05 Outubro 2022
"Paulo VI trabalhou arduamente por um ecumenismo real. O abraço com o Patriarca Ecumênico Atenágoras em sua viagem à Terra Santa, em 1964, e a posterior revogação das excomunhões mútuas de 1054, inauguraram uma nova época na história da Igreja", escreve Christoph Schmidt, em artigo publicado por katholisch.de e reproduzido por Settimana News, 03-10-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Durante os 15 anos de seu pontificado, ele modernizou a Igreja como nenhum outro papa do século XX. Para a ocasião, a agência da Igreja Alemã dedicou-lhe um interessante breve perfil.
O mundo estava mudando rapidamente e a Igreja estava engajada no maior concílio de sua história quando a eleição como pontífice recaiu sobre ele.
O cardeal de Milão Giovanni Battista Montini certamente não aspirava a subir ao trono papal. "Aqui sou crucificado com Cristo", teria dito no final do conclave em junho de 1963.
O caminho que depois realizou como papa foi exemplar para a Igreja: foi canonizado em 2018. Em 26 de setembro completaria 125 anos.
Ele foi o último papa a usar uma tiara por ocasião de sua investidura, como símbolo do triplo poder sobre o mundo. Depois dele ninguém a usou mais e nenhum outro pontífice desde então pretendeu fazê-lo. Ele foi chamado a assumir a herança eclesial mais difícil que um papa do século XX, reservado como ele, poderia receber. Ao final de seus 15 anos de pontificado (1963-78), a face da Igreja Católica havia mudado.
Externamente, a delgada figura de Montini parecia a antítese de seu popular predecessor, João XXIII. Nascido em Concesio (Brescia), no norte da Itália, em 1897, filho de um advogado, frequentou a Academia Diplomática Papal e trabalhou durante 30 anos na Secretaria de Estado do Vaticano. "Sempre gentil, em certo sentido tímido", assim o descreveram seus contemporâneos. Mas quando se tornou arcebispo na metrópole industrial de Milão em 1954, a pessoa intelectual fria e reservada que era buscou o diálogo também com os trabalhadores das fábricas, sobre os quais, durante as greves, a bandeira vermelha tremulava.
O novo papa não tinha nenhuma dúvida sobre o fato de que deveria continuar o Concílio Vaticano II (1962-1965): "Para isso - disse - queremos usar todas as energias que o Senhor deu nós". Com muito tato, ele conduziu os bispos por três sessões.
Ele estava ciente das limitações e perigos de uma instituição de 2.000 anos que tinha a pretensão de possuir a verdade absoluta e isso exigia uma sensibilidade que superava as forças de uma única pessoa.
Quando o Concílio foi encerrado em 8 de dezembro de 1965, seus documentos foram como um terremoto para os tradicionalistas como o arcebispo francês Lefebvre e alguns representantes da Cúria, e não corresponderam às expectativas dos progressistas.
Tendo como pano de fundo a escalada da Guerra do Vietnã, seu apelo pela paz perante as Nações Unidas em Nova York em 1965 foi considerado um marco, mas também por outros aspectos Paulo VI marcou a história da Igreja.
Para alguns, a declaração sobre a liberdade religiosa, a abertura da liturgia às línguas nacionais de cada país, o reconhecimento das outras religiões como interlocutoras do diálogo constituíam uma verdadeira traição da mensagem de Jesus
Outros se ressentiram por sua insistência sobre o primado pontifício, por exemplo em relação aos sínodos dos bispos decididos pelo concílio. Paulo VI sofreu de ambos os lados.
Ele continuou a promover sua visão de um papado moderno e, no curso de uma profunda reforma da Cúria, aboliu a corte pontifícia: não mais penas de avestruz, nem mais liteiras flanqueadas por nobres em trajes da corte espanhola. Ele até mandou retirar as pesadas cortinas de brocado no Vaticano e pintar os espaços de branco. A nova simplicidade deveria manifestar apenas a substância das mensagens.
Também do ponto de vista político, o primeiro “papa itinerante” dos tempos modernos imprimiu alguns impulsos, já pelo fato de ter duplicado o número de nunciaturas vaticanas; suas viagens estenderam-se da América do Sul ao Extremo Oriente.
Durante a escalada da Guerra do Vietnã, seu apelo pela paz perante as Nações Unidas em Nova York em 1965 foi considerado um marco.
Ele foi o primeiro papa a iniciar conversas com a União Soviética e o bloco oriental ateu, apesar dos protestos dos círculos conservadores.
Paulo VI trabalhou arduamente por um ecumenismo real. O abraço com o Patriarca Ecumênico Atenágoras em sua viagem à Terra Santa, em 1964, e a posterior revogação das excomunhões mútuas de 1054, inauguraram uma nova época na história da Igreja.
Ele buscou o diálogo com o mundo, quando o Ocidente se distanciava da Igreja mais drasticamente do que nunca. Ele muitas vezes parecia impotente contra a revolução cultural da esquerda dos anos 1960 e 1970.
As reações negativas à sua encíclica Humanae vitae, de 1968, na qual se opunha à separação radical entre sexualidade e abertura à vida e ao planejamento dos nascimentos por meio de contraceptivos artificiais, mostraram seu distanciamento. Na Alemanha, foi alcunhado de "Paulo da pílula".
Passou quase despercebido que, anos antes, ele havia abolido o infame "juramento antimodernista" para os sacerdotes ou que havia apoiado vigorosamente uma ordem econômica mundial mais justa em sua encíclica social Populorum progressio (1967).
O difícil pontificado teve seu preço. Suas forças diminuíram visivelmente na década de 1970 e o abandonaram completamente em 6 de agosto de 1978.
Seu biógrafo, Jörg Ernesti, o definiu como o "papa esquecido". Mas para muitos continua a ser o maior do século XX.
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Paulo VI mudou a cara da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU