30 Mai 2025
Se seu antecessor frequentemente chamava o rearmamento de “loucura”, o novo pontífice parece indicar o temor de que “uma maior atenção aos gastos com armamento iria em detrimento do apoio aos mais necessitados e aos mais vulneráveis”.
O artigo é de Luis Badilla, jornalista, publicado por Il Giornale, 28-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 24 de agosto de 2022, no final da audiência geral, seis meses após a invasão russa da Ucrânia, o Papa Francisco resumiu em poucas frases seu pensamento não apenas sobre a guerra, mas sobretudo sobre o rearmamento e os fabricantes de armas. "Pensemos nessa realidade e digamos uns aos outros: a guerra é uma loucura", tinha exclamado Bergoglio, antes de acrescentar visivelmente contrariado: "Aqueles que ganham dinheiro coma guerra e o comércio de armas são criminosos que matam a humanidade.”
Desde sua viagem à Coreia do Sul em 2014 até sua morte, o Papa argentino nunca poupou condenações ao rearmamento, especialmente após o início da invasão russa da Ucrânia, sempre instando ao desarmamento. Na recusa total e absoluta de Francisco ao rearmamento, muitos leram uma negação do direito à legítima defesa, também porque o pontífice tinha grande dificuldade em falar de agredido e agressor.
Segundo o que o bispo Mariano Crociata, presidente da Comece, a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia, disse em 23 de maio em uma longa entrevista ao Vatican News, o Papa Leão XIV não tomou posição. Por enquanto, portanto, ele contornou a questão do rearmamento, que é muito divisiva até mesmo dentro do mundo católico, em particular no caso do arquipélago dos movimentos pacifistas. A recusa do Papa em entrar aberta e diretamente na questão do rearmamento foi um gesto muito distante daqueles de seu antecessor, na verdade, quase oposto. Mas o fato foi ignorado ou subestimado pela imprensa, mesmo aquela mais atenta ao tema. Sobre um ponto tão delicado e importante, se para Francisco o rearmamento era uma "loucura" e uma "vergonha", Leão XIV passa por cima.
Em 23 de maio, o Papa Leão recebeu os prelados do comitê permanente da Comece e, no encontro, teria abordado a questão com juízos muito elaborados e cautelosos. Confirmando o fato de que é justamente essa questão, de grande importância hoje na Igreja, que certamente representará uma diferença entre os dois pontificados.
No encontro, incluído na lista oficial de audiências, mas sem outros detalhes, Leão XIV falou sobre assuntos muito caros às Igrejas europeias. Como mencionado, notícias sobre o conteúdo da audiência de 23 de maio foram fornecidas no mesmo dia por Mariano Crociata, bispo de Latina-Terracina-Sezze-Priverno e presidente da Comece, em entrevista ao Vatican News.
O bispo frisou a preocupação do Papa Leão com a paz, particularmente no que diz respeito à crise na Ucrânia. Sobre o rearmamento, o pontífice "não expressou um posicionamento – sobre sua pertinência ou não – mas sim o receio de que uma maior atenção aos gastos com armamento iria em detrimento do apoio aos mais necessitados e aos mais vulneráveis.”
Prevost, escolheu, portanto, em relação a Bergoglio, "outra maneira de descer do cavalo" – um ditado frequente usado por Francisco –, ou seja, enfatizou a dimensão mais cara à doutrina católica, falando das consequências horrendas para os pobres e os mais fracos e dos enormes benefícios que auferem os fabricantes de armas.
Em outras palavras, sobre a política de rearmamento, o papa suspendeu o julgamento e não se conformou com o magistério de seu predecessor argentino. De certa forma, ele abriu um parêntesis ao evitar deliberadamente enfrentar a questão fundamental: rearmamento sim, rearmamento não, e por quê. Pareceria que sua maneira é partir do fato da realidade: o medo – como escrevia João XXIII na encíclica Pacem in terris, de 1963 – que leva povos e governos a se armarem apelando ao direito à legítima defesa, um direito considerado legítimo pela doutrina social da Igreja, embora com condições e limites bem específicos. Da maneira como o Papa Leão XIII quis abordar o problema, poder-se-ia deduzir que, em primeiro lugar, diante do estado da situação mundial, ele preferiu lidar com a realidade e, portanto, com as crises em curso nos vários continentes. Poder-se-ia deduzir que o Papa não nega as razões do rearmamento como suporte indispensável à dissuasão, mas, ao mesmo tempo, declara que essa opção política não pode ser levada adiante em detrimento dos últimos, dos pobres, dos fracos, que têm direito e urgência de acessar os recursos necessários para combater a fome, a pobreza e as crescentes desigualdades.
Será, então, muito interessante acompanhar o que Leão XIV dirá quando enfrentar o problema dos problemas para a situação mundial: o desarmamento e o rearmamento.