04 Junho 2025
O que significa participar da missão de Deus num contexto global complexo e em transformação? Foi o enfoque que a secretária geral da Federação Luterana Mundial (FLM), pastora Dra. Anne Burghardt trouxe à consulta das igrejas de Taiwan, reunida em maio sob o tema “Encarnando a Esperança: Renovando a Missão em um Mundo Ferido”.
A reportagem é de Edelberto Behs.
Burghardt falou sobre as implicações da teologia missionária que leva a sério a encarnação de Deus, observando que os primeiros discípulos, ao encontrarem o Cristo ressuscitado, foram transformados e capacitados para ir e compartilhar a Boa Nova, que haviam experimentado como “amorosa, compassiva e libertadora”.
A líder luterana apontou seis características-chave de uma teologia encarnada e esperançosa. A primeira dessas características é que tal teologia deve sempre começar por “compreender o contexto em que é vivido”, para que o Evangelho possa ser comunicado em uma linguagem clara e de fácil compreensão.
Em segundo lugar, disse, uma teologia encarnada e esperançosa deve ser profundamente pessoal, mas também comunitária, “pois ninguém pode ser igreja sozinho e não podemos ser verdadeiramente humanos separados dos outros”.
Como terceiro aspecto, prosseguiu, essa teologia “fala como uma voz profética” e “não se esquiva de confrontar a injustiça e o abuso de poder”. Mas essa voz deve ser direcionada também para dentro da igreja, tanto “quanto para fora da igreja”.
Num mundo de meritocracia e egocentrismo, arrolou Burghardt como quarto aspecto, a teologia encarnada “é esperançosa e compassiva, enraizada na misericórdia e na graça de Deus”. Vozes proféticas, disse, são mais eficazes quando andam de mãos dadas com misericórdia e humildade.
Ela também abrange, e este é o quinto ponto, toda a Criação, reconhecendo “as consequências radicais da encarnação de Deus” e compreendendo “nossa responsabilidade de cuidar da Terra e de todos os seres vivos”. Apontando para as contribuições de líderes católicos e ortodoxos para o desenvolvimento da ecoteologia, ela frisou que o cuidado com a Criação e “o chamado para caminhar suavemente nesta Terra” devem ser traduzidos em ações como parte de uma missão holística.
Por fim, como sexto ponto, arrolou que essa teologia pode oferecer respostas em um mundo desafiado pela rápida evolução das tecnologias digitais, incluindo a inteligência artificial. Assim como Lutero, em sua época, utilizou novas tecnologias para a divulgação do Evangelho, as tecnologias de comunicação de hoje podem apoiar a missão, permitir um alcance mais amplo e criar novos espaços de engajamento.
Ela alertou, contudo, que a IA jamais poderá substituir “a presença fortalecedora de uma comunidade cristã unida. As igrejas devem, pois, discernir com responsabilidade e imaginação como usar a tecnologia para o bem-estar das pessoas.