14 Fevereiro 2025
Chamou a atenção, mesmo nos círculos cristãos, o grupo de fundadores de novos grupos de inspiração cristã, de telepregadores e de pastores próximos a movimentos de extrema direita que Donald Trump escolheu para compor ou sustentar o novo “Escritório de Fé” que ele abriu na Casa Branca.
A reportagem é de Elena Molinari, publicada por Avvenire, 11-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em seu comando, quis Paula White, considerada a conselheira espiritual do presidente, que há quatro anos se juntou à manifestação de 6 de janeiro que precedeu o levante no Capitólio e rezou para que Deus desse aos participantes da manifestação “santa audácia” e que “todo adversário” fosse “abatido em nome de Jesus”. White declarou várias vezes que sua presença na Casa Branca a torna “território sagrado” e advertiu que se opor a Trump significa se opor a Deus. White era a figura mais visível na foto que Trump postou no X após a criação por decreto do escritório e que o mostra cercado por cerca de 30 pessoas reunidas em oração impondo as mãos sobre a cabeça do presidente. Entre elas estava também Jentezen Franklin, fundador da Free Church em Gainesville, Geórgia, mas que prega principalmente no YouTube e que, assim como White e o atual presidente da Câmara, Mike Johnson, tem laços estreitos com a igreja da Nova Reforma Apostólica, um movimento nacionalista que pede que as alavancas do governo e da sociedade estejam sob controle cristão. As reuniões desse grupo, que têm conotações de suprematismo branco e quer revogar o direito de voto das mulheres, também participaram o vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Defesa Pete Hegseth. Este último pertence a uma igreja afiliada à Communion of Reformed Evangelical Churches, que diz abertamente ser “hostil à esquerda” e ao princípio da subsidiariedade, e quer restabelecer a lei bíblica.
Ao lado de Franklin está Guillermo Maldonado, que fundou a El Rey Jesus, uma megaigreja que não se identifica com nenhuma denominação, em Miami, de onde, durante a pandemia, convidava os fiéis a não se vacinarem contra o coronavírus. Uma posição compartilhada por outro presente no Salão Oval, Jonathan Shuttlesworth, pregador de Pittsburgh. Enquanto David Crank, fundador da FaithChurch.com, se soma ao número de espectadores que criaram sua própria congregação que responde a princípios de fé elaborados à sua imagem.
Muitos desses pastores e pregadores farão parte da força-tarefa que Trump colocou sob a liderança da nova Procuradora Geral, Pam Bondi, para erradicar a que ele definiu de “perseguição” aos cristãos nos Estados Unidos. A Conferência episcopal católica dos EUA afirmou que não foi envolvida no projeto. Há muito tempo Trump tem uma relação ambígua com a religião: ao contrário de seu antecessor Joe Biden, que era abertamente católico apesar de sua posição em defesa da legalidade do aborto, Trump raramente vai à igreja. Ele foi confirmado em uma igreja presbiteriana, mas se considera “não confessional”. Os eleitores cristãos criticaram os escândalos em que o republicano se envolveu, incluindo a condenação civil por agressão sexual, a condenação criminal no caso da estrela pornô Stormy Daniels e a venda de Bíblias de 60 dólares com a marca Trump durante a campanha eleitoral. No entanto, eles continuaram a apoiá-lo na eleição de 2024, em porcentagens maiores do que em 2016.
Durante seu primeiro mandato, Trump havia posado com uma Bíblia do lado de fora de uma igreja perto da Casa Branca depois que as forças de segurança retiraram os manifestantes do movimento “Black Lives Matter” e realizou encontros de oração no Salão Oval com pastores evangélicos protestantes. Mas, após sua reeleição, tem afirmado repetidamente ter tido um “despertar religioso” desde que escapou da bala disparada por um homem armado que apenas feriu levemente sua orelha durante um comício na Pensilvânia no ano passado. “Isso mudou algo em mim”, disse Trump durante um café da manhã de oração no Capitólio dos EUA na semana passada. “Eu já acreditava em Deus, mas agora acredito muito mais. Precisamos trazer a religião e Deus de volta às nossas vidas”, continuou o homem de 78 anos, que em seu discurso de posse afirmou que foi salvo por Deus para que pudesse “tornar a América grande de novo”.