11 Junho 2025
"Continuar sendo humanos tornou-se muito difícil, mas ainda mais árduo responder à proposta exigente do Evangelho, que pede mais", escreve Andrea Monda, jornalista e escritor italiano, em conversa com o filósofo Massimo Cacciari, publicado por L'Osservatore Romano, 07-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Se ao menos o cristianismo tivesse se tornado uma ética praticada pelos homens!”, exclama Massimo Cacciari, que imediatamente esclarece: “Mas o cristianismo é muito mais do que uma ética”. O ponto de partida dessa conversa com o filósofo foi oferecido pelo comentário de Leão XIV à parábola do Bom Samaritano durante a catequese de 28 de maio passado, quando sublinhou que a vida é feita de encontros que fazem emergir “o que somos”. E aí não tem serventia ser religioso, como evidencia o texto do Evangelho de Lucas que mostra o sacerdote e o levita que não sentem compaixão pela pessoa ferida à beira da estrada. “A prática do culto não leva automaticamente a ter compaixão”, observou o Papa Prevost, “na verdade, antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade! Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos”.
Não apenas humanos, acrescenta Cacciari, mas também mais do que humanos. E explica: “A parábola parte do tema do próximo porque Jesus foi questionado sobre esse tema e responde que o próximo não é aquele que está ao seu lado; o próximo é você. Proximidade não é ‘estar perto’, compaixão nesse sentido é o movimento, a dinâmica com a qual, superando qualquer obstáculo – e vemos o obstáculo que o samaritano deve superar – você se aproxima o máximo possível até entrar no corpo do outro. O termo grego para “misericórdia” (éleos) significa precisamente a ruptura das próprias entranhas. As entranhas se rompem, se torcem diante da visão do outro no chão, massacrado”.
Como num fluxo de consciência, as palavras de Cacciari aterrissam imediatamente, naturalmente, sobre a atualidade mais atroz: “Quando você vê as crianças de Gaza, sente compaixão no sentido literal em que é usada na parábola do samaritano, significa que as suas entranhas se despedaçam como as delas. Não se trata, portanto, de ‘sentir-se próximo’, mas de se aproximar daquele homem massacrado na rua, de se tornar um massacrado como ele, de se sentir massacrado como ele. O resto é fazer boas obras, o resto é levar ajudas humanitárias a Gaza, levar o que comer e beber, o que obviamente é ótimo, é muito bom, mas não é o sentido radical da parábola”.
Essa radicalidade não se esgota na parábola, mas evoca a página mais radical do Evangelho. “Esse texto deve ser lido em conjunto com o discurso das Bem-Aventuranças, no qual encontramos a palavra mais paradoxal e extraordinária proferida, até mesmo em relação ao Primeiro Pacto, ao Antigo Testamento: amai os vossos inimigos. Aquele que foi massacrado ali na estrada é, de fato, “inimigo”. Você sente suas entranhas se romperem pela dor da mesma dor que você vê no outro e esse outro é seu inimigo”.
O filósofo se debruça sobre o escândalo das palavras de Jesus, hoje, mas também naquela época e por todos os séculos que nos separaram de quando aquelas palavras foram pronunciadas: “Aquelas palavras sempre soaram escandalosas e nunca foram vividas totalmente. Penso em São Francisco mas quem, quantos cristãos viveram assim?”
E aqui não é a religiosidade que entra em jogo, mas a graça. “Aqui entra em campo a graça pela qual algumas pessoas conseguem ser como o samaritano. Mas é assim em muitas outras passagens do Evangelho; e como temos um Papa agostiniano, posso me permitir citar uma famosa expressão de Agostinho no comentário ao Evangelho de João: Ad hoc Deus vocat [...] Ne simus homines, é a isso que Deus nos chama, a ser não humanos, mas mais que humanos. Não a um apelo humanitário genérico, mas justamente àquela compaixão. Depois disso, gostaria de pensar como seria se tivéssemos pelo menos conservado um pouco de humanidade. Porém, a palavra de Jesus é paradoxal também nisso, e é claro que se eliminarmos o paradoxal da mensagem, faremos do cristianismo uma ética. E que sorte seria se todos fôssemos eticamente cristãos como Kant foi, como tantos foram! Mas parece que esquecemos isso também”.
Continuar sendo humanos tornou-se muito difícil, mas ainda mais árduo responder à proposta exigente do Evangelho, que pede mais. “Pede para amar o inimigo. Para ter aquela compaixão pela qual você entra no corpo do outro, essa empatia extrema. Que é, afinal, Maria. A figura cristã que encarna essa misericórdia total e gratuita de querer salvar é Maria. Assim como o samaritano que não quer fazer nada além de salvar, não julga, salva. Aquele que é seu inimigo, não o julga, o salva. “Eu vim para salvar, não para julgar”, como diz Jesus no Evangelho de João. Tudo isso é paradoxal, mas é o cristianismo”.