22 Mai 2025
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou Israel, nesta quarta-feira (21), de permitir a entrada em Gaza de uma ajuda "ridiculamente inadequada" em relação às necessidades do território, apenas para não ser acusado de "matar a população de fome". Diante desta crise humanitária, a imprensa francesa analisa a decisão anunciada pela União Europeia na terça-feira (20) de rever seu acordo de cooperação com Israel devido às violações de direitos humanos em Gaza.
A reportagem é publicada por RFI, 21-05-2025.
"A decisão das autoridades israelenses de permitir (a entrada de) uma quantidade de ajuda ridiculamente insuficiente em Gaza, após meses de cerco (...) mostra sua intenção de evitar a acusação de que está matando de fome as pessoas em Gaza, embora, de fato, as deixem apenas sobreviver", afirmou em um comunicado Pascale Coissard, coordenadora de emergências da MSF em Khan Yunis, no sul de Gaza. "Este plano é uma maneira de instrumentalizar a ajuda, transformando-a em uma ferramenta a serviço de objetivos militares das forças israelenses", acrescentou.
Segundo a MSF, a ajuda autorizada na Faixa desde segunda-feira (19), de 100 caminhões diários, "é apenas uma cortina de fumaça". A organização denunciou que o cerco que Israel impôs a Gaza no início de março para forçar o movimento islamista palestino Hamas a libertar os reféns "continua".
A maioria da população de Gaza, mais de 2 milhões de pessoas, depende quase completamente da ajuda que entra no estreito território palestino, devastado pelos bombardeios intensos e as operações militares ordenadas em resposta ao ataque do Hamas contra o território israelense em 7 de outubro de 2023. A Faixa de Gaza está sob bloqueio humanitário há 11 semanas e o balanço de mortes ultrapassa as 52 mil vítimas.
Nas últimas semanas, a pressão diplomática, por parte dos próprios países do bloco, aumentou para que a União Europeia se posicione sobre a situação em Gaza. Paris e outras capitais se posicionaram contra as "ações escandalosas" do Exército israelense no território palestino e o "nível intolerável de sofrimento dos civis", salienta o jornal francês Le Monde.
Agora cabe à Comissão Europeia e ao Serviço Europeu para a Ação Externa verificar a compatibilidade da política do governo de Benjamin Netanyahu com o respeito aos direitos fundamentais, aponta o jornal. Se a Comissão considerar que Israel não está cumprindo o acordo, terá que propor uma série de medidas, que podem incluir congelamento ou suspensão do tratado.
A validação depende dos Estados-membros que terão então que discutir as medidas propostas. Dependendo da sua natureza, isso exigirá uma votação unânime dos 27 países para medidas políticas e uma maioria qualificada para medidas comerciais, por exemplo.
O diário Libération lembra que o acordo inclui uma parte política e outra econômica. A primeira, defende o diálogo entre Israel e União Europeia. A segunda, cria uma zona de livre comércio para os setores da indústria, agricultura e serviços.
Caso a Comissão decida que Israel viola os direitos humanos em Gaza, ela poderia propor a suspensão total ou parcial do texto. Para a suspensão da parte política, seria necessária uma maioria absoluta de votos de eurodeputados, já para a parte comercial, uma maioria qualificada.
"Suspender o acordo seria eficaz?", questiona o jornal. A suspensão da parte política do texto seria apenas simbólica. Já a suspensão do texto que se refere ao comércio afetaria Israel, que tem na Europa seu principal parceiro comercial.
Mas, para a publicação, este tipo de medida não teria nenhum efeito em um governo "fanático", como mostra o exemplo russo, se referindo às sanções europeias à Moscou que não convenceram Vladimir Putin a acabar com a guerra na Ucrânia.
"Sob a ditadura do Hamas, Gaza estava longe de ser um paraíso, mas a fome não existia, o nível de educação era bom, havia hospitais, universidades e uma estrutura econômica", lembra o jornal. O preço dos alimentos aumentou absurdamente e as áreas onde as pessoas têm permissão para viver diminuíram a praticamente nada, salienta a publicação. O Exército israelense ordenou à população que se retire de 71% da Faixa de Gaza.