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01 Dezembro 2025

Um livro do correspondente do Vaticano, Politi, recapitula a "Revolução Inacabada" do Papa Bergoglio, destacando certas indecisões, mas também o legado positivo que ele deixou para a Igreja. A Igreja, por sua vez, não teve coragem de segui-lo.

A reportagem é de Roberto Beretta, publicada por Vino Nuovo, 27-11-2025.

"A Revolução Inacabada": o título claro escolhido por Marco Politi para sua mais recente obra, "A Igreja Depois do Papa Francisco", publicada pelo Il Millimetro (após uma edição alemã), é um resumo oportuno e abrangente das principais questões que abalaram o pontificado do Papa Francisco — desde seu relacionamento com Bento XVI até os escândalos sexuais do clero, do caso Becciu à revalorização da mulher, da Missa em latim à sinodalidade, até a reforma da Cúria Romana. Todas essas questões marcaram o comportamento ambivalente de Francisco, que oscilou entre grandes avanços, retrocessos e posições mais modestas.

Livro de Marco Politi. (Foto: Reprodução/Il Millimetro)

Politi oferece, assim, uma reconstrução útil de um papado que o próprio protagonista nem sempre ajudou a esclarecer. Justamente por isso, e ainda mais, o leitor busca nas entrelinhas a perspicácia do observador experiente, baseando-se em entrevistas pessoais com informantes eclesiásticos que preferem permanecer anônimos e com figuras da Igreja e leigos bem ligados aos assuntos católicos. Não é fácil encontrar tal síntese, quase como se o autor estivesse defendendo, por trás da necessária imparcialidade jornalística, uma dificuldade objetiva em assumir uma posição clara; mas há algo ali no final, e merece ser citado entre aspas porque é particularmente eficaz em delinear — para além das controvérsias, para além das contradições — o legado objetivo que a Igreja recebeu do pontífice argentino.

Ao discernir os sinais dos tempos, o Papa Bergoglio sempre se mostrou vigilante e visionário. Ele compreendeu imediatamente o impacto histórico do fenômeno migratório, alinhou a Igreja à transição ecológica, pois a degradação da natureza inevitavelmente leva à deterioração da situação social, e incentivou o compromisso dos fiéis na luta contra a crescente desigualdade. Durante anos, ele alertou contra o populismo autoritário de direita, disfarçado de defensor do homem comum contra as elites.

O papa argentino abriu brechas, escancarou janelas, quebrou velhos padrões. Ele varreu a obsessão secular do catolicismo com questões sexuais. Trouxe a questão da mulher para o centro da Igreja; pela primeira vez, permitiu que mulheres com poder de decisão participassem de um concílio de bispos. Crentes e não crentes perceberam o choque que ele causou na Igreja: fez com que a atitude do samaritano prevalecesse sobre a dureza dos agentes da alfândega.

Mas a revolução vinda de cima, pela qual muitos fiéis esperavam, não se completou. A cisão entre tradicionalistas e reformistas tem sido profunda. Entre certos grupos conservadores, o ressentimento em relação às mudanças se consolidou, enquanto entre algumas franjas reformistas, a desilusão cresceu.

Enquanto isso, emergiram forças centrífugas caracterizadas pelo nacionalismo eclesial. Acima de tudo, durante os anos do pontificado de Bergoglio, um forte movimento de fiéis, teólogos e bispos publicamente comprometidos (como na época do Concílio Vaticano II) com uma renovação da Igreja nos moldes delineados pelo Papa não se desenvolveu. Bispos hesitantes, padres entrincheirados e fiéis inertes caracterizam o cenário. E certamente esses não são defeitos do Papa Francisco...

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