10 Julho 2024
Como ser uma Igreja sinodal missionária? Essa é a pergunta básica da qual parte o Instrumentum laboris (IL) da próxima sessão do Sínodo dos Bispos, programada de 2 a 27 de outubro, sobre o tema "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão", a segunda da XVI Assembleia Geral Ordinária, depois daquela de 2023. O documento reúne os frutos dos encontros do ano passado, integrando-os com os resultados de outros eventos, como o encontro internacional dos párocos (realizado em Sacrofano, na província de Roma, de 29 de abril a 2 de maio) e aqueles dos dez grupos de estudo que, encarregados pelo Papa, aprofundaram algumas temáticas que emergiram do Sínodo de 2023. O IL - publicado na terça-feira, 9 de julho, e apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé - não oferece nenhuma "resposta já pronta", mas propõe "indicações e propostas" sobre como a Igreja, como um todo, pode e poderá responder "à necessidade de ser ‘sinodal em missão’", ou seja, uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática, que seja casa e família de Deus, na qual todos os batizados sejam corresponsáveis e participem de sua vida na distinção de seus diferentes ministérios e funções.
A reportagem é de Isabella Piro, publicada por L'Osservatore Romano, 09-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O documento está estruturado em cinco seções: introdução, fundamentos e três partes centrais.
A introdução relembra o caminho percorrido até agora e destaca os marcos já alcançados, como o uso generalizado da metodologia sinodal da Conversação no Espírito. Seguem-se os fundamentos (nºs 1-18), que se debruçam sobre a compreensão da sinodalidade, vista como um itinerário de conversão e reforma. Em um mundo marcado por divisões e conflitos, enfatiza-se, a Igreja é chamada a ser um sinal de unidade, instrumento de reconciliação e de escuta para todos, especialmente para os pobres, os marginalizados, as minorias afastadas do poder. "Como a lua", lê-se no Il, "a Igreja brilha por uma luz refletida: não pode entender sua própria missão em sentido autorreferencial, mas recebe a responsabilidade de ser o sacramento dos vínculos, das relações e da comunhão em vista da unidade de todo o gênero humano" (n. 4). Reafirmando, além disso, que "a sinodalidade não comporta, de modo algum, a desvalorização da autoridade particular e da tarefa específica que o próprio Cristo confia aos pastores" (n. 8), o documento enfatiza que "a sinodalidade não é um fim em si mesma" e recorda o vínculo entre ela e a missão, "intimamente unidas" (n. 9). Valorização das mulheres na Igreja
Os fundamentos também dão amplo espaço (n. 13-18) à reflexão sobre o papel das mulheres em todas as esferas da vida da Igreja, destacando "a necessidade de dar um reconhecimento mais pleno" aos seus carismas e à sua vocação. "Deus escolheu algumas mulheres como as primeiras testemunhas e anunciadoras da ressurreição", lembra o IL; elas, portanto, "em virtude do Batismo, estão em uma condição de plena igualdade, recebem a mesma efusão de dons do Espírito e são chamadas ao serviço da missão de Cristo". A primeira mudança a ser feita, portanto, "é a de mentalidade", com "uma conversão para uma visão de relacionalidade, interdependência e reciprocidade entre mulheres e homens, que são irmãs e irmãos em Cristo, em vista da missão comum".
Em algumas culturas, destaca o Il, "a presença do machismo permanece forte"; por essa razão, a segunda sessão sinodal pede "uma participação mais ampla das mulheres nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos de tomada de decisão", juntamente com "um acesso mais amplo a posições de responsabilidade nas dioceses e instituições eclesiásticas", bem como nos seminários, institutos, nas faculdades de teologia e "no papel de juiz nos processos canônicos". As sugestões também dizem respeito às mulheres consagradas, para as quais se espera "um maior reconhecimento e um apoio mais decisivo" para sua vida e seus carismas, juntamente com "seu emprego em posições de responsabilidade".
Quanto à admissão de mulheres ao ministério diaconal, o IL informa que isso é solicitado por "algumas Igrejas locais", enquanto outras "reiteram a sua contrariedade" (n. 17). O tema, é ressaltado, "não será objeto dos trabalhos" em outubro próximo e, portanto, é bom que "a reflexão teológica continue". Em todo caso, a atenção ao papel das mulheres "evidencia o desejo de um fortalecimento de todos os ministérios exercidos pelos leigos", para os quais se pede que "adequadamente capacitados possam contribuir para a pregação da Palavra de Deus também durante a celebração da Eucaristia" (n. 18).
