04 Dezembro 2025
Grupos em plataformas sociais disseminam conteúdos hostis e violentos contra mulheres, celebram autores de crimes e incentivam novos atos de violência.
A reportagem é de Luciana Garbin, publicada por Estadão, 03-12-2025.
Alerta: o texto abaixo aborda temas sensíveis como estupro, violência doméstica e violência contra a mulher. Se você se identifica ou conhece alguém que está passando por esse tipo de problema, ligue 180 e denuncie.
A epidemia de estupros, feminicídios e outros ataques a mulheres no Brasil é fomentada por uma cultura misógina que não para de crescer nas plataformas e redes sociais. Crimes chocantes como o cometido contra Taynara Santos, que teve as pernas amputadas após ser atropelada e arrastada por um quilômetro na Marginal Tietê, servem em fóruns obscuros da internet para endeusar seus autores, sem qualquer controle ou punição.
E não se trata de posts ou comentários isolados. Impulsionada pela falsa impressão de anonimato, ausência de moderação e por algoritmos que reforçam conteúdos semelhantes, a chamada “misoginia em rede” turbina a ação de comunidades digitais estruturadas para despejar e disseminar uma infinidade de conteúdos hostis e violentos contra mulheres.
➡️ Novos vídeos mostram sadismo de PM agiota ao cobrar mulheres armado
— Metrópoles (@Metropoles) December 2, 2025
As gravações sádicas mostram o militar de GO esfregando o cano de uma pistola equipada com lanterna na cabeça de mulheres aterrorizadas
Leia na coluna Na Mira, de @carloscarone78: pic.twitter.com/fsByYsjsgv
O que dizer por exemplo de uma publicação feita no X com a foto de uma moça e o título ‘Como estuprar uma mulher e não ser pego?’
Outro exemplo, também retirado do X, tinha o título 'Mesa dos feminicidas' e logo abaixo o subtítulo 'O feminicídio é algo importante'. Com uso de termos pejorativos para se referir ao Brasil e às mulheres, tratava o crime de feminicídio como “um ato santo”, feito para vingar e deixar felizes “homens honrados e de bem” que foram humilhados.
A 'misoginia em rede' turbina a ação de comunidades digitais estruturadas para despejar e disseminar conteúdos hostis e violentos contra mulheres.
Segundo a reportagem, o Brasil registrou no ano passado 1.459 feminicídios, segundo o Ministério da Justiça. Uma média de quatro mulheres mortas a cada dia. Só na cidade de São Paulo, foram 51 feminicídios em 2024, número já superado neste ano - até outubro, foram 53. No mesmo período, houve 2.437 estupros nos bairros paulistanos.
Preso por atropelar e arrastar mulher na Marginal Tietê tinha R$ 2,3 mil na carteira, diz polícia https://t.co/PShfzrcfKN #g1
— g1 (@g1) December 3, 2025
Em 2024, no País todo, foram 87.545 estupros, de acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Uma média de quase 240 casos por dia.
Para ler a íntegra da reportagem, clique aqui.
Leia mais
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