04 Outubro 2018
O Equal Future está facilitando o compartilhamento de histórias através de seu website.
O sínodo dos bispos sobre os jovens é "uma oportunidade única para essa geração". Segundo Tiernan Brady, militante LGBT e representante do Equal Future, uma coalizão de 100 grupos LGBTs e religiosos católicos de mais de 60 países.
A reportagem é de Sarah Mac Donald, publicada por National Catholic Reporter, 03-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen
Brady acredita que o sínodo pode anunciar uma mudança que "será sentida durante anos pelo mundo". Mudar as atitudes negativas da Igreja para com as pessoas LGBTs é a razão pela qual ele está liderando uma campanha que tem como objetivo ajudar os católicos LGBTs a contar suas histórias aos delegados do Sínodo sobre como eles foram atingidos pelos ensinamentos da Igreja. O site equalfuture2018.com permite que as pessoas LGBTs identifiquem seu país ou representante regional no sínodo - aqueles que tomam as decisões - e enviem aos delegados um relato de suas experiências católicas.
“O sínodo é a coisa mais próxima que a Igreja chega do processo democrático. É uma oportunidade para discutir os desafios reais dos jovens e a exclusão que LGBTs enfrentam”, afirmou Brady.
"É uma oportunidade para destacar os danos e pedir que as pessoas considerem medidas a respeito", ressaltou o militante.
"Isso não é uma campanha anti-Igreja - e muito menos uma discussão 'gay versus Deus'. É sobre a realidade do dano causado às pessoas em toda a sociedade. A Igreja, como um grande líder no mundo, deve fazer algo poderoso para acabar com isso", acrescentou.
O ativista irlandês foi diretor das campanhas do referendo sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo na Irlanda e na Austrália, que o colocaram em oposição às hierarquias católicas em ambos países.
"Eu venho de uma família irlandesa muito estereotipada. Meu falecido pai e minha mãe eram pessoas muito religiosas. Meu tio é padre no Peru."
“Sou contra essas campanhas anti-Igreja porque existe uma discrepância com os LGBTs. Não devemos escolher um ou outro, e sim nos aceitarmos como uma sociedade”, disse Brady.
Enquanto fazia campanha pelos direitos do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Irlanda e na Austrália, ele encontrou pessoas importantes na área da justiça social.
"É uma pena que suas vozes não sejam ouvidas com clareza. Uma das razões pelas quais eu queria entrar para o ‘Equal Future’ era fazer parte dos ‘incríveis defensores católicos da igualdade LGBT’”, ressaltou Brady.
“Tanto a Igreja quanto os gays não estão chegando em um denominador comum. Não se trata de quem irá vencer a batalha, e sim de chegar a uma resultado que agrade ambas as partes. Devemos dar liberdade para que isso aconteça”, afirmou a ativista.
Brady fala que ambos os lados deste debate têm "muitas vozes extremas", e o desafio é abrir espaço para o meio termo, "as pessoas que ainda não mudaram de opinião sobre a questão LGBT".
Segundo Brady, uma pesquisa realizada com católicos de diferentes países afirmam que apesar do apoio, a comunidade LGBT não tem espaço para expressar sua opinião. “Espero que essa campanha faça a diferença dentro da Igreja”, disse Brady.
Antes do sínodo, a Igreja consultou jovens católicos para saber se esse era um assunto relevante entre seus ciclos de amizade.
"Os jovens católicos querem que deixar de lado esse tabu. O desafio para o sínodo é ouvir e se envolver com essa questão. Tudo o que podemos fazer é continuar a destacar a verdade para as pessoas no poder, e esperamos que elas aceitem os questionamentos e façam algo a respeito. A mudança pode ser difícil e lenta, mas precisa acontecer", disse o militante.
Brady acredita que a mudança deve ser mais rápida agora que alguns estudos científicos mostraram que "ser uma pessoa LGBT é uma condição natural".
"A questão é de como iremos mudar nossa abordagem e nossas regras para refletir a realidade que a hierarquia ainda não alcançou. A Igreja levou 500 anos para se desculpar com Galileu, e não podemos fazer isso com as pessoas LGBTs", falou Brady.
“O Sínodo da Juventude é um momento único em que podemos refletir sobre nosso conhecimento e ouvir as pessoas da Igreja. A hierarquia não pode ignorar seus membros para sempre", acrescentou.
O ‘Equal Future’ está programado para revelar as descobertas de uma nova pesquisa internacional de católicos ao redor do mundo sobre a questão LGBT.
De acordo com o ativista, as indicações iniciais são de que 1 em cada 2 ou 3 católicos praticantes diz que o ensinamento da Igreja tem que mudar e que as atitudes atuais estão causando danos reais às comunidades LGBTs.
"As histórias das pessoas é a maneira mais poderosa para permitir que os outros entendam a dimensão do problema", disse Brady.
Brady espera que durante o Sínodo haja um reconhecimento de que as pessoas LGBTs "tenham o mesmo respeito e dignidade e as mesmas aspirações na sociedade que todos os outros".
A Igreja ensina que as pessoas LGBTs devem ser tratadas com respeito e dignidade, mas Brady questiona se isso acontece na prática. A marginalização e o impacto da saúde mental sobre os católicos LGBTs sugeriram que a Igreja está "falhando em alcançar seus próprios padrões".
"A exclusão é uma triste realidade", disse Brady, enfatizando que alguns membros da Igreja vendem a ideia de que ser gay é algo ruim.
Em última análise, tem de haver "um grande debate" sobre as regras e os ensinamentos, que Brady enfatiza "serem muito prejudiciais para as pessoas".
A hierarquia da Igreja tem que encarar o fato de que, em todo o mundo, os católicos estão liderando as mudanças em prol da aceitação dos LGBTs.
"Eles entendem que qualquer um pode ser LGBT e que todo mundo merece ser tratado igualmente. O que estamos vendo é que os católicos são um dos grupos religiosos mais propensos a apoiar as pessoas LGBTs", afirmou Brady.
"O povo católico está mudando seu pensamento aos poucos, e os líderes da Igreja precisam fazer o mesmo", acrescentou.
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Católicos LGBTs relatam suas experiências aos delegados do sínodo da juventude - Instituto Humanitas Unisinos - IHU