29 Julho 2025
Apesar da redução do desmate, ilegalidades destruíram 2 mil hectares; TI Kayapó, Munduruku e Território Indígena do Xingu foram as mais atingidas.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-07-2025.
Apesar da redução de 18,2% no desmatamento em relação a 2023, Terras Indígenas (TI) com Povos Isolados seguem sendo pressionados por atividades ilegais, como garimpo, mineração e exploração de madeira. Foram mais de 2 mil hectares destruídos, o equivalente à 1,2 milhão de árvores derrubadas.
Os dados foram apresentados no relatório anual “Sirad-I: Sistema de Alerta de Desmatamento em Terras Indígenas com Registros de Povos Isolados de 2024”, do Instituto Socioambiental (ISA) e Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).
O estudo mapeou 224 milhões de hectares, que abrangem 33 áreas com registros de Povos Indígenas Isolados. O Globo relatou que as áreas com maiores perdas de vegetação nativa foram as TI Kayapó (PA) e Munduruku (PA) e o Território Indígena do Xingu (MS) – que concentraram 60% do total desmatado no período.
Tiago Moreira, antropólogo e pesquisador responsável pelo monitoramento, alertou para o aumento da exploração ilegal de madeira ao longo da Bacia do rio Xingu, que tem afetado diretamente o Parque Indígena do Xingu. “O roubo de madeira vem sendo denunciado desde 2019, mas houve uma disparada nos últimos dois anos, inclusive com o aumento da abertura de ramais dentro do território”, afirma.
Outro fator importante que puxou os números para cima em 2024 foi o fogo. Segundo o ISA, a alta incidência de queimadas foi uma combinação entre o clima muito seco (fator climático) e avanço da devastação em torno dos territórios (ação humana). A TI Kayapó, por exemplo, respondeu por 40% de todos os focos de queimadas registrados pelo estudo. Houve 30 vezes mais incêndios florestais do que em 2023.
A TI Munduruku sofreu aumento de 40% no desmatamento por mineração ilegal, somando 159 hectares; na TI Zoró, em Rondolândia (MT), o garimpo ilegal foi responsável pela derrubada de mais de 5 mil árvores. Apesar de registrar queda de 89% no desmatamento, a TI Piripkura, entre os municípios de Colniza e Rondolândia (MT), teve mais de 12 mil árvores derrubadas em área em recuperação.
O relatório também destacou a situação da TI Jacareúba-Katawixi, nas cidades de Canutama e Lábrea (AM), onde o desmatamento voltou a ocorrer em 2024 por conta do projeto de reconstrução da BR-319 e do complexo hidrelétrico do Rio Madeira.
Uma operação coordenada pela Polícia Federal (PF), junto com ICMBio e FUNAI, destruiu 16 dragas de garimpo ilegal nos rios Jutaí, Bóia e Igarapé Preto, no município de Jutaí (AM), informaram o g1 e R7. Ninguém foi preso. A atividade ilegal vem causando danos socioambientais severos à região, como a degradação da calha do rio Jutaí e de seus afluentes, o assoreamento, o lançamento de sedimentos e de rejeitos contaminados por mercúrio.
Uma nota técnica do Instituto Socioambiental (ISA) afirmou que o PL da Devastação coloca em risco quase um terço das Terras Indígenas e 90% das áreas Quilombolas do país. Segundo O Globo, um dos pontos sensíveis do projeto é a exclusão de Comunidades Tradicionais e Indígenas do processo de licenciamento quando estiverem em territórios não homologados ou titulados. Se sancionado, o projeto de lei “apaga” da legislação, para efeitos de licenciamento, 259 Terras Indígenas e mais de 1,5 mil territórios Quilombolas.