24 Mai 2025
"No entanto, a Igreja está redescobrindo um protagonismo geopolítico, não apenas simbólico, que contribui para conter a deriva belicista denunciada com um grito quase solitário por Francisco", escreve Lucio Caracciolo, em artigo publicado por La Repubblica, 22-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Lucio Caracciolo é jornalista e analista geopolítico italiano, diretor da revista Limes.
Leão XIV está levando a Santa Sé de volta ao centro da geopolítica mundial. À sua maneira. Aquela de uma instituição romana, portanto universal, cuja missão é difundir o Evangelho e sua mensagem de paz. Portanto, com vocação à mediação e ao equilíbrio na escuta das partes em conflito, especialmente aquelas mais distantes de seus sentimentos. Quando, como Francisco, o novo papa implora a paz, ele não se limita à invocação. Ele trabalha para promover o compromisso, isto é, a renúncia, pelos beligerantes, de parte de seus objetivos para que as armas se calem.
Ao contrário de outras religiões, a Igreja Católica se dotou de uma própria subjetividade geopolítica construída nos 44 hectares do Estado da Cidade do Vaticano. Como Santa Sé, suas relações com outros Estados são, portanto, baseadas no interesse católico, portanto geral, e não em um interesse nacional. Como dizia Paulo VI, “quando falamos de Estados, sempre pensamos nos povos que constituem a realidade viva dos Estados”. A Sé petrina considera-se "interna" a cada povo. Na medida em que todos os povos são um só povo de Deus.
Com base nessas premissas, todo pontífice modula a diplomacia vaticana em sintonia com seu próprio carisma. Leão tem um carisma muito específico. Como seu antecessor, ele visa a paz (outros papas preparavam guerras), mas com estilo e ênfase próprios.
Quanto ao estilo, é prudente. Prevost, por mentalidade e educação, evita os maniqueísmos, as representações em preto e branco. Império do bem versus império do mal, para usar um estereótipo difundido em seu país de origem, não é sua praia. E se Francisco frequentemente agia sozinho, passando por cima da Secretaria de Estado, Leão, em vez disso, confia nas estruturas da Santa Sé não apenas na fase executiva, mas também para fins consultivos. Ele fala o necessário e ouve até mais do que o necessário. Como bom agostiniano, eleito e sobretudo reeleito geral da antiga Ordem, considera o governo um instrumento incontornável da missão.
Quanto às ênfases, seus primeiros movimentos no cenário internacional revelam algumas novidades. Em Gaza e na Ucrânia, os dois principais teatros da "terceira guerra mundial em pedaços" — uma definição brilhante de Francisco na qual Leão se inspira —, Leão começa a imprimir sua personalidade. Não apenas sua voz.
No conflito entre Israel e os palestinos, centrado no massacre sem fim em Gaza, a ênfase do Papa Prevost revela atenção ao diálogo com o povo judeu. Uma de suas primeiras mensagens foi, de fato, dirigida ao rabino Noam Marans, diretor do Colégio Judaico Estadunidense. Isso não significa compreensão por Netanyahu. O chefe da Igreja Católica considera como uma tragédia intolerável o massacre em Gaza, a indiferença de Jerusalém pelo destino da população palestina exposta à fome. Aqui, no entanto, o Vaticano não tem alavancas para puxar. Seu mais alto representante na Terra Santa, o Cardeal Pizzaballa, não desperta simpatias especiais em Israel. Quanto aos palestinos, cuja causa, graças também aos israelenses, é refém do Hamas, permanecem divididos, sem um líder a quem recorrer para negociar.
Algo, por outro lado, está se movendo na frente russo-ucraniana. Na fase inicial do conflito, Francisco parecia sensível às razões de Moscou, talvez mais por seu peronismo anti-ianque do que por inclinação pró-Rússia. No entanto, o Papa Bergoglio desempenhou um papel nos bastidores, porém tangível, na primeira negociação secreta russo-ucraniana mediada pelos turcos, que, em março de 2022, havia produzido um rascunho de pré-acordo vinculante (posteriormente sabotado por ingleses e estadunidenses) baseado na renúncia de Kiev à OTAN e aos territórios de forte presença russa. Na época, a diplomacia secreta do Vaticano trabalhava por uma trégua de três anos, supervisionada por um contingente da ONU, com subsequentes referendos para a definição das fronteiras. A missão mais recente do Cardeal Zuppi, proposta por Francisco, deu credibilidade ao ativismo vaticano até mesmo entre os ucranianos, que inicialmente se mostravam céticos pelo menos tanto quanto os russos. Sem a pretensão de iniciar uma negociação geopolítica.
Leão passou imediatamente à iniciativa. A ideia de propor o Vaticano como ponto de encontro entre russos e ucranianos é sua. Assim como a intenção de visitar Kiev e Moscou. Manobras já cogitados por Francisco, mas impossíveis na época. A virada negocial de Trump é silenciosamente encorajada pelo novo papa, não suspeito de simpatia por Moscou. Leão é contrariado pelos "dispostos" franco-britânicos-alemães, que ostentam seu apoio à resistência ucraniana, mesmo sabendo que não podem sustentá-la sem os estadunidenses. A ponto de lançar o décimo sétimo pacote de sanções, enquanto Trump primeiro mostra abertura a Putin e depois parece desistir da mediação. A diplomacia vaticana está se movendo junto aos "europeus dispostos" para que não atrapalhem o diálogo recém-retomado entre Kiev e Moscou, que já é suficientemente difícil. Talvez essas tentativas não levem a um cessar-fogo. No entanto, a Igreja está redescobrindo um protagonismo geopolítico, não apenas simbólico, que contribui para conter a deriva belicista denunciada com um grito quase solitário por Francisco.