10 Julho 2024
O Sínodo é, antes de tudo, um formidável ‘centro de treinamento de escuta’: assim se manifestou o cardeal Mario Grech, secretário-geral da Secretaria Geral do Sínodo, abrindo seu discurso na Sala de Imprensa da Santa Sé. A ocasião foi a apresentação na terça-feira, 9 de julho, do Instrumentum laboris (Il) para a segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (2-27 de outubro de 2024) sobre o tema: "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão". A publicação do documento foi acompanhada por uma série de Faqs (perguntas frequentes) para facilitar a leitura das mais de 50 páginas do texto completo.
A reportagem é de Isabella Piro, publicada por L'Osservatore Romano, 09-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O "centro de treinamento de escuta" do qual o cardeal fala é aquele da escuta de Deus e do mundo, uma escuta que - ele explica - começa em primeiro lugar pela voz do Senhor e depois continua não em "pesquisas de opinião", mas na atenção ao "senso da fé do povo de Deus". O objetivo, enfatizou o Cardeal Grech, é "buscar o que Deus quer dizer à Igreja nesta hora de sua jornada".
Destacando, depois, as numerosas contribuições que chegaram à Secretaria Geral do Sínodo no último ano (basta mencionar as 108, das 114, sínteses nacionais preparadas pelas Conferências Episcopais), o cardeal enfatizou "o virtuoso dinamismo" com o qual o Instrumentum laboris foi finalizado: uma vez que a primeira sessão da assembleia terminou em 2023, de fato, o "Sínodo retornou às Igrejas locais e foi devolvido a todos os outros". E das Igrejas locais, depois, partiu-se novamente em vista da próxima reunião. O documento de trabalho, acrescentou o Cardeal Grech, também será a base de "um Subsídio teológico a ser publicado em breve, que oferecerá algumas linhas de aprofundamento teológico e canônico dos temas presentes no Instrumentum, para ajudar os membros da Assembleia a reconhecer e compreender as raízes e as implicações do que está contido nele".
Um "variegado concerto de vozes", " verdadeira polifonia, rica em timbres e acentos", continuou o cardeal, o Instrumentum "foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo", que desde o início do caminho sinodal "se reuniu - presencialmente ou à distância - 17 vezes", com "densa participação". Os votos do secretário-geral foram, finalmente, que tal "processo de escuta prolongada e diferenciada" ajude a Igreja sinodal a "discernir a Palavra de Jesus para os homens e as mulheres de hoje", de modo a "fortalecer os mensageiros do Evangelho, sanar as feridas da humanidade e despertar a esperança nos nossos corações".
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o Cardeal Grech voltou ao tema do diaconato feminino, sobre o qual - lemos no Il - a reflexão teológica continuará e, portanto, não será abordado na próxima assembleia. O Papa", explicou o cardeal, "encarregou o Dicastério para a Doutrina da Fé para estudar essa temática, no contexto mais amplo dos ministérios, em colaboração com a secretaria geral do Sínodo". De acordo com as indicações do Pontífice, o aprofundamento deve continuar".
Por sua vez, o cardeal jesuíta Jean-Claude Hollerich, arcebispo de Luxemburgo e relator geral da assembleia sinodal, se debruçou sobre a imagem de uma Igreja "viva e em movimento". Em seu discurso, enfatiza particularmente a "grande diversidade" na maneira como as Igrejas se colocaram em caminho para a próxima assembleia, um caminho caracterizado por "liberdade e criatividade na maneira de se apropriar do processo" sinodal. Vários frutos resultaram disso, incluindo - afirma o cardeal - a parresia, ou seja, a "