03 Junho 2025
"O papa mudou, mas o vínculo com os movimentos populares iniciados por Bergoglio em 2014, quando ele os reuniu no Vaticano vindos de meio mundo, não foi rompido", escreve Luca Kocci, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 03-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O papa mudou, mas o vínculo com os movimentos populares iniciados por Bergoglio em 2014, quando ele os reuniu no Vaticano vindos de meio mundo, não foi rompido. Ontem, de fato, Leão XIV recebeu em audiência mais de trezentos delegados de movimentos e associações que, em maio do ano passado, deram vida à Arena da Paz em Verona, uma iniciativa criada pelo Beati i costruttori di pace (Bem-aventurados os construtores da paz) de Don Albino Bizzotto em 1986 e que, depois, a partir de meados da década de 1990, foi se reduzindo progressivamente, até o relançamento com o encontro de 2024, da qual o Papa Francisco também participou.
Um encontro programado há meses, que Prevost quis confirmar. O formato não é mais internacional e internacionalista como foram os eventos promovidos por Bergoglio (il manifesto em 2017 publicou um volume sobre os três encontros de 2014-2015-2016: Terra, casa, trabalho, as palavras-chave daquelas iniciativas). No entanto, ontem, com a diocese de Verona e os missionários combonianos desempenhando o papel de organizadores, havia uma forte representação de movimentos e grupos italianos empenhados com a paz, a justiça, o meio ambiente e a solidariedade internacional, tanto católicos quanto leigos: Ação Católica, Acli, Agesci, Comunidade de Santo Egídio, Movimento dei Focolares, Beati i costruttori di pace, Pax Christi, Nós somos Igreja e Comunidades cristãs de base, juntamente com Anpi, Anistia internacional, Assopace Palestina, Attac, Mediterranea Saving Humans, Libera, Rede Paz e Desarmamento, Movimento Nonviolento, Comitato riconversione Rwm, Cipax, Médicos sem Fronteiras, Un ponte per, Última geração e outros ainda, entre os quais a “nossa” Luciana Castellina.
O Papa Leão falou sobre paz e não-violência. “A construção da paz começa com se colocar ao lado das vítimas, compartilhando seu ponto de vista”, disse Prevost, lembrando o abraço - na Arena da Paz de 2024 - entre Aziz Sarah, um palestino cujo irmão foi morto pelo exército israelense, e Maoz Inon, um israelense cujos pais foram mortos pelo Hamas, que também estavam presentes no Vaticano ontem. “Essa perspectiva é essencial para desarmar corações, olhares, mentes e denunciar as injustiças de um sistema que mata e se baseia na cultura do descarte”, acrescentou o pontífice, em um léxico ‘bergogliano’.
Em seguida, o reconhecimento do trabalho “de baixo” de associações e movimentos. “A história, a experiência, as muitas boas práticas nos fizeram entender que a paz autêntica é aquela que toma forma a partir da realidade - territórios, comunidades, instituições locais - e em escuta dela. Essa paz é possível quando as diferenças e as conflitualidades não são removidas, mas reconhecidas, assumidas e superadas”, disse Prevost. Essa é a não violência ativa: “Desde o nível local e cotidiano até o nível da ordem mundial, quando aqueles que sofreram injustiças e as vítimas da violência sabem como resistir à tentação da vingança, eles se tornam os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos de construção da paz. A não-violência como método e como estilo deve caracterizar nossas decisões, nossos relacionamentos e nossas ações”.
Mantém-se no geral o Papa Leão - conteúdos e estilo comunicativo são diferentes daqueles de seu antecessor - mas, ainda assim, é possível perceber em suas palavras um chamado aos líderes políticos mundiais para que corrijam a linha baseada em rearmamento e defesa. “Se você quer a paz, prepare instituições de paz”, disse Prevost, não apenas “instituições políticas nacionais ou internacionais”, mas também “instituições educacionais, econômicas e sociais”, porque “é o conjunto das instituições que está sendo chamado em causa”. Com o apelo final aos movimentos para que não recuem, mas que “estejam presentes dentro da massa da história como fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade”.
“Esse encontro foi importante, espero que o Papa Leão siga a linha de Francisco, esforçando-se pela paz, neste momento tão crítico da história da humanidade há necessidade de um grande movimento popular”, declara o padre Alex Zanotelli ao manifesto. Firmeza de parte do Papa no ‘não’ às armas é o que almeja a Rede Paz e Desarmamento: “Redução dos gastos militares e desarmamento são as ações a serem postas em prática para parar com a guerra, bloqueando os interesses de um complexo militar-industrial-financeiro que alimenta os conflitos”.
Padre Mattia Ferrari também estava presente: “Socorrer as pessoas, acolhê-las e tirá-las de naufrágios e das rejeições significa dar corpo àquela fraternidade que, como disse o papa, deve ser descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada”, disse o capelão da Mediterrânea ao il manifesto. No final de outubro, está previsto um novo encontro com os movimentos populares, inserido no calendário do Jubileu. De acordo com as intenções de Bergoglio, deveria ter sido um evento de dois dias, semelhante aos encontros internacionais anteriores. Veremos como o Papa Leão decidirá tratá-lo.