03 Mai 2025
"Agora que o Papa Francisco repousa sob o manto ideal de uma Mulher especial que ele amava, Maria salus populi romani, na basílica dedicada a ela, quisemos recorrer ao texto de um escritor 'leigo' de uma distante ilha europeia: ele aborda um tema que foi particularmente caro ao pontífice. Trata-se da abolição das muitas fronteiras, não necessariamente materiais, que separam pessoas e povos", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 27-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O vento não conhece fronteiras. Seu sopro as atravessa, e os funcionários da alfândega não podem fazer nada a respeito. Ficam impotentes diante de vendavais, pássaros no céu, moscas, aranhas, cobras, tempo, memórias, literatura. Todas essas coisas cruzam as fronteiras sem que seja necessário apresentar um passaporte, e todas as armas e dispositivos de vigilância que os seres humanos inventaram e construíram para delimitar e preservar a si mesmos não servem a nada.
Agora que o Papa Francisco repousa sob o manto ideal de uma Mulher especial que ele amava, Maria salus populi romani, na basílica dedicada a ela, quisemos recorrer ao texto de um escritor “leigo” de uma distante ilha europeia: ele aborda um tema que foi particularmente caro ao pontífice. Trata-se da abolição das muitas fronteiras, não necessariamente materiais, que separam pessoas e povos. Nosso planeta, por outro lado, foi criado sem essas fronteiras divisórias: isso é lembrado na citação oferecida pelo maior escritor contemporâneo da Islândia, Jón Kalman Stefánsson, no livro Il mio sottomarino giallo.
Além das fronteiras dos Estados, há inúmeras novas fronteiras que dividem: as distinções censitárias permanecem, gerando desigualdades escandalosas; poderosas são as barreiras de comunicação que conseguem relegar enormes camadas da população no engano, na ilusão ou no fanatismo; divididos são os povos por políticas agressivas e imperialistas e guerras; separados em zonas de miséria são as pessoas famintas, afligidas por epidemias, por ignorância devido à falta de educação e cultura. Essas são fronteiras intransponíveis, concebidas e construídas por mãos humanas por medo do outro ou por um egoísmo brutal. Usando o latim, deveríamos almejar, em vez disso, que o limen, a “fronteira” fechada, possa se tornar um limes, um “limiar” aberto.