24 Julho 2025
O cardeal Pizzaballa havia se oferecido em troca dos reféns israelenses logo após o massacre cometido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. Agora, essa oferta pode contribuir para desbloquear o impasse na região. Está ressurgindo na web a entrevista de outubro de 2023 (disponível aqui) na qual o Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, declarava-se disposto a entregar-se em troca da libertação dos reféns israelenses capturados pelo Hamas.
A informação é de Francesco Sisci, publicada por Settimana News, 22-07-2025.
Essa oferta foi posteriormente atropelada pelos desenvolvimentos subsequentes, num momento em que a guerra parecia prometer uma solução para a crise. Agora que nos encontramos claramente num beco sem saída, a oferta de Pizzaballa parece mais atual do que nunca.
Cardinal Pizzaballa dropped this quote pic.twitter.com/uyTaCnWu6S
— cassie 🇻🇦 (@CatholicCassie) July 22, 2025
Seu gesto lembra o do Papa Paulo VI, em 1978, quando se ofereceu em troca de Aldo Moro, o líder político italiano sequestrado pelas Brigadas Vermelhas. As Brigadas Vermelhas rejeitaram a oferta, e com toda probabilidade o Hamas fará o mesmo hoje. No entanto, então como agora, o gesto é decisivo: ele quebra o debate acirrado entre falcões e pombas. Em 1978, o parlamento italiano estava dividido sobre ceder ou não à negociação com os terroristas. Vantagens e desvantagens das duas posições eram debatidas na imprensa em um ritual que parecia o esfolamento medieval das instituições.
De maneira semelhante, a opinião pública israelense e internacional debate há dois anos sobre o que fazer com o Hamas e seus reféns. A realidade substancial é que o Hamas não quer libertar os reféns. Seu objetivo político autêntico é submeter Israel e o Ocidente a uma lenta humilhação política imediata que os dilacere por dentro.
O gesto do Papa desvendava essa ficção. O objetivo das Brigadas Vermelhas não era uma negociação verdadeira com o Estado, mas sim inserir elementos destrutivos no próprio Estado.
O mesmo vale hoje para o Hamas. Seu objetivo não é a paz, a libertação de prisioneiros palestinos, ou mesmo a libertação da Palestina. O objetivo é colocar em circulação no sangue ocidental um vírus que se desenvolva em doença mortal e destrua tudo.
É uma estratégia apocalíptica, porém com uma direção oculta e realista.
Em 1978, as brigadas russas agiam sob as ordens de Moscou para incitar o lado fraco do Ocidente, a Itália. Hoje, o Hamas age sob as ordens de Teerã e talvez também de Moscou para incitar o Ocidente e distraí-lo do campo de batalha ucraniano.
Nessa estratégia, as divisões dentro do Hamas, assim como 47 anos atrás as divisões nas Brigadas Vermelhas, são cortinas de fumaça e realidades que escondem ficções.
A realidade profunda é posta em evidência por Pizzaballa: o Hamas não libertará os reféns nem aceitará o cardeal em troca. Mas precisamente a oferta não atendida, hoje como em 1978, mostra a estratégia impiedosa dos terroristas, o apocalipse.
Em 1978, o desafio terrorista foi derrotado na Itália com um conjunto articulado de políticas diversas. O governo associou o partido comunista, que havia estado por trinta anos na oposição e que era o alvo que os terroristas queriam atingir. Da mesma forma, hoje, Israel deve separar os palestinos do Hamas, este é o verdadeiro campo de batalha na guerra.
Este é o esforço que a Igreja Católica está tentando em Israel e no mundo desde o início da guerra. Tudo é muito diferente. 1978 na Itália não é como 2025 em Israel, porém certas semelhanças são pertinentes. Como então uma parceria entre governo e partido comunista inverteu o rumo da batalha política contra o terrorismo vermelho, assim hoje provavelmente uma parceria entre Israel, Igreja Católica e palestinos moderados pode ser crucial para vencer os terroristas do Hamas.