12 Setembro 2025
No livro "Não há mais religião? Respostas de um filósofo em diálogo com Francesca Cosi e Alessandra Repossi" (Lindau, 2025) [1], o filósofo Marco Vannini oferece suas interpretações da crise das crenças religiosas, das igrejas e das religiões, com suas propostas para a fé.
A entrevista é de Giordano Cavallari, publicada por Settimana News, 11-09-2025.
Eis a entrevista.
Caro Marco, pode nos contar sobre sua trajetória de pesquisa pessoal e, consequentemente, a evolução do seu pensamento sobre religião e fé?
Devo dizer, antes de tudo, que, para mim, o caminho da pesquisa é idêntico ao caminho da vida, pois nunca considerei a religião simplesmente um tópico de investigação intelectual, como um período histórico ou um evento físico, mas sim a questão fundamental da existência. "O que você quer saber?", pergunta a razão a Agostinho nos Solilóquios, e Agostinho responde: "Deus e a alma". "Nada mais?" "Nada mais".
Bom, eu sempre pensei isso, desde menino, e não porque outras perguntas e outros conhecimentos possíveis não sejam importantes, mas porque esses são os dois essenciais, verdadeiramente fundamentais para a vida.
A famosa passagem agostiniana também tem o mérito de ligar intimamente as duas questões — Deus e a alma — que são, na realidade, dois lados da mesma moeda. "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás a ti mesmo e a Deus" recita o axioma de um Padre da Igreja, Gregório de Nissa, que sabiamente une o preceito do Apolo de Delfos — "Conhece-te a ti mesmo" — ao conceito cristão da profunda união entre Deus e a alma humana.
Ainda no espírito agostiniano, posso acrescentar que esta jornada de pesquisa e de vida sempre se desenrolou para mim à luz da razão e, portanto, da filosofia. Foi ela que me conduziu, por assim dizer, pela mão, da religião ingênua aprendida na infância à da idade adulta, passando pela peneira e pelo tormento da dúvida e de tantas perguntas.
O ponto de interrogação no título lança dúvidas sobre se ainda existe “religião” hoje: algo bom ou ruim, do seu ponto de vista?
O ponto de interrogação foi inserido para distinguir este pequeno livro — criado, sejamos claros, não por minha iniciativa, mas pelos dois inteligentes interlocutores — de outro livro sem ponto de interrogação, publicado em 2003 por um amigo de quem me lembro com grande carinho, Michele Ranchetti, professor de História da Igreja em Florença. Eles compartilham a observação de que, pelo menos na Itália, a religião, entendida como prática religiosa, está em péssimo estado, mesmo que não tenha desaparecido.
Do meu ponto de vista, isso é certamente ruim, porque — como sempre lembro, citando não um padre, mas o secularíssimo Maquiavel — sem religião, Estados e comunidades não podem subsistir, visto que a religião é o fundamento da moralidade. Uma moralidade "laica" e não religiosa certamente pode existir em teoria, mas na prática apenas muito raramente, entre algum filósofo renomado, e me parece que a realidade social atual, com sua degradação moral, demonstra isso com absoluta clareza.
Por outro lado, porém, como disse Hegel, o que é real é racional; isto é, esse eclipse, se não o desaparecimento, da religião, se ocorreu, deve ter suas razões e, nesse sentido, compreendê-las também significa encontrar seus elementos positivos. São o que poderíamos chamar brevemente de "purificadores", isto é, aqueles que libertam a religião de suas incrustações históricas particulares, do terreno da crença, devolvendo-a ao da fé.
Você distingue "crença" — ou "crer" — de fé. Gostaria de explicar?
É muito simples e, sobretudo, não é um pensamento que eu “inventei”, mas uma reflexão que pertence plenamente à tradição espiritual cristã: basta mencionar os nomes de São João da Cruz, e antes dele Mestre Eckhart, e depois dele o próprio Hegel – autores aos quais dediquei, há muitos anos, meu livro Dialética da Fé.
