Letícia Cesarino, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aborda a relação entre empresas de tecnologia, Trump e libertarianismo em palestra no Instituto Humanitas Unisinos – IHU nesta quinta-feira, 20-03-2025
“Menos Estado, mais Big Tech”. Este é o slogan que os bilionários da tecnologia têm sustentado com a aprovação de Donald Trump, presidente de uma das maiores potências do mundo. O bordão também caracteriza o que o economista francês Cédric Durand tem chamado de tecnofeudalismo. Semanas após a posse presidencial, em que magnatas da tecnologia estiveram ao lado do presidente republicano e foram designados a cargos políticos importantes, Durand referiu-se a eles como “senhores tecnofeudais”.
“Os bilionários da tecnologia não são apenas pessoas ricas que cobiçam a proximidade do poder para defender seus interesses plutocráticos. Esses capitalistas são senhores tecnofeudais em formação, determinados a aproveitar a oportunidade de sua aliança com Trump para derrubar os últimos obstáculos políticos para o estabelecimento de uma nova ordem social baseada na projeção e manipulação dos algoritmos, a fim de centralizar o valor produzido pelo trabalho e impor seus caprichos milenaristas”, disse.
Para Durand, o tecnofeudalismo tem como finalidade a “privatização da política”. Em outras palavras, explica, o movimento visa ao “enfraquecimento das mediações das relações entre classes e frações de classe” e “é acompanhado por um impulso antidemocrático que remete a um segundo traço do tecnofeudalismo: o ódio à igualdade”.
As reações às posturas e políticas adotadas pelos EUA na gestão Trump também vêm daqueles que defendem a regulamentação da Inteligência Artificial (IA), como o inglês Geoffrey Hinton, Prêmio Nobel de Física em 2024. Na avaliação dele, o atual governo americano “não se importa em tornar a inteligência artificial segura porque está claramente aliada às grandes empresas de tecnologia. Vance ameaçou outros países, deixando claro que se eles tentarem regulamentar a indústria e interferir nas empresas de tecnologia dos EUA, haverá consequências severas”.
Na opinião do sociólogo espanhol Pablo Martínez Galíndez, Trump e os CEOs da tecnologia estão vivendo “uma lua de mel inigualável”, que permite ao capitalismo de plataforma viver “um dos seus melhores momentos”. Nesse cenário, observa, “o caso de Elon Musk é paradigmático. Não é nenhuma novidade que um empresário faça parte de um governo, seja como ministro ou em qualquer outra função. No entanto, Musk conseguiu assumir responsabilidades estatais no governo dos EUA sem ter autoridade para fazê-lo. Ou seja, parece que nessa nova relação entre Estado e capital, Musk decidiu ser político, sem precisar ser eleito, sem precisar passar pelas estruturas de um partido, ou mesmo fazer parte de um lobby. Musk é uma demonstração de sua capacidade de fazer e ser políticos por meio de seu poder, ponto final”.
Os prejuízos econômicos decorrentes da atuação do dono da Tesla no governo Trump, sublinha, indicam uma inversão nos interesses dos senhores tecnofeudais. “Isso nos leva a questionar se a busca pelo lucro não é mais ‘primária’ para esse capitalismo de plataforma e se, em vez disso, a dominação, por meio das reviravoltas, sobre todos os aparatos que compõem a produção e a reprodução social, é de fato o compromisso final”, sugere.
De muitos modos, a aliança entre os CEOs da tecnologia e o presidente Trump está repercutindo em todo o mundo. Nesta quinta-feira, 20-03-2025, Letícia Cesarino, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abordará o tema na palestra “Big techs, Trump e o libertarianismo reacionário. Aceleração ao fim do mundo?”, promovida pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. O evento será transmitido na página eletrônica do IHU, no Canal do YouTube e nas redes sociais às 17h30min.
A pesquisadora tem refletido sobre a relação entre tecnologia e política e seus impactos na esfera pública, particularmente no campo político. No Brasil, disse, em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, as plataformas permitiram a ascensão da extrema-direita. “A tecnologia não está inventando nada, mas ela está dando uma escala e uma centralidade para fenômenos que em outros ambientes de mídia eram menores e periféricos”, pontua.
Autora de Mundo do avesso: verdade e política na era digital (Ubu, 2022), Letícia argumenta que “as plataformas fazem o que era periférico, o que era do domínio privado, caminhar para o centro da esfera pública”. O argumento do livro, explica, “é que a tecnologia tem esse viés, porque é uma tecnologia que, ao colocar no centro o conteúdo gerado por usuário e os algoritmos com viés de segmentação e com uma temporalidade hiperacelerada, empurra o corpo social para essa topologia onde o público é englobado pelo privado”.
Letícia Cesarino (Foto: Divulgação)
Letícia Cesarino é professora-adjunta no Departamento de Antropologia e no PPG em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutora em Antropologia pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Quando: Quinta-feira, 20-03-2025
Onde: Transmissão na página eletrônica do IHU, Canal do YouTube e redes sociais
Horário: 17h30min
Certificados: A atividade é gratuita. Será fornecido certificado a quem se inscrever e, no dia do evento, assinar a presença por meio do formulário disponibilizado durante a transmissão. Os certificados estarão disponíveis em até 30 dias no portal Minha Unisinos.
A programação dos demais eventos promovidos pelo IHU neste semestre está disponível aqui.