03 Mai 2025
"Becciu afirma que sempre obedeceu à vontade do papa, mas hoje o recuo paradoxalmente o coloca em uma posição privilegiada: sua opinião, e a daqueles que lhe são próximos, será ouvida na Capela Sistina justamente por causa da decisão de não criar mais obstáculos", escreve Paolo Rodari, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 30-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A renúncia do cardeal Angelo Becciu, envolvido em um escândalo imobiliário, mas convencido de sua inocência, de participar do próximo conclave terá um peso na votação para eleger o sucessor de Francisco. No Colégio de Cardeais, de fato, há aqueles que acreditam que o que aconteceu com ele levou a consequências exageradas e que, portanto, o cardeal de origem sarda está pagando demais.
Becciu afirma que sempre obedeceu à vontade do papa, mas hoje o recuo paradoxalmente o coloca em uma posição privilegiada: sua opinião, e a daqueles que lhe são próximos, será ouvida na Capela Sistina justamente por causa da decisão de não criar mais obstáculos.
É claro que continua sendo difícil saber para quem sua preferência pode ir. Ele sempre teve um bom relacionamento com Pietro Parolin, mas não está excluída a possibilidade de que ele expresse suas perplexidades em relação aos membros da atual Cúria Romana. O cardeal da Sardenha, em uma audiência-relâmpago em 24 de setembro de 2020, foi privado pelo Papa Francisco do cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e dos “direitos inerentes ao cardinalato”. Claro, mantinha o título de cardeal, mas saia de qualquer cargo na Cúria Romana e, pelo menos no papel, perdia o direito de participar de um futuro conclave.
As acusações, referentes à compra pela Santa Sé de um imóvel de luxo de 200 milhões de euros em Londres e em relação à gestão dos fundos da secretaria de estado, lhe custaram uma condenação em primeiro grau de cinco anos e seis meses de reclusão, enquanto um recurso é aguardado para o próximo outono europeu.
Becciu continua sendo uma personalidade ouvida por uma parte dos cardeais italianos. Estes últimos ficaram divididos no último conclave. Nem todos apoiavam Scola e seus votos foram decisivos para a eleição de Bergoglio. Mas hoje não é certo que eles não consigam entrar em acordo, porém, também em virtude do escândalo do imóvel em Londres, não é garantido que os cardeais de outros países e continentes decidam dar seu voto a um italiano. O escândalo do VatiLeaks pesou sobre Scola, no sentido de que muitos cardeais não quiseram um italiano ou, de qualquer forma, alguém que estivesse remotamente ligado a Roma.
O escândalo de Londres não é percebido como tão arrasador como foi o Vatileaks, mas não se pode excluir que o mesmo esquema se repita.
No mundo mais conservador, além disso, há aqueles que acreditam que as aberturas de Francisco devem ser desaceleradas. Não se trata de uma frente ampla, mas presente e que, paradoxalmente, poderia se articular com Becciu e seus seguidores. É difícil dizer se, numericamente, ela contará e terá peso, mas é uma realidade que existe, mesmo que nessas horas esteja tentando de todas as formas permanecer nas sombras.
O risco que correm aqueles que acreditam que os processos abertos por Francisco são a bússola para a eleição de um sucessor, de fato, é que possam ficar interessados por candidatos que se declaram a favor das mudanças de Bergoglio, mas que, depois de eleitos, façam retrocessos inesperados em várias questões. Ontem, a Santa Sé declarou que, na Congregação Geral da manhã, os cardeais discutiram “o papel da Igreja no mundo de hoje e os desafios que ela enfrenta”.
O desafio é o mesmo de sempre: se escolher uma Igreja aberta ao mundo e com uma doutrina capaz de se encarnar em seus vários desafios ou o contrário. Os fiéis muitas vezes já estão à frente, tendo realizado as mudanças que a Igreja tem dificuldade até de olhar. Francisco propôs um estilo acolhedor que já é uma realidade em grande parte do povo de Deus. Cabe ao seu sucessor a decisão sobre como agir.