A fé é o movimento do intelecto, aliás, de toda a alma, em direção ao Absoluto e, precisamente como tal, elimina todas as crenças, reconhecendo-as em sua parcialidade, em sua finitude, isto é, em seu caráter determinado pelo tempo, pelo lugar, pela cultura e até mesmo pelas preferências pessoais dos indivíduos. Basta considerar como a crença religiosa cristã variou, não apenas ao longo dos séculos, mas também nas últimas décadas — por assim dizer, diante dos nossos olhos — e, de fato, como a crença religiosa não é mais homogênea, mas sim diversa para cada indivíduo, a ponto de os sociólogos da religião falarem de um cristianismo "faça você mesmo".
Hoje, o que está em crise na nossa sociedade: o “credo” ou a fé cristã católica, ou ambos porque estão ligados pelo menos na nossa tradição?
Infelizmente, tanto a crença quanto a fé estão em crise. O fato é que a crença está em crise há algum tempo, poderíamos dizer, desde o Iluminismo, nas mãos da ciência histórica, filológica e contemporânea, tornando impossível para nós ter a mesma crença religiosa que, por exemplo, Dante tinha.
Não precisamos citar constantemente Nietzsche e a "morte de Deus", que ele proclamou há um século e meio, para perceber isso. Ora, como a crença não se distingue da fé, o declínio da crença também trouxe consigo o declínio da fé, de modo que as pessoas frequentemente migraram diretamente de uma religiosidade tradicional para o ateísmo, ou para o indiferentismo religioso, como se, uma vez abandonado um certo "credo", o intelecto não fosse mais capaz de se mover em direção ao Absoluto, à Verdade, a Deus.
Podemos todos ter fé, independentemente do credo com o qual fomos criados?
Claro que podemos! Se — como eu disse — a fé é o movimento de toda a alma em direção ao Absoluto, ela é parte essencial da inteligência de todos, homens e mulheres, cristãos e não cristãos. Uma citação que cito com frequência — dos Upanishads indianos — diz que, sem fé, não se pode pensar: só quem tem fé pensa, porque pensar verdadeiramente significa desapegar-se de crenças particulares ingênuas e caminhar em direção ao universal.
Você sempre sugere um caminho místico, ou seja, o “desapego”?
A inteligência destaca — Mestre Eckhart frequentemente repete — isto é, realiza o trabalho da fé. Mas não se deve pensar no misticismo como algo especial que proporciona conhecimento religioso que, de outra forma, seria impossível.
A palavra "místico" surgiu como substantivo apenas nos tempos modernos, no século XVII, e, originalmente, era simplesmente um adjetivo que acompanhava palavras como "teologia" e pretendia indicar, como é justamente sua etimologia grega, o silêncio: não apenas e não tanto o silêncio externo, mas sobretudo um silêncio interno; isto é, o silenciamento dos próprios conteúdos, volições e pensamentos, o que significa, em outras palavras, desapegar-se deles.
Então, nesse silêncio interior, no vazio que a alma criou dentro de si, há espaço para a luz divina, a luz eterna, que sempre e em toda parte brilha sobre nós. Nossa tarefa é apenas nos desapegar, isto é, criar esse vazio, abrir espaço para ele.
Você também tem um profundo conhecimento das religiões orientais: o que você encontra em comum e diferente do cristianismo místico do qual você fala?
Antes de tudo, devemos dizer que há muitos pontos de contato importantes entre a espiritualidade cristã e a das grandes religiões/filosofias da Índia, principalmente o budismo e o hinduísmo: seria muito estranho se não houvesse, já que os seres humanos são fundamentalmente os mesmos em todos os lugares, apesar das diferenças causadas pelo tempo e pelo lugar!
Fazer uma lista dos pontos seria ir longe demais, então me limitarei a sublinhar apenas a ênfase comum colocada na interioridade: o que os cristãos chamam de “profundidade da alma”, na Índia de “caverna do coração”, ou algo semelhante.
Trata-se, porém, de insistir na necessidade de descobrir a verdadeira essência do homem, escondida, por assim dizer, pela superficialidade dos conteúdos psicológicos, que vêm e vão.
A este respeito, gostaria de recordar a grande figura de Henri Le Saux (1910-1973), o beneditino francês que foi à Índia, fundou o ashram de Shantivanam (que ainda existe, administrado por monges camaldulenses), assumiu a aparência de um asceta hindu e o nome indiano de Abhishiktananda, estudou a grande tradição espiritual indiana e viu claramente, como poucos, o quanto ela poderia contribuir para uma compreensão mais profunda do próprio cristianismo, ao qual, aliás, sempre permaneceu fiel.
No livreto de que falamos, o tema do budismo é abordado, dado o grande sucesso que ele está desfrutando no Ocidente: é claro que ele também constitui um belo caminho de desapego.
Um dos maiores teólogos do século passado, o jesuíta Henri de Lubac (que tive a sorte de conhecer em Florença, em uma conferência sobre Teilhard de Chardin, muitos anos atrás, quando eu era menino), diz corretamente que o budismo é o interlocutor mais sério com o qual o cristianismo deve se envolver, e eu concordo.
O fato é, porém, que, privado da referência a Deus, que é – como diz Eckhart – o “desapego supremo”, o budismo corre sempre o risco de se limitar a uma técnica de paz mental, como testemunham as inúmeras escolas de meditação às quais deu origem.
Quais são, então, para você, os tesouros indispensáveis do cristianismo?
Como afirmo explicitamente no livreto, há dois pontos fundamentais do cristianismo – que, entre outras coisas, o diferenciam essencialmente de outras religiões, inclusive as ditas monoteístas – a saber, a divindade e a humanidade de Deus em Cristo, e a concepção trinitária de Deus, que é a única possível para pensar corretamente, e não de modo mitológico, em Deus como espírito, conforme diz o Evangelho de João (4.24).
Este segundo ponto é de fato complexo, exigindo profunda reflexão filosófica e teológica, como encontrada, por exemplo, em Hegel, então não é surpreendente que seja frequentemente negligenciado.
Quanto ao primeiro ponto, que indica que o homem é simultaneamente uma coisa pobre, frágil e transitória, mas também uma criatura sublime in capacite majestatis, como diziam os antigos teólogos, creio que foi quase completamente esquecido hoje. De fato, prevalece uma imagem puramente humana de Jesus, visto como um profeta, um fazedor de milagres, um mestre moral, mas de modo algum como Deus (daí o uso do adjetivo "semelhante a Jesus", um neologismo que considero horrível, para indicar precisamente o que diz respeito à realidade histórica do homem Jesus, distinta daquela de Cristo, Filho de Deus e Deus).
O fato é que a ciência histórica contemporânea tornou impossível a antiga imagem mitológica de Cristo e, ao mesmo tempo, a experiência da divindade inerente, implícita, em cada ser humano foi perdida — a experiência pela qual Eckhart escreve que o homem bom não tem nada menos que Jesus em sua natureza humana.
Eis que a divindade de Cristo se perdeu, porque se perdeu a do homem, e com isso, obviamente, acabou não só o cristianismo, mas também a sociedade como um todo.
O ateísmo místico – pós-teísmo – é, na sua opinião, a perspectiva “religiosa” ou espiritual do futuro, especialmente para as novas gerações?
É preciso distinguir entre o ateísmo místico daquelas figuras que, ao ensinarem a ir além de Deus por Deus, arriscaram perder completamente a alteridade e a transcendência de Deus, mas nas quais o componente místico era, no entanto, verdadeiramente predominante – no sentido de unitas spiritus, união no espírito entre o homem e Deus – do pós-teísmo atual, no qual a dimensão mística é inexistente.
O pós-teísmo rejeita a imagem tradicional de Deus, conotada antropomorficamente, um velho cavalheiro lá em cima nos céus, que intervém de vez em quando nos assuntos humanos etc., e isso é compreensível, de fato, compartilhado, mas também rejeita o pensamento de Deus como pura luz eterna – sine modis, como diria Eckhart.
O pós-teísta assemelha-se ao ateu de Zaratustra, de Nietzsche, chamado de "o homem mais feio", pois não tolera a ideia da perfeição divina, devido à sua própria mesquinharia moral. Para além dessa conotação negativa, permanece o fato de que, no chamado pós-teísmo, a poderosa estrutura ética da religião – constituída pelo culto, pela oração e pela certeza da comunhão essencial entre o humano e o divino, entre os vivos e os mortos – também se encontra corroída. É isso que a religio, substituída por uma filantropia genérica, é universal e, portanto, universal.
Portanto, não acredito de forma alguma que o pós-teísmo seja uma perspectiva religiosa séria para o futuro, mas, como ele cai no caldeirão da Nova Era, é bem possível que, em uma época de analfabetismo espiritual, ele ganhe amplo consenso.
Comunidade e solidão mística: como elas podem andar juntas?
Que a solidão do "só em direção ao só" — como diz Plotino para indicar a relação entre o homem e Deus — não se opõe de modo algum ao senso de pertencimento à comunidade, é um fato, testemunhado pela experiência e pela vida de todas as grandes figuras espirituais.
Nessa solidão, o homem se encontra, de fato, no universal humano, e para ele a comunidade é toda a humanidade, não este ou aquele grupo étnico, nem mesmo esta ou aquela confissão religiosa.
Acredito, portanto, que o que você chamou de "solidão mística" é o caminho para superar os nacionalismos de todo tipo, a começar pelos étnico-religiosos que, justamente nestes meses, estão mostrando todo o seu horror.
Diante desse seu pensamento, o que a Igreja deveria propor hoje?
Veja, meu coração apertou quando, justamente nestes dias do Jubileu, ouvi o Papa Leão exortar os jovens a pensar grande, a desejar coisas grandes, porque é a mesma coisa que escrevi no livreto do qual estamos falando.
Obviamente, eu não sou ninguém, enquanto ele é o papa, mas provavelmente há algum ponto em comum, que é Agostinho e o agostinianismo. Basta lembrar o início das Confissões: fomos feitos para Deus, o Absoluto, e nada mais pode trazer paz aos nossos corações.
Pois bem, creio que é a isto que a Igreja deve nos exortar: à grandeza de alma, aquilo que os gregos chamavam de megalopsychia e os romanos de magnanimitas, porque este é o caminho principal da fé, entendida como dissemos no início.
Você é educador e pai de duas crianças: conseguiu transmitir seus pensamentos?
A educação consiste essencialmente em uma coisa: o exemplo. Não faz sentido falar, como fazemos hoje, de uma "ciência da educação", como se fosse uma questão de operar sobre matéria inerte. Não procurei transmitir minhas crenças, nem como professor, nem como pai. Deixei meus alunos, assim como meus filhos, completamente livres.
Junto com minha esposa, procurei dar o exemplo de estudo, de trabalho — ouso dizer, com toda a modéstia — de seriedade, especialmente ensinando-os a evitar as bobagens propagadas pela mídia, talvez lendo bons e importantes livros (os clássicos!). Acredito, também por experiência própria, que um bom livro pode guiar toda a vida. Além disso, junto com os livros, ensinei-os a manter contato com a natureza, porque São Bernardo de Claraval tem razão: paradoxalmente, aprende-se mais caminhando entre as árvores de uma floresta do que folheando as páginas de um livro.
Ou melhor – para concluir citando meu caro Eckhart – é a vida que dá o ensinamento mais nobre.
Nota
[1] O livro pode ser acessado aqui.
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