Depois da introdução e dos fundamentos, o IL se detém sobre as relações (n. 22-50) que permitem à Igreja ser sinodal em missão, ou seja, as relações com Deus Pai, entre os irmãos e as irmãs e entre as Igrejas. Os carismas, os ministérios ordenados e não ordenados são, portanto, essenciais em um mundo e para um mundo que, em meio a tantas contradições, está buscando justiça, paz e esperança. Das Igrejas locais, emerge também a voz dos jovens que pedem uma Igreja não de estruturas, nem de burocracia, mas fundada em relações que suscitam e vivem em dinâmicas e percursos. Nessa perspectiva, a Assembleia de outubro poderá analisar a proposta de dar vida a novos ministérios, como o da "escuta e acompanhamento". "É preciso uma 'porta aberta' da comunidade", explica o texto, "pela qual as pessoas possam entrar sem se sentirem ameaçadas ou julgadas" (n. 34).
Tais relações deverão ser depois desenvolvidas de maneira cristã ao longo de percursos adequados e contextualizados (n. 51-79), porque "não há missão sem contexto, não há Igreja sem enraizamento em um lugar preciso" (n. 53). Portanto, serão fundamentais a formação e o "discernimento comunitário" que permite às Igrejas tomar decisões oportunas, articulando a responsabilidade e a participação de todos. Destacando, além disso, que "a família, como comunidade de vida e de amor, é um lugar privilegiado de educação à fé e à prática cristã", o IL afirma que "no entrelaçamento das gerações é escola de sinodalidade. Todos, os fracos e os fortes, as crianças, os jovens e os idosos, têm muito a receber e muito a dar" (nº 55).
Mas entre os caminhos a serem seguidos estão também aqueles que permitem que aqueles com responsabilidades eclesiais prestem contas de forma transparente de suas ações para o bem e a missão da Igreja."
Uma Igreja sinodal precisa de uma cultura e prática de transparência e prestação de contas (accountability)", afirma o IL, "que são indispensáveis para promover a confiança mútua necessária para caminhar juntos e exercer a corresponsabilidade pela missão comum" (n. 73).
Lembrando que "a prestação de contas do próprio ministério à comunidade pertence à tradição mais antiga, que remonta à Igreja apostólica" (n. 74), o documento de trabalho enfatiza que hoje "a demanda por transparência e prestação de contas na e pela Igreja se tornou mais evidente como resultado da perda de credibilidade devido aos escândalos financeiros e, especialmente, aos abusos sexuais e de outro tipo de menores e pessoas vulneráveis. A falta de transparência e de prestação de contas alimentam o clericalismo" (n. 75), que se alicerça erroneamente na suposição de que os ministros ordenados não devem prestar contas a ninguém pelo exercício de sua autoridade.
A prestação de contas e a transparência, insiste o IL, dizem respeito a todos os níveis da Igreja e não se limitam ao âmbito dos abusos sexuais e financeiros, mas também tocam "os planos pastorais, os métodos de evangelização e as modalidades pelas quais a Igreja respeita a dignidade da pessoa humana, por exemplo, no que diz respeito às condições de trabalho dentro de suas instituições" (n. 76). Daí o apelo a "necessárias estruturas e formas de avaliação - entendida em sentido não moralista - do modo como são exercidas as responsabilidades ministeriais de todos os tipos" (n. 77). A esse respeito, o documento recorda a necessidade de a Igreja garantir, por exemplo, a publicação de um relatório anual tanto sobre a gestão dos bens e dos recursos, quanto sobre o desempenho da missão, incluindo "uma ilustração das iniciativas empreendidas no âmbito da salvaguarda (proteção de menores e pessoas vulneráveis) e da promoção do acesso das mulheres a posições de autoridade e de sua participação nos processos decisórios" (n. 79).
O IL analisa em seguida os lugares (n. 80-108) onde as relações e os caminhos tomam forma. Lugares que devem ser entendidos não simplesmente como espaços, mas como contextos concretos, caracterizados por culturas e dinamismos da condição humana. Convidando a superar uma visão estática e uma imagem piramidal das relações e das experiências eclesiais, o documento de trabalho reconhece antes sua variedade e pluralidade, que permitem à Igreja - una e universal - viver em circularidade dinâmica "nos lugares e a partir dos lugares", sem cair nos particularismos nem no achatamento. Pelo contrário: é justamente nesse horizonte assim delineado que devem ser inseridos os grandes temas do diálogo ecumênico, inter-religioso e com as culturas. Nesse contexto, insere-se também a busca de formas de exercício do ministério petrino abertas à "nova situação" do caminho ecumênico, rumo à unidade visível dos cristãos (n. 102 e 107). Peregrinos da esperança
Por fim, o documento lembra como cada uma das questões nele contidas pretende ser um serviço à Igreja e uma possibilidade de curar as feridas mais profundas de nosso tempo. O Instrumentum laboris, assim, conclui-se com um convite para continuar o caminho como "peregrinos da esperança", também na perspectiva do Jubileu de 2025 (n. 112).
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Igreja em caminho com o empenho missionário de todos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU