“O Papa está tentando corrigir o erro pessoal, além de corrigir os erros de outros, neste caso dos bispos do Chile”, disse Marcelo Gidi.
A reportagem é de Alejandra Jara, publicada por La Tercera, 30-04-2018. A tradução é de André Langer.
O advogado e padre jesuíta Marcelo Gidi referiu-se à reunião do Papa Francisco com as vítimas chilenas do caso Karadima, que foram convidadas ao Vaticano depois que a mais alta autoridade da Igreja reconheceu ter cometido “graves erros de avaliação” ao não ouvir as acusações de acobertamento que apontavam para o bispo Juan Barros durante a sua visita ao Chile.
“O Papa está tentando corrigir o erro pessoal, além de corrigir os erros de outros, neste caso dos bispos do Chile. É um sinal de que o superior também é também responsável pelos atos dos subordinados”, disse Gidi à Radio Duna depois que Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andrés Murillo foram recebidos pela mais alta autoridade da Igreja.
“Um bispo, de certa forma, também é responsável pelos erros que seus presbíteros cometeram. Como também um superior de uma instituição religiosa. O Papa está falando nesta linha, sobre as novas medidas que se aplicam a todas as pessoas”, disse o religioso.
E prosseguiu: “Na Igreja ninguém precisa se sentir privado de cuidados. E se o seu pastor imediato não lhe responder, sempre poderá recorrer a outra pessoa. Mas o problema das dioceses não é tanto a independência, mas uma divisão pastoral que nos impediu de levar adiante esse profetismo que era característico e que se apagou”.
Para o sacerdote, “o problema com o qual o Papa vai se defrontar, para resolver junto com a Conferência Episcopal Chilena, não é apenas e exclusivamente dos abusos sexuais. Os abusos sexuais ultrapassam o problema subjacente que é a falta de orientação na hora de assumir novas realidades”.
Nesse sentido, Gidi sustentou que “a Igreja chilena não pode negar que está dividida em instituições, espiritualidade, movimentos e linhas pastorais”.
Ele acrescentou que “não temos projetos pastorais com os quais possamos nos sentir envolvidos para levar adiante a mensagem da Igreja”, além de que a “autoridade moral” da maioria dos pastores “está muito questionada”.
“Acredito que nós, como Igreja, não respeitamos a sociedade. Nós não tivemos essa medida de profundidade para reconhecer que nesta nova sociedade chilena há muitos bons sinais pelos quais a Igreja pode continuar a ajudar e contribuir. É outro elemento porque aparecemos com autoritarismo”, disse.
E acrescentou que em sua visita ao Chile o Papa disse: “chega de clericalismo, de autoritarismo e de paternalismo” e que com seu convite às vítimas de Karadima “nos está convidando a respeitar o outro”.
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Chile. “Como Igreja não respeitamos a sociedade”, afirma padre jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU