A Teologia só se tornará um laboratório cultural se considerar os desafios sociopolíticos, ecológicos e culturais, diz Margit Eckholt

“Uma teologia fundamentalmente contextual: os contextos e as pessoas importam” é o tema da videoconferência da teóloga alemã no Instituto Humanitas Unisinos nesta terça-feira, às 10h

Foto: Instituto Humanitas Unisinos | IHU

15 Julho 2025

Desenvolver uma “teologia fundamentalmente contextual”, tema da videoconferência da teóloga alemã Margit Eckholt, nesta manhã, 15-07-2025, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, significa dizer que o ponto de partida do trabalho teológico está sob o signo dos sinais dos tempos. Em outras palavras, adiantou a teóloga ao IHU, trata-se de uma teologia baseada “na dignidade e no reconhecimento radical de todos os seres humanos – independentemente do sexo, condição social e etnia”. A proposta é fundamentada biblicamente na Carta de Paulo aos Gálatas: “Nem judeu nem grego, escravo nem livre, homem e mulher, mas um só em Cristo” (GL 3,28). A palestra da professora de teologia dogmática e teologia fundamental da Universität Osnabrück integra o Ciclo de estudos: Mudança de época e o fazer teológico hoje. Desafios e perspectivas.

Na conferência, Margit Eckholt abordará a teologia contextual a partir de quatro pontos: a leitura dos sinais dos tempos; as inspirações do Concílio Vaticano II; novas perspectivas sobre a doutrina; e uma releitura intercultural e intercontinental dos textos conciliares a serviço de uma teologia contextual e de uma Igreja universal.

Uma teologia contextual, assegura a pesquisadora, precisa estar em sintonia com os processos de transformação social, política e cultural em curso no mundo. “A teologia só pode se tornar um ‘laboratório cultural’ em tempos de grandes mudanças, se levar em conta os diversos desafios sociopolíticos, ecológicos e culturais em um intercâmbio interdisciplinar”, complementa. 

Para a teóloga, as bases para uma teologia contextual encontram-se em dois documentos conciliares, a Constituição Pastoral Gaudium et spes [Alegria e esperança], que trata sobre as relações entre a Igreja e o mundo, e a  constituição dogmática Dei Verbum, que aborda a Revelação divina. “A Constituição sobre a Revelação, 'Dei Verbum', contribuiu para uma renovação da doutrina da revelação; não se trata de ‘ensinar’ aos homens as ‘verdades divinas’, mas de abrir um espaço de comunicação ­­­entre Deus e o homem. Isto é preparado pelo próprio Deus, Deus revelou-se definitivamente ao homem em Jesus Cristo para a salvação, Deus convida o homem a tornar-se amigo de Deus, segundo o texto central do início da Constituição”, explica. 


A teologia contextual também foi proposta pelo Papa Francisco na carta apostólica sob forma de motu proprio Ad theologiam promovendam [Para promover a teologia], em novembro de 2023. “Não se contentem com uma teologia abstrata. Que seu lugar de reflexão sejam as fronteiras. [...] Os bons teólogos, como os bons pastores, têm o cheiro de povo e de rua e, com sua reflexão, derramam óleo e vinho sobre as feridas dos homens”, disse o pontífice aos teólogos. Uma teologia contextual, no entendimento do pontífice, é aquela comprometida em ser “capaz de ler e interpretar o Evangelho nas condições em que os homens e as mulheres vivem cotidianamente, nos diversos ambientes geográficos, sociais e culturais, e tendo como arquétipo a Encarnação do Logos eterno, a sua entrada na cultura, na visão do mundo e na tradição religiosa de um povo”. A Carta foi traduzida para o português pelo IHU e está disponível aqui.

À primeira vista, a proposta de Francisco pode gerar indisposições entre aqueles que asseveram um único modelo teológico, objetivo e verdadeiro, e aqueles que advogam em favor de múltiplas teologias, que dialogam com as especificidades dos povos e as fragilidades humanas. Mas um olhar mais atento sobre a história da teologia e da Igreja mostra que “toda teologia é contextual”, disse o teólogo Francisco de Aquino Júnior, professor da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), que participou do Ciclo de estudos: Mudança de época e o fazer teológico hoje. Desafios e perspectivas na semana passada. 

Na videoconferência “Desafios e perspectivas para uma teologia contextual”, o teólogo destacou a pluralidade de teologias desenvolvidas ao longo da história como “expressão autêntica e fecunda da atomicidade da fé vivida, celebrada e pensada”. Apesar de a teologia ser contextual, esclareceu, a “consciência” da contextualidade e do fazer teológico é “relativamente recente na teologia”. É fruto, disse, “da reflexão crítica do fazer teológico, desenvolvida de modo particular na América Latina na segunda metade do século XX. Está ligada, não simplesmente à reflexão crítica do fazer teológico, mas a um fazer teológico concreto que se enfrenta de modo consciente e consequente com seu contexto vital e reconhece e explicita seu caráter contextual. Só aos poucos, e não sem tensões, foi se impondo a consciência dessa contextualidade fundamental de toda teologia”. No século XXI, caracterizado por diversos intelectuais como a “era de incertezas”, de “transição”,  de “policrise”, complementa, a teologia, “não pode ficar indiferente ou ‘lavar as mãos’”. O teólogo defende uma “teologia contextual encarnada”, comprometida a compreender e enfrentar os desafios do nosso tempo. 

Sobre a palestrante

Margit Eckholt é doutora em Teologia pela Universidade de Tübingen, com a tese "A razão na corporeidade. Mediação cristológica no pensamento de Nicolas Malebranche", pela qual recebeu o Prêmio Karl Rahner de Pesquisa Teológica. Obteve habilitação em Teologia Dogmática na Faculdade de Teologia da Universidade de Tübingen, com a tese "Cultura – Poética – Hermenêutica. Em busca de uma forma de teologia no campo da tensão entre a diversidade cultural e os processos globais de mudança na sociedade mundial".

Margit Eckholt (Foto: Reprodução Vatican News)

Margit possui experiência no campo da pesquisa e ensino da teologia dogmática e fundamental, com ampla experiência de cooperação acadêmica internacional por meio de palestras e projetos de pesquisa. Destaca-se a sua participação e colaboração com instituições acadêmicas de vários países latino-americanos, o que a torna uma grande conhecedora da teologia hispano-latino-americana. É presidente do Intercâmbio Cultural Germano-Latino-Americano (ICALA) e foi presidente da Associação de Teólogos da Europa. Integra a Comissão "Caminho Sinodal" na Alemanha. É autora de diversos livros e artigos, entre os quais se destaca: "Iglesia en la diversidad. Esbozo para una eclesiología intercultural" (Ediciones Alberto Hurtado: Santiago do Chile, 2014).

Sobre o evento 

Conferência: Uma teologia fundamentalmente contextual: os contextos e as pessoas importam

Conferencista: Profa. Dra. Margit Eckholt, da Universität Osnabrück, Alemanha 

Quando: Terça-feira, 15-07-2025

Horário: 10h 

Transmissão: Página eletrônica do IHU, YouTube e redes sociais

📌 Não é necessária inscrição para assistir à palestra. Será fornecido certificado a quem se inscrever e, no dia do evento, assinar a presença por meio do formulário disponibilizado durante a transmissão.  

📌 O evento ficará gravado no YouTube e Facebook e pode ser acessado a qualquer momento.

📌 Mais informações sobre o Ciclo de estudos: Mudança de época e o fazer teológico hoje. Desafios e perspectivas estão disponíveis aqui

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