12 Setembro 2024
"Mas é sobretudo a região de Darfur que é palco de massacres contra as populações não árabes dos Fur, Zagawa e Massalit. Essas mesmas populações já haviam sofrido outra limpeza étnica nos anos 2000 por obra dos Janjaweed, um grupo armado que mais tarde se uniu às Forças de Apoio Rápido de Hemeti, já acusadas de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. Agora, as tropas de Hemeti cercaram a cidade de El-Fasher, a capital de Darfur, onde pelo menos 600.000 deslocados se refugiaram. A situação em Darfur está piorando dia a dia, assim como no resto do país", escreve Alex Zanotelli, padre e missionário comboniano no Sudão e no Quênia, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 11-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há anos venho martelando na indiferença da mídia italiana e europeia em relação à dramática situação na África. Estou profundamente indignado com a total indiferença da opinião pública italiana e europeia em relação às terríveis guerras que destroem o continente africano, especialmente a horrível guerra no Sudão, na República Democrática do Congo. Sem esquecer todos os outros conflitos e curso na África atualmente: África Central, Saara Ocidental, Sudão do Sul, estados do Sahel pela Jihad Islâmica, Líbia, Eritreia, Etiópia, Somália, Moçambique. Estou muito surpreso com o silêncio do governo italiano sobre suas antigas colônias: Líbia, Etiópia, Eritreia e Somália, que há anos se tornaram horríveis teatros de guerra os. O governo Meloni lançou o “Plano Mattei” para a África, esquecendo-se de que seu primeiro dever é o das “reparações” em relação a essas suas ex-colônias pelos massacres realizados naqueles países pelo regime fascista. Quando haverá ao menos um pedido de perdão pelos crimes cometidos?
E o “Plano Mattei” não deveria ser dirigido principalmente a eles?
Mas quero me deter na guerra mais horrível que ocorre na África atualmente, a do Sudão: uma guerra civil entre o presidente Abdel-Fatah Al Burhan, que comanda o Exército Sudanês (FAS), e o general Hamdan Dagalo, conhecido como Hemeti, que comanda as Forças de Apoio Rápido (Rsf). Uma guerra horrenda que há um ano vem colocando todo o país a ferro e fogo, já causando 150.000 mortes e mais de 10 milhões de refugiados, incluindo 2 milhões de deslocados internos e 8 milhões de refugiados no Egito, Líbia, Sudão do Sul, Chade e República Centro-Africana.
Mas é sobretudo a região de Darfur que é palco de massacres contra as populações não árabes dos Fur, Zagawa e Massalit. Essas mesmas populações já haviam sofrido outra limpeza étnica nos anos 2000 por obra dos Janjaweed, um grupo armado que mais tarde se uniu às Forças de Apoio Rápido de Hemeti, já acusadas de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. Agora, as tropas de Hemeti cercaram a cidade de El-Fasher, a capital de Darfur, onde pelo menos 600.000 deslocados se refugiaram. A situação em Darfur está piorando dia a dia, assim como no resto do país. De acordo com a ONU, cinco milhões de pessoas sofrem de fome aguda e 25 milhões têm dificuldade de acesso a alimentos. Ainda segundo a ONU, essa poderia se tornar “a maior carestia do mundo”. São esperadas milhões de mortes por fome e doenças. Todos os esforços para pôr fim ao conflito fracassaram, assim como as tentativas de paz entre as duas partes conflitantes, repetidamente postas em prática pelo IGAD (Bloco de Estados da África Oriental).
E isso ocorre porque tanto Hemeti quanto Burhan são apoiados internacionalmente por muitas nações que cobiçam as riquezas do Sudão, ouro, petróleo, grãos... Os Emirados Árabes apoiam Hemeti (um dos homens mais ricos do país pelo tráfico de ouro) com o envio, de acordo com a ONU, de drones modificados para lançar bombas termobáricas. Já o Irã, a Turquia, o Egito e o Qatar apoiam o governo de Burhan. Mas não podemos esquecer de que a Itália também está diretamente envolvida nesse conflito. De acordo com o Africa Express, do jornalista M. Alberizzi, em 12 de janeiro de 2022, houve uma cúpula entre Hemeti e uma delegação de altíssimo nível (Departamento Informação para a Segurança do Conselho) liderada pelo General Caravelli (Aise) para treinar os guerrilheiros Janjaweed para “barrar os migrantes”. E também em 2022, no início de agosto, uma dezena de militares italianos chegou a Cartum a bordo de um avião particular, também para treinar os Janjaweed. Sem esquecer que o governo italiano havia assinado o Memorando de Cartum com o governo do Sudão em 3 de agosto de 2016 para barrar os migrantes depositando muito dinheiro. Quando a mídia italiana e europeia concentrará sua atenção nessa guerra terrível paga por milhões de inocentes? Devemos pedir o envio de uma força independente e imparcial e o embargo total de armas ao Sudão. Precisamos agir rapidamente para evitar outra catástrofe.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A indiferença do mundo pela guerra no Sudão. Artigo de Alex Zanotelli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU