29 Novembro 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 28-11-1024.
“O que estamos vendo aqui é uma tentativa de estabelecer um estado nacionalista cristão.” O jornalista John Allen, diretor do portal católico Crux, é muito claro sobre isso à luz das nomeações que se tornaram conhecidas e com as quais Donald Trump formará o seu governo a partir da sua posse, em 20 de janeiro, como presidente dos Estados Unidos. Para o veterano vaticanista, esta lista de nomes “não é uma coincidência”, mas sim o que o magnata quer exatamente para “tornar a América grande novamente”… E radicalmente cristã e com essências supremacistas.
Naquele 20 de janeiro, ocorre a transferência de poderes entre um presidente católico como Joe Biden (a quem muitos católicos viraram as costas) e a chegada à vice-presidência, pela primeira vez na história da ainda líder potência mundial, de outro católico, o converti JD Vance, expoente daquela extrema direita religiosa que entende a sua missão política quase como um apostolado no qual não há referências, por exemplo, aos Fratelli tutti do Papa Francisco.
“Sem um reavivamento cristão, a América morrerá. Nosso país deve encontrar o caminho de volta para Deus”, disse Vance recentemente a um grupo de empresários num discurso, citado pelo portal Katholisch.
E embora Trump esteja interessado na questão religiosa na medida em que esta favorece os seus interesses - acima de tudo é um empresário que, dada a sua trajetória judicial, não parece muito escrupuloso - tem-se rodeado de um grupo de crentes que fazem fronteira com os fanáticos para acompanhar o seu vice-presidente durante os próximos quatro anos em que o mundo se prepara para prender a respiração.
Começando por alguém também considerado católico, mas que teve que saltar as bem-aventuranças, como Thomas Homan, apelidado de “czar da fronteira”, e que será o responsável pela implementação do plano de deportação em massa com o qual Trump - com a oposição já anunciada do americano bispos - pretende expulsar onze milhões de imigrantes.
Um papel muito relevante será sem dúvida desempenhado pelo novo Secretário de Estado, Marco Rubio, ele próprio filho de imigrantes cubanos que fugiram da ilha caribenha em busca de um futuro melhor e que, embora tenha tido altos e baixos com a Igreja Católica, declara-se agora “em total harmonia teológica e doutrinal” com ele, embora não tenha esclarecido se, seguindo a moda, esta comunhão é com a atual ou com a anterior ao Concílio Vaticano II…
Também notável – e muito marcante – foi a nomeação de um membro do clã Kennedy, Robert Jr – sobrinho do presidente assassinado JF Kennedy, o primeiro presidente católico do país – para a pasta da Saúde, apesar de ser um reconhecido antivacina. Depois de uma história de vício e redenção – aquela redenção de que o vice-presidente Vance também falou – Kennedy declarou na rede ultracatólica EWTN que “uma profunda iluminação espiritual” o salvou do vício em drogas, segundo Katholisch.
A par deste elenco de “apóstolos” de Trump, devemos também mencionar a futura embaixadora na ONU, Elise Stefanik, ou o diretor designado da CIA, John Ratcliffe.
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Os ‘apóstolos’ católicos de Trump para reforçar o nacionalismo cristão nos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU