03 Mai 2025
"O convite aos cardeais que não se reconhecem na linha de Bergoglio para cerrar fileiras e, acima de tudo, para identificar um candidato para o qual convergir não poderia ser mais claro", escreve Luca Kocci, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 01-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma semana antes do início do Conclave que escolherá o sucessor de Bergoglio à frente da Igreja Católica, o corpo dos cardeais eleitores que entrará na Capela Sistina em 7 de maio está quase completo. Com o caso Becciu definitivamente encerrado - os cardeais expressaram “apreço” pelo seu passo atrás e esperam que “os órgãos competentes da justiça possam apurar definitivamente os fatos” - ontem na sala do Sínodo havia 124. Portanto, faltam nove para chegar ao número total de votantes que, após o balé dos números dos últimos dias, está definido em 133, com dois ausentes por motivos de saúde. Com esses números e com o quórum fixado em 2/3, serão necessários 89 votos para ser eleito papa. Um limite recorde, para o Conclave mais concorrido da história, bem acima do número de 120 eleitores estabelecido por Wojtyla, que, no entanto - como confirmado ontem - pode ser ultrapassado.
Na sétima congregação geral, na manhã de ontem, falou-se, acima de tudo, do IOR e de questões econômicas e financeiras, um dos nós mais complexos do governo da Santa Sé, apesar das tentativas de Bergoglio, em parte bem-sucedidas, de trazer ordem e limpeza. Entre outros, falou o cardeal alemão Reinhard Marx, coordenador do Conselho para a Economia, que apresentou “um quadro atualizado dos desafios existentes e das questões críticas, oferecendo propostas orientadas para a sustentabilidade e reiterando a importância de que as estruturas econômicas continuem a sustentar de forma estável a missão do papado”. Então, nenhuma exclusão - mas teria sido ingênuo pensar assim -, no máximo a continuação dos processos de racionalização e transparência iniciados por Bergoglio. Do lado de fora, a Associação de Funcionários Leigos do Vaticano levantava a questão dos salários: “com uma base salarial estagnada desde 2008, o poder de compra dos funcionários do Vaticano foi reduzido, em face do aumento da carga de trabalho”.
Os cardeais também discutiram outros tópicos: desde a eclesiologia, “com particular referência ao sofrimento causado pela polarização dentro da Igreja e pelas divisões na sociedade”, até a sinodalidade, “vivida em estreita conexão com a colegialidade episcopal, como expressão de uma corresponsabilidade diferenciada”. Temas que, explicitados dessa forma, permitem vislumbrar um perfil de um novo pontífice que possa prosseguir no caminho indicado por Bergoglio, mas com um ritmo mais regular e, sobretudo, sem desvios. Enquanto isso, as grandes manobras em vista do Conclave continuam, apesar da intervenção do Espírito Santo. Nos últimos dois dias, emergiu o ativismo público da frente conservadora, até agora bastante silenciosa, por dois ex-presidentes da Conferência Episcopal Italiana, os cardeais Ruini e Bagnasco - que não votam porque têm mais de 80 anos, mas exercem uma forte influência sobre os “mais jovens” - em duas extensas entrevistas ao Corriere della Sera.
Ruini mais explícito, que criticou as ações pastorais e governamentais de Bergoglio, que pareceu “privilegiar os distantes em detrimento dos próximos”, causando irritação e protestos “daqueles que durante anos sempre se esforçaram para defender as posições católicas”. Por essa razão, advertiu Ruini, “é necessário recomeçar a partir de ‘pontos firmes’ da ‘doutrina’ e das ‘estruturas eclesiais’, porque ‘não podemos nos contentar com uma fé problemática’, mas precisamos da ‘certeza da Verdade’”. Bagnasco foi mais cauteloso, ontem, mas não menos claro: contra “o vazio da alma que é o objetivo da modernidade, precisamos de uma clara identidade de fé”. O convite aos cardeais que não se reconhecem na linha de Bergoglio para cerrar fileiras e, acima de tudo, para identificar um candidato para o qual convergir não poderia ser mais claro.