, nem mesmo compreendem a missa, e os bispos pediram que disséssemos como eles podem fazer nossa fonte e encontro acessível e desejável para os que não têm a mesma devoção pela Eucaristia.

Eu li o documento mais de dez vezes e a cada leitura fiquei mais animada pelo que tenta fazer: capturar a experiência e a atenção dos jovens do mundo todo para que os bispos, encarregados de nos orientar e conduzir, possam fazer seu trabalho melhor e para a comunidade mais ampla. O documento é um apelo sincero, honesto e desafiador dos jovens do mundo todo para a hierarquia da Igreja — para nos ajudar a encontrar nossa identidade em Jesus de forma mais integrar, nos ajudar na nossa jornada para amá-lo com tudo o que somos e nos tornarmos fiéis do corpo de Cristo. Espero que nós, a Igreja, tenhamos confiança na leitura dos bispos e nos reunamos a eles em seus esforços de responder com confiança e sabedoria espiritual e determinação apaixonada para, como diz o documento, ajudar todos os jovens, em todos os estágios da vida, a se "aproximar, conhecer e se apaixonar por Jesus".

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