27 Outubro 2025
Nas colinas ao sul de Hebron, na Cisjordânia ocupada, vive Sami Houraini, um jovem ativista palestino e líder da Juventude de Sumud. Em Masafer Yatta — um conjunto de doze aldeias ameaçadas pelas demolições do exército israelense — cada ato de cotidianidade é um ato de resistência. Essas são as mesmas aldeias onde Basel Adra, diretor e jornalista palestino que ganhou um Oscar por seu documentário "No Other Land", cresceu. A área foi declarada "zona militar 918", "mas é uma desculpa para legitimar a limpeza étnica que sofremos há décadas", relata Sami, falando de sua comunidade, sufocada pela ocupação e pela opressão dos colonos israelenses.
A reportagem é de Mosè Vernetti, publicada por La Stampa, 25-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 2017, ele fundou a Juventude de Sumud para proteger pastores, salvaguardar as famílias em maior risco e acompanhar crianças à escola, pois também são vítimas dos ataques de colonos. Ativistas internacionais atuam ao redor, documentando a violência dos colonos e do exército. "A presença deles tranquiliza a comunidade. Israel quer esconder seus crimes: ter testemunhas no local faz toda a diferença. Mesmo que ainda estejamos em perigo", continua ele, referindo-se ao amigo Awdah Hathaleen, morto a sangue frio por um colono em julho passado.
A temporada de colheita da azeitona, que por gerações marcou o ritmo de vida na Cisjordânia, tornou-se uma temporada de terror. Nos últimos dias, na aldeia de Deir Dibwan – perto de Ramallah – colonos israelenses incendiaram vários carros pertencentes a moradores palestinos. Na área de Masafer Yatta e em toda a região, os ataques a agricultores e colhedores continuam a se multiplicar. "Israel não quer a paz, quer a anexação total. Eles a votaram no parlamento, portanto, nem a escondem. E o mundo assiste em silêncio", diz Sami.
"Para deter o genocídio e os assassinatos diários, é preciso haver uma ação concreta para pôr fim à ocupação. Não são suficientes acordos temporários ou tréguas que Israel viola todas as vezes." Nos territórios ocupados, particularmente na Área C, onde os palestinos não têm uma autoridade para defendê-los, "a resistência é o nosso dia a dia; é uma questão de sobrevivência. Se usássemos a força, seríamos aniquilados." Das colinas de Masafer Yatta, Sami chegou a Roma para o quinto Encontro Mundial dos Movimentos Populares, realizado no prédio ocupado do Spin Time Labs, no bairro de Esquilino.
Os cinco dias de diálogo culminaram com uma procissão até o Vaticano para uma audiência com o Papa Leão XIV. As vozes daqueles que lutam por "Terra, Teto e Trabalho" se juntaram às dos palestinos de Masafer Yatta. "Esse é um momento importante: o Papa é uma figura que pode fazer ouvir as vozes dos povos oprimidos. Precisamos da sua voz e da do povo italiano para mudar a posição do governo, que é cúmplice do genocídio", explica Sami.
Durante o encontro, ele entregou ao Papa com um keffiyeh palestino. "É o presente mais importante que eu poderia lhe oferecer", relata. "É um símbolo da nossa identidade e da nossa luta, para que ele não se esqueça de nós. Nós o convidamos a visitar nossas aldeias para ver com seus próprios olhos como funciona a ocupação israelense."
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