17 Julho 2024
Depois de descobrir o poder da resistência não violenta na prisão, Ali Abu Awwad se tornou um dos mais emblemáticos ativistas palestinos. Um percurso desafiador e solitário em uma sociedade onde a resistência à ocupação israelense é principalmente armada.
A reportagem é de Cécile Lemoine, publicada por La Croix International, 13-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Seu quartel general: alguns barracos com um pomar e alguns animais... Ali Abu Awwad construiu o centro Karama ("Dignidade" em árabe) com suas próprias mãos em 2016, em um pequeno terreno pertencente à sua família localizado na entrada de Gush Etzion, um bloco de 22 assentamentos no território palestino entre Belém e Hebron, o coração do ativismo colonial israelense.
Dedicado à não-violência, o centro é como uma zombaria ao ambiente circunstante: a 300 metros de distância está a rotatória mais mortal da Cisjordânia ocupada, cenário de dezenas de ataques contra colonos, que terminaram irremediavelmente com a morte de seus autores palestinos.
Ali Abu Awwad, 51 anos, é uma das figuras mais emblemáticas da resistência não violenta palestina. Ele tem a constituição física de um jogador de rúgbi e uma forte semelhança com o ator Vincent Cassel. Fundador em 2014 da organização "Roots", que reúne palestinos e colonos, e depois do "Taghyeer", o movimento nacional palestino pela não violência, ele recebeu o Prêmio Gandhi da Paz em novembro de 2023 por seus esforços para unir os povos. É um prêmio que presta homenagem a uma carreira que começou de uma maneira nada pacífica.
Nascido em 1972, cresceu em uma família de refugiados politicamente ativa. Sua mãe, próxima a Yasser Arafat, é uma figura de destaque na Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e lidera o Fatah no distrito de Hebron. Aos 18 anos, Ali é condenado a dez anos de prisão por seu envolvimento na primeira Intifada - ele cumpriria apenas quatro anos graças aos Acordos de Oslo de 1994. É na escola da prisão que o jovem Ali se aproxima à não-violência. Após dezessete dias de greve de fome e três anos de negociações, ele e sua mãe, que estava em outra prisão, obtêm permissão para uma visita. Ali dá uma tragada em seu cigarro: "Na prisão, se conseguia tudo por meio do jejum. É uma forma poderosa de resistência".
Ao ser libertado, entrou para a Autoridade Palestina como agente de segurança. Foi a morte de seu irmão Youssef, baleado à queima-roupa por um soldado em 2002, que precipitou seu ativismo.
"Um grupo de israelenses do ‘Grupo de pais em luto' se encontrou com a minha família para expressar suas condolências. Todos choramos juntos. Eu estava chocado. Pela primeira vez, me senti igual aos israelenses, pelo menos no compartilhamento da dor", conta Ali Abu Awwad. Isso me ajudou a sair da prisão de vítima em que me encontrava e a ver que a reconciliação é possível".
Toda a sua família se juntou ao percurso de resistência pacífica.
"Ainda sou um combatente, com a diferença de que hoje não resisto mais à ocupação: luto para acabar com ela", diz o pacifista, que quer tornar a não-violência parte da identidade palestina: "É a única estratégia para combater o medo que foi cultivado nos israelenses por décadas”.
O desafio é imenso em uma sociedade em que os combatentes que morreram como 'mártires' são elevados ao status de ícones, na ausência de outros modelos e perspectivas, e onde qualquer diálogo com o ocupante israelense é sinônimo de traição. Uma realidade que se cristalizou depois do 7 de outubro. “Precisamos pensar em termos da sustentabilidade de nossa abordagem", afirma Ali Abu Awwad. É por isso que criamos "oficinas de não-violência" nas escolas, com um centro de recursos e professores formados. Queremos incluir o modelo nos currículos escolares".
Ali admite que está travando uma batalha dura e solitária. "A não-violência é a abordagem mais dolorosa. Na abordagem violenta, você luta contra um inimigo. Na abordagem não-violenta, seu maior inimigo é você mesmo. Minha vida era mais simples antes", ele sorri. Está pensando em entrar na política? "Sim, mas por meio de meu movimento. Primeiro, ele precisa crescer e ter um impacto. As pessoas precisam abraçar a não-violência". Ainda há um longo caminho a percorrer, mas Ali Abu Awwad acredita nele.
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Ali Abu Awwad, o ex-combatente palestino que se tornou defensor da não violência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU