06 Agosto 2025
"As manifestações se multiplicam, jovens queimam as convocações de alistamento militar, ativistas vão para a Cisjordânia para proteger os palestinos de colonos armados e intelectuais de prestígio convidam à objeção de consciência ou falam de "genocídio", um termo cada vez mais presente entre os israelenses que se opõem à guerra", escreve Anna Foa, judia da diáspora, historiadora, autora de volumes sobre a história dos judeus na Itália e na Europa, em artigo publicado por La Stampa, 05-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A notícia é clamorosa: 600 ex-altos funcionários dos serviços secretos e do exército israelense — entre eles 19 ex-chefes do Mossad e do Shin Bet, os serviços de segurança israelenses — lançaram um apelo público dirigido a Trump, onde se pede que convença Netanyahu a pôr fim à guerra, definida como "a guerra dos enganados", e a trazer os reféns para casa. São figuras carismáticas, e alguns deles levantaram sua voz individualmente, antes de 7 de outubro, durante as manifestações que ocorreram em 2023 contra a reforma judiciária de Netanyahu, para alertar que a política do governo corria o risco de minar a segurança do país. O fato de estarem todos juntos hoje para lançar um apelo tão dramático ao país representa evidentemente um sinal positivo de que existe uma oposição, inclusive nos níveis mais altos. Mas também indica que o tempo já se esgotou, que o que se abre diante de Israel é o desastre a menos que se "substitua uma máquina de veneno por uma máquina de esperança". A notícia, portanto, oferece conforto e ao mesmo tempo desperta angústia.
O que está acontecendo para que figuras tão prestigiosas do establishment se oponham com tanta força ao governo? Vamos começar pelo que aconteceu ontem, quando, por ocasião de Tisha be Av, o dia de jejum que comemora a destruição do Templo em Jerusalém em 70 d.C., o Ministro Ben Gvir, com centenas de seguidores, foi ao Monte do Templo, onde se erguem as grandes mesquitas, para orar. Lembremos que a administração do Monte é regida por uma série de acordos com a Jordânia, de forma que os muçulmanos têm o direito de orar lá e os judeus de visitá-lo. A Jordânia já manifestou seus protestos por essa violação, que afinal não é a primeira. Mas, neste delicado e terrível momento, será que o governo israelense realmente precisa entrar em rota de colisão com os países árabes com os quais assinou um acordo de paz? Acredita mesmo ser invulnerável?
Além disso, há uma mudança na opinião pública em grande parte do mundo, particularmente na União Europeia, onde muitos de seus Estados finalmente decidiram reconhecer o Estado da Palestina. "Todos apoiadores do Hamas!", grita Netanyahu. E, mais ainda, há uma mudança marcante na opinião pública também em Israel, especialmente após a retirada da gestão da ONU da ajuda humanitária e o início da carestia e da matança de palestinos deixados à fome.
As manifestações se multiplicam, jovens queimam as convocações de alistamento militar, ativistas vão para a Cisjordânia para proteger os palestinos de colonos armados e intelectuais de prestígio convidam à objeção de consciência ou falam de "genocídio", um termo cada vez mais presente entre os israelenses que se opõem à guerra. Enquanto isso, nos Estados Unidos, Jeremy Ben Ami, líder da J Street, a maior organização judaica liberal, depois de ter sido sempre contrário ao uso do termo "genocídio", declarou que não poderia mais se opor.
Sinais certamente menos importantes do que o apelo dos chefes da inteligência, mas que fazem crescer a opinião pública contra o governo e aumentam o isolamento internacional de Netanyahu. Esse apelo, no entanto, que vem não da oposição de esquerda, mas dos membros mais influentes do establishment militar, não pode deixar de ter enorme peso no país.
Um país onde os chefes do exército e dos serviços de inteligência sempre representaram um forte ponto de referência para a maioria das pessoas. O exército, os próprios serviços secretos, desfrutaram de grande prestígio por muito tempo no país, um prestígio que certamente declinou bastante hoje, depois que o governo de Netanyahu decapitou seus líderes nos últimos anos, substituindo-os por figuras política e até mesmo profissionalmente pouco confiáveis.
As vozes dos signatários desse apelo são aquelas que nenhum membro do governo, nem mesmo o mais extremista, podem acusar de antissemitismo. Se nem mesmo eles, com suas duras palavras, forem capazes de salvar Israel, e com Israel, acrescento eu, os palestinos de Gaza e da Cisjordânia, então será realmente o sinal de que toda a esperança está perdida.