Vozes de mulheres são necessárias para o discernimento genuíno no sínodo. Artigo de Phyllis Zagano

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12 Fevereiro 2021

“O catolicismo sempre foi uma tenda muito grande. A história dos sínodos e conselhos é realmente uma tentativa de fazer com que todos se deem bem. Não é 'caminhar junto para se dar bem', mas, antes, vir à mesa com interesse genuíno na discussão e, sim, discernimento. A diferença, pelo menos ultimamente, é que as mulheres podem entrar na tenda e sentar à mesa. Votando ou não votando, na última vez, suas vozes foram ouvidas mesmo que todos os seus problemas e solicitações não tenham sido apresentados. Ainda...”, escreve Phyllis Zagano, teóloga, pesquisadora associada da Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 12-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis o artigo.

 

Boas novas: o Papa Francisco nomeou a irmã xaveriana Nathalie Becquart como subsecretária do Vaticano para o Sínodo dos Bispos, possibilitando-a de ter direito a voto. As outras notícias: o segundo subsecretário nomeado, o agostiniano Luis Marín de San Martín, tornar-se-á um bispo.

Quanto mais as coisas mudam...

Ainda assim, é importante ter uma voz de mulher perto do topo, e o fato de que Irmã Becquart provavelmente votará faz uma declaração importante sobre o papel do não ordenado.

Acreditando que a pandemia acabará até lá, o Papa Francisco está convocando um sínodo para outubro de 2022 para discutir a sinodalidade.

Para discutir o quê?

Sinodalidade. Essencialmente, significa caminhar juntos. O conceito gira em torno da maneira como a igreja tem – ou parece ter – tomado decisões ao longo dos séculos. Portanto, embora ninguém saiba exatamente quem será chamado a Roma, podemos ter certeza de que serão os bispos. A julgar pela experiência do sínodo mais recente – um sínodo extraordinário que contemplou a Igreja da Pan-Amazônia – também podem ser convocadas mulheres. Se elas terão um voto, resta saber.

O tema de outubro de 2022 é “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. A tarefa dos membros do Sínodo, sejam eles homens ou mulheres, religiosos ou seculares, clericais ou leigos é entrar em um sério discernimento sobre como a igreja (comunhão) – ou seja, toda a igreja (participação) – pode caminhar (missão) à luz do Espírito. A palavra-chave aqui é discernimento.

Portanto, um sínodo sobre sinodalidade não é tanto para tomar decisões, mas para tomar decisões sobre como a Igreja pode tomar decisões e eventualmente tomar decisões. Parece confuso? Claro. A Igreja é um negócio confuso e, se não fosse de origem divina, teria seguido o caminho de centenas de empresas falidas ao longo dos tempos.

E a palavra-chave, como eu disse, é discernimento. Francisco sempre fala sobre a necessidade genuína de discernimento enquanto a Igreja continua a se mover, crescer e se desenvolver. Quando a Comissão Teológica Internacional publicou sua longa exegese sobre o discernimento em março de 2018, decifrou o problema em seu parágrafo 114:

"O discernimento deve se desenvolver em um espaço de oração, de meditação, de reflexão e do estudo necessário para escutar a voz do Espírito; mediante um diálogo sincero, sereno e objetivo com os irmãos e as irmãs; com atenção às experiências e aos problemas reais de cada comunidade e de cada situação; no intercambio de dons e na convergência de todas as energias em vista da edificação do Corpo de Cristo e do anúncio do Evangelho; no crisol da purificação dos afetos e dos pensamentos que torna possível a inteligência da vontade do Senhor. Na busca pela liberdade evangélica de qualquer obstáculo que possa enfraquecer a abertura ao Espírito".

Portanto, o discernimento é a chave, não a lei. O discernimento é um processo, não um procedimento parlamentar. O discernimento é o meio, não o comércio de poder. Juntamente com uma compreensão genuína do discernimento, as palavras inter-relacionadas no tema do sínodo vindouro – comunhão, participação e missão – apresentam uma possibilidade emocionante para a Igreja pós-Vaticano II liderada por Francisco. Elas também apresentam alvos atraentes para os linha-dura da Igreja.

Sem dúvida, a extrema-direita eclesial muitas vezes está diretamente vinculada à extrema-direita política, e não apenas nos Estados Unidos. Veja as lutas internas na Alemanha. Veja a confusão eclesial-política na Polônia. Compare a fraca resposta da conferência dos bispos dos EUA à insurreição do Capitólio de 6 de janeiro com seu ataque direto ao presidente Joe Biden.

Adicione à mistura a crescente ala lunática da Igreja – os padre-blogueiros, exorcistas amadores e a mídia “católica” desagradável nos EUA e em outros lugares – e a perspectiva de sinodalidade parece realmente sombria.

A periferia será ouvida?

Na verdade, o discernimento genuíno requer atenção a todas as vozes, mesmo aquelas da cacofonia. O que elas querem? De onde elas vêm? Às vezes, o grito significa que o carro está saindo da estrada. E às vezes significa que está sendo tirado da estrada de propósito. Qual é?

O catolicismo sempre foi uma tenda muito grande. A história dos sínodos e conselhos é realmente uma tentativa de fazer com que todos se deem bem. Não “caminhar junto para se dar bem”, mas, antes, vir à mesa com interesse genuíno na discussão e, sim, discernimento.

A diferença, pelo menos ultimamente, é que as mulheres podem entrar na tenda e sentar à mesa. Votando ou não votando, da última vez suas vozes foram ouvidas mesmo que todos os seus problemas e solicitações não tenham sido apresentados. Ainda.

O Sínodo da Amazônia solicitou mulheres como leitoras e acólitas, e o cânone que restringia esse ministério leigo aos homens foi alterado. Pediu por mulheres diáconas – ou que pelo menos se discutisse mulheres diáconas – e o pedido foi para (mais uma) comissão. Pediu padres casados, mas não houve um movimento real.

A questão é que um corpo representativo da Igreja participou de uma discussão sobre como a missão da Igreja na Amazônia poderia ser realizada em comunhão com toda a Igreja. Eles discerniram.

Em alguns pontos, o Papa decidiu. Em alguns pontos.

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