13 Agosto 2025
Desde sua fundação em 1948, o Exército tem forjado a identidade nacional de Israel e tem sido celebrado como uma instituição quase sagrada que há muito tempo desfruta do apoio unânime do público israelense.
A reportagem é de Lorenzo Tondo, publicada por El Diario, 12-08-2025.
A decisão de Israel de aprovar um plano para ocupar a Faixa de Gaza parece ter exacerbado as tensões entre o governo e altos oficiais militares israelenses, destacando novas fraturas dentro dos escalões superiores das forças armadas e prejudicando as relações com os reservistas convocados para a próxima fase da guerra, que também pode ser a mais perigosa.
De acordo com a mídia israelense, a divergência entre os líderes políticos de Israel e o alto comando militar se tornou evidente após uma semana amarga de vazamentos e recriminações públicas.
Segundo o professor Yagil Levy, diretor do Instituto de Estudos das Relações Civis-Militares da Universidade Aberta de Israel, esta é "a crise mais grave da história, desde a guerra de 1948, nas relações entre a liderança política e o exército". "Nunca antes líderes políticos forçaram o exército a realizar uma operação à qual se opunham veementemente."
O tenente-general e chefe do Estado-Maior Eyal Zamir expressou repetidamente sua discordância com uma ocupação total de Gaza nos sete dias que antecederam a reunião crucial em que o gabinete de segurança do governo aprovou seu plano. Isso mergulharia Israel em um "buraco negro" de insurgência sustentada, disse Zamir, alertando também para a responsabilidade humanitária que recairia sobre o país e o risco para os reféns.
A dissidência do Chefe do Gabinete desencadeou uma tempestade política em Israel, com o filho do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusando Zamir de motim. Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional e membro da extrema direita, instou o Chefe do Gabinete a "declarar claramente que cumprirá integralmente as instruções dos líderes políticos, mesmo que a decisão seja ocupar Gaza".
Alguns relatórios israelenses até falaram da possível renúncia de Zamir.
A liderança dos serviços militares e de inteligência israelenses já foi abalada por outras renúncias de alto nível durante a guerra, com manobras que forçaram a renúncia de Herzi Halevi, antecessor de Zamir como chefe do Estado-Maior, e Ronen Bar, ex-chefe do Shin Bet (a agência de contrainteligência).
Outros altos oficiais militares também renunciaram, juntamente com figuras proeminentes da inteligência militar e do Shin Bet. Entre eles estão Aharon Haliva, Yaron Finkelman, Oded Basyuk e Eliezer Toledano.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) sempre foram mais do que apenas um exército. A garantia máxima da sobrevivência do Estado, este símbolo do espírito coletivo que forjou a nação faz parte da identidade nacional desde a sua fundação em 1948. Uma instituição quase sagrada que há muito tempo desfruta do apoio unânime do público israelense.
Analistas alertam para consequências potencialmente irreparáveis para o governo devido ao confronto com a cúpula do Exército. Segundo Levy, tal cenário de conflito "poderia aumentar os protestos públicos, alimentados pelo medo dos reféns e pelo fato de que, até agora, o Exército tem garantido legitimidade para a continuação da guerra".
De acordo com o jornal Yedioth Ahronoth, um dos maiores de Israel, não há apenas divisões entre o governo e a liderança das FDI: também há diferenças dentro dos escalões superiores do exército.
O descontentamento parece estar se espalhando entre as tropas. Cada vez mais soldados israelenses se recusam a retornar a Gaza, chocados com o alto número de vítimas civis palestinas.
Um grupo de 41 oficiais e reservistas enviou uma carta aberta a Netanyahu, seu ministro da defesa e chefe do exército israelense em junho passado, afirmando que o governo estava travando uma "guerra desnecessária e sem fim" em Gaza e anunciando que não participaria mais de operações de combate no território.
Segundo a emissora nacional israelense Kan, apenas 60% dos soldados da reserva estão se apresentando para o serviço ativo. Esse número inclui as chamadas "recusas cinzentas", aqueles que alegam motivos médicos, aqueles que invocam obrigações familiares e aqueles que deixam o país discretamente durante sua missão e "esquecem" de verificar seus e-mails.
O jornal The Guardian solicitou uma resposta das Forças de Defesa de Israel.