31 Outubro 2025
A rejeição de uma ordem religiosa tradicionalista escocesa à “Igreja moderna” teve suas primeiras consequências: o bispo responsável retirou-lhes certas funções e notificou o Vaticano. Pois, em casos de cisma, a decisão cabe a Roma.
A informação é publicada por katolisch.de, 30-10-2025.
O caso dos supostos Redentoristas Transalpinos cismáticos está agora sendo examinado pelo Vaticano. O bispo de Aberdeen, D. Hugh Gilbert, condenou em um comunicado datado de 24 de outubro a carta aberta publicada pelos religiosos, na qual rejeitam ensinamentos do magistério papal e do Concílio Vaticano II. “A diocese lamenta profundamente o tom, a direção e os elementos centrais dessa carta”, diz o texto. “Ela não é compatível com a compreensão católica da unidade da Igreja”. Os dicastérios competentes do Vaticano foram informados e estão investigando a situação.
Os Redentoristas Transalpinos (também chamados “Filhos do Santíssimo Redentor”) são uma comunidade de direito diocesano pertencente à Diocese de Aberdeen. Gilbert é, portanto, a autoridade eclesiástica diretamente responsável pela supervisão. No caso do delito canônico de cisma, a jurisdição cabe ao Dicastério para a Doutrina da Fé. Segundo o direito canônico, cisma é “a recusa de submissão ao Papa ou da comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos” (cân. 751 CIC).
A ordem havia publicado, há duas semanas, uma carta na qual os membros declaravam não mais reconhecer a “Igreja moderna”. “Após anos de reflexão e experiência, chegamos à lamentável conclusão de que a fé católica tradicional — a fé de todos os tempos e dos santos — é incompatível com a nova Igreja moderna, fruto do Concílio Vaticano II. Elas simplesmente não podem coexistir num mesmo corpo”, afirmaram os religiosos.
Competência para a “missa antiga” retirada
O bispo de Aberdeen ressaltou que permanece aberto ao diálogo com a comunidade. Entretanto, retirou-lhe provisoriamente a responsabilidade pela celebração da liturgia pré-conciliar na igreja de São João, em Fetternear. Em uma carta publicada no Facebook dirigida à comunidade local, o bispo explicou sua decisão. Expressões utilizadas pelos Redentoristas Transalpinos, como a distinção entre uma “Igreja da Tradição” e uma “Igreja moderna”, seriam inaceitáveis: “Existe apenas uma única e indivisa Igreja de Cristo, que une passado, presente e futuro — nossa Mãe, que conduz todos nós ao Reino Celestial”. A missa segundo os livros litúrgicos de 1962 passará a ser celebrada em Fetternear por um padre diocesano, seguindo o turno mensal habitual.
A ordem tradicionalista, com sedes na Escócia e na Nova Zelândia, encontra-se há meses em conflito com o bispo da diocese neozelandesa de Christchurch, Michael Gielen. No ano passado, após uma visita apostólica, Gielen ordenou que o grupo deixasse a diocese. O motivo foram reportagens sobre exorcismos não autorizados que teriam causado traumas em pessoas — inclusive menores de idade. Os religiosos negaram as acusações. Os recursos apresentados ao Vaticano contra a expulsão foram rejeitados no verão. Em sua carta aberta, os membros afirmaram que pretendem continuar atuando em Christchurch.
Os Redentoristas Transalpinos foram fundados em 1988 e, inicialmente, mantiveram forte vínculo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Após o Papa Bento XVI facilitar em 2007 a celebração da liturgia pré-conciliar como “forma extraordinária do rito romano”, a comunidade retornou à plena comunhão com o Papa em 2008. Em 2012, foi reconhecida como comunidade religiosa de direito diocesano em Aberdeen, onde mantém sua casa principal. Desde 2017, também está presente na Nova Zelândia.
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