14 Julho 2022
Felizmente, a confusão em torno de uma suposta oposição entre “bispo emérito de Roma” e “papa emérito”, que sempre foi clara, foi mais bem explicada por especialistas nas últimas horas e, portanto, é algo que não existe e sobre o qual é insensato perder tempo ou alimentar as polêmicas. Há séculos, sabe-se que o bispo de Roma, sucessor em linha direta do apóstolo Pedro, é também o papa, aquele que preside na caridade a Igreja fundada por Cristo. Quem quer que tenha sido eleito para exercer esse ministério petrino, no momento em que renuncia, torna-se “ex” ou “emérito” (não exerce mais o seu ofício).
A nota é publicada por Il Sismografo, 13-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco, na sua entrevista dessa terça-feira, 13, a terceira em pouquíssimos dias (depois da Télam e da Reuters) à plataforma mexicana de streaming ViX, da Noticias Univision 24/7, “respondendo a uma pergunta sobre a possibilidade de haver normas sobre a figura do papa emérito, observou que ‘a própria história ajudará a regulamentar melhor’, ‘a primeira experiência foi muito bem’, porque Bento XVI ‘é um homem santo e discreto’. Para o futuro, porém, ‘convém delimitar melhor as coisas ou explicá-las melhor’” (fonte: Vatican News).
O Santo Padre disse coisas sábias e verdadeiras que devem ser resumidas de forma simples, pois estamos falando de uma questão muito delicada que, infelizmente, dividiu setores da Igreja Católica durante vários anos, semeando confusão, desorientação e polêmicas artificiais:
1) A história do Papa Emérito J. Ratzinger e a eleição do novo pontífice, Francisco, os fatos concretos, de 13 de março de 2013 até hoje, ensinam muitas coisas úteis para o futuro.
2) Os termos enganosos “coabitação” e “história dos dois papas” demonstram que, em tais circunstâncias, não ocorre nenhuma catástrofe devastadora e irreparável. A sucessão legítima e correta do bispo de Roma garante a existência e a estabilidade da assembleia fundada por Cristo.
3) No caso específico do Papa Emérito Bento XVI, evidencia-se que ele soube demonstrar com humildade, inteligência e estilo, por amor à Igreja, sem ingerências indevidas, que não existe nenhum conflito ou tensão entre o “papa reinante” e seu antecessor, que renunciou ao ministério petrino que lhe foi confiado pelo conclave.
4) Olhando para o futuro da Igreja, é oportuno e necessário proceder a uma melhor codificação da presença de um ex-bispo de Roma no caso da eleição de um novo.
O papa fez muito bem em abordar a questão e em fazê-lo nos termos que relatamos.
Agora, é preciso, como ele mesmo antecipa, avançar nessa direção, mantendo firme o fato de que um “ex” não tem mais nenhuma responsabilidade na liderança da Igreja por parte do seu Pastor universal, e, portanto, é bom que a sua figura não seja usada de forma alguma para alimentar ou fomentar confusões como, por exemplo, a de ser, após a sua renúncia, uma espécie de conselheiro privilegiado do novo papa.
Nos últimos anos, Joseph Ratzinger deu à Igreja neste complexo e delicado caso um exemplo único que pode ser a base das codificações jurídicas a serem elaboradas, além daquelas – submetidas à prova por mais de nove anos – que, em certo modo, foram improvisadas entre os dias 11 e 28 de fevereiro de 2013.
O Papa Emérito, nos primeiros anos, foi usado por diversas partes, sobretudo dentro da Igreja, para outras causas e com motivações nem sempre transparentes. Isso ainda ocorre de vez em quando.
Mas foi ele, Joseph Ratzinger, quem rejeitou com firmeza inequívoca – com o silêncio e às vezes também com as palavras – as tentativas de usar essa situação em favor de corjas, grupos e comportamentos divisivos.
Uma boa codificação da chamada figura do “papa emérito” deve ter o horizonte indicado por J. Ratzinger com as suas palavras, atos e gestos: o ex-bispo de Roma, velho ou jovem, doente ou saudável, capaz ou inválido, se retira para viver em oração e em silêncio.
Serão as disposições da Sé vacante que entregarão legítima e integralmente o ministério petrino a um novo papa bispo de Roma.
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Para futuros “papas eméritos”, são necessárias normas mais precisas, completas e transparentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU