18 Setembro 2018
De 7 a 9 de setembro aconteceu em Mônaco da Baviera a reunião da Federação da Juventude Católica Alemã (Bund der Deutschen Katholischen Jugend - BDKJ), que reúne 17 associações com 660.000 jovens. Participaram do encontro também os representantes das associações de países de língua alemã, como a Áustria, o Tirol do Sul e a Suíça, em vista do próximo Sínodo dos Bispos. O medo dos jovens é que não seja transparente nem aberto. Katholisch.de entrevistou Thomas Andonie, presidente da associação alemã desde julho de 2017, sobre o conteúdo da reunião que terminou com uma declaração conjunta.
A entrevista é de Roland Müller, publicada por Settimana News, 15-09-2018 . A tradução é de Luisa Rabolini.
Sr. Andonie, no último fim de semana aconteceu uma reunião da rede internacional de associações juvenis católicas de vários países de língua alemã. Qual foi a ocasião?
No início de outubro, inicia-se no Vaticano o sínodo dos jovens e a Igreja de todo o mundo volta sua atenção para os jovens, seus desejos e expectativas. Para tanto, queremos também oferecer uma contribuição e cooperar para que o sínodo dos bispos tenha sucesso. Olhamos para além das fronteiras nacionais para ver o que move os jovens e quais são suas solicitações em relação à própria Igreja.
Por que foi necessária uma reunião internacional?
Para reunir os desejos do maior número possível de jovens. O BDKJ opera principalmente na Alemanha, mas é importante olhar para fora das fronteiras sobre os temas do sínodo que dizem respeito à Igreja mundial. Era óbvio começar na esfera de língua alemã. Nesse nível, é incomum que se reúna um número tão grande de representantes de jovens de uma associação de trabalho de autogestão. Queríamos ver o que move os jovens em nossos países, para ter uma visão mais ampla - e ver como o trabalho é organizado para cada solicitação.
Jovens de diferentes países se interessam pelos mesmos temas? E onde estão as diferenças?
Naturalmente, existem diferenças, por exemplo, em relação às nossas estruturas associativas e ao modo de compreender a pastoral juvenil. Mas notamos que existe um grande parêntese que unifica tudo: o problema da autenticidade da Igreja. Sobre esse ponto existe uma grande concordância. Isso também é demonstrado pelo fato de que, durante os três dias do encontro, conseguimos estruturar uma declaração conjunta. Em cinco pontos-chave, conseguimos indicar o que move os jovens.
Os críticos dizem que as exigências da declaração não constituem nada de novo ...
É claro que é muito triste que em algumas partes acabamos sempre por colocar as mesmas exigências, porque em vários pontos nada muda. Mas que os jovens queiram colaborar para estruturar a Igreja juntos, é um fato que deve ser levado muito a sério. De fato, nossa mensagem não vem de um pequeno círculo, mas na Alemanha é sustentada democraticamente por 660.000 jovens de 17 associações juvenis. Uma olhada no documento pré-sinodal mostra que os jovens querem exatamente isso: participação, troca de ideias e âmbitos nos quais poder agir de forma independente. É exatamente isso que constitui o trabalho eclesial das associações. Acreditamos nesse modo de poder oferecer aos jovens uma Igreja que seja a sua casa.
O que estabelece a declaração comum?
Além do acolhimento incondicional de todo jovem, o aspecto da solidariedade é muito importante no texto. O que une é a questão sobre como a Igreja possa ser autêntica. Nossa resposta é: ela deve se confrontar criticamente consigo mesma e engajar-se de maneira crível com os desfavorecidos e aqueles que sofrem. É assim que a fé é demonstrada. Naturalmente, a liturgia também é um aspecto central, mas a ação da Igreja torna-se visível no mundo se a fé é vivida na ação. Portanto, a Igreja deve tomar uma posição clara sobre os casos de abusos e assumir as consequências. Somos muito gratos ao Papa Francisco por ter enfrentado o clericalismo. A Igreja só pode ser credível se admitir seus erros e assumir as consequências. Isso significa que o sofrimento infligido a crianças e adolescentes por representantes da Igreja deve ser plenamente esclarecido e ser levado perante os tribunais civis.
Um grande estudo sobre abusos na Igreja alemã será apresentado em breve. O que o BDKJ espera deste estudo?
As estruturas que favorecem o abuso devem ser descobertas e devem ser mudadas. Em muitas áreas problemáticas da Igreja, por exemplo, as de igualdade de gênero ou abusos, sempre notamos que o problema é a relação de poder na Igreja. Devemos trazer transparência naqueles lugares onde verificamos abusos através do clericalismo na Igreja. No trabalho das associações juvenis, a liderança é exercida em conjunto com os clérigos. Esse é um ponto importante em termos de transparência. Devemos também assumir juntos a responsabilidade nas paróquias, nas dioceses e em outras instituições da Igreja e repensar as estruturas tradicionais e os órgãos de direção.
Você recomendaria, portanto, o modelo administrativo autônomo para toda a Igreja?
Constatamos que na nossa entidade funciona muito bem. Hoje também existem modelos alternativos de gestão no plano paroquial com os leigos, como, por exemplo, na diocese de Osnabrück. São modelos de gestão conjunta - embora não devesse ser regulada pelo centro.
Há alguma coisa que deveria ser mudada dentro do BDKJ diante da crise dos abusos?
O BDKJ e suas associações de jovens regularmente verificam se nossas abordagens para a prevenção da violência sexual funcionam. Especialmente naqueles lugares na Igreja em que os jovens são ativos, é importante garantirmos uma proteção sensível e eloquente em relação aos problemas. A mesma coisa que também desejamos para a Igreja.
Diante dos casos de abuso, pedidos foram feitos para cancelar o sínodo de jovens. Você acha que seria algo razoável?
Na fase pré-sinodal, notamos como a credibilidade da Igreja seja especialmente importante para todos. Seria um sinal nefasto dizer: por causa dos abusos, anulamos um sínodo que coloca os jovens no centro de sua atenção. Eu acredito que um aspecto central deva ser, para responder aos casos de abuso, o fato que a Igreja esteja preocupada em se tornar um lugar seguro para todos os jovens. No plano internacional, surgem continuamente novos casos: em 2010, na Alemanha, recentemente no Chile e agora nos Estados Unidos. Estamos vendo que existem situações importantes sobre os quais falar. Disso devem ser tiradas as consequências e, em especial, devem mudar na Igreja as estruturas que favorecem esse incrível sofrimento. Desse modo, a Igreja pode tornar-se credível. Justamente por isso, o sínodo deve ser celebrado de maneira transparente. E ser conhecido publicamente o que for ali tratado.
O BDKJ pede por um maior diálogo com os jovens no sínodo?
Sim, porque vemos com grande tristeza que não é nem transparente nem aberto, mesmo que isso tenha sido explicitamente solicitado na fase pré-sinodal. Não se sabe quem será adicionado como consultor dos bispos, se jovens estarão presentes e com que procedimento serão escolhidos. É muito importante que os jovens representantes não só ofereçam conselhos, mas também estejam envolvidos nas deliberações. É um pedido apresentado em âmbito mundial por jovens comprometidos e ligados à Igreja. Seria um passo simples, e os bispos deveriam questionar-se e mudar alguma coisa.
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Queremos um sínodo transparente e aberto, pedem os jovens alemães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU