17 Outubro 2024
O Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazônica, que se reuniu em Roma em 2019, abriu caminho para o atual Sínodo sobre a Sinodalidade, disse o cardeal da região.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada por National Catholic Reporter, 16-10-2024.
Antes do início do processo sinodal em 2021, "éramos uma Igreja em missão, agora somos uma Igreja sinodal em missão", disse o cardeal-arcebispo Dom Leonardo Steiner, de Manaus, em uma coletiva de imprensa no Vaticano em 15 de outubro. "O Sínodo para a Amazônia ajudou a abrir essa experiência (de sinodalidade) e a participação de todos".
O Sínodo sobre a Sinodalidade é mais focado em como toda a comunidade eclesial pode aprender a ouvir, discernir e responder à vontade de Deus e executar a missão da Igreja do que em questões específicas. Mas parte disso é olhar para maneiras de expandir o papel e a responsabilidade de todos os batizados na vida e na missão.
Em contraste, com apenas 172 padres para servir cerca de 1.000 comunidades na região, o Sínodo para a Amazônia discutiu questões específicas, como a possibilidade de ordenar homens casados e abrir o diaconato para mulheres como parte da expansão do papel dos leigos.
"Por mais de 100 anos, as comunidades da nossa região viveram sem a presença de padres", disse Steiner, e ainda assim, "as comunidades permaneceram vivas, organizadas, rezando, celebrando e tendo suas próprias formas de oração" graças ao comprometimento e à fé dos leigos, e especialmente das mulheres.
"As mulheres são aquelas que levaram as comunidades adiante, e hoje elas também estão liderando nossas comunidades. Várias mulheres em nossa arquidiocese recebem ministérios", incluindo reconhecimento oficial como ministras da Eucaristia, ministras da Palavra de Deus e líderes comunitárias, ele disse.
Bispos na região amazônica estão agora propondo a algumas comunidades muito remotas "receber e poder celebrar alguns sacramentos, como o batismo, sem a presença de um padre", disse ele. Quando se trata do ministério do dia a dia, "muitas de nossas mulheres são verdadeiras diaconisas, sem terem recebido a imposição das mãos".
Steiner disse que gostariam de chamar essas mulheres de "diáconas", mas não querem "confundi-las com o ministério ordenado" e, por isso, por enquanto, não encontraram um título que seja "adequado". Mas é admirável, disse ele, "o quanto as mulheres são responsáveis pela nossa igreja. Nossa Igreja não seria a Igreja que é sem a presença das mulheres".
O prelado brasileiro disse acreditar que, se o diaconato feminino existiu na Igreja no passado, "por que não restaurá-lo" como foi feito após o Concílio Vaticano II "ao restaurar o diaconato permanente para os homens?"
"Não devemos parar de refletir sobre essas questões" como parte de uma exploração contínua da "missão fundamental das mulheres na igreja", disse ele. Não é uma "questão de gênero, é simplesmente uma questão de vocação", a vocação das mulheres na Igreja e "em nossas comunidades".
Falando sobre a questão da admissão de homens casados ao sacerdócio, Steiner afirmou que, para alguns lugares, "isso não seria uma dificuldade". O Papa Francisco "não encerrou a questão", explicou o religioso. No entanto, o papa está muito ciente de que isso é problemático em outros lugares e é sensível sobre "a comunhão da Igreja", portanto, "ele não queria dar esse passo".
O cardeal disse que o diálogo deve continuar de uma forma que mostre a importância da comunidade local, em vez de apenas "olhar para a Igreja como um todo".
"A Igreja só existe porque há a comunidade, e essa pequena comunidade forma a paróquia, e as paróquias formam uma diocese e então há a Igreja universal. Talvez precisemos nos aprofundar um pouco mais nessa questão de ministerialidade e comunidade", disse ele.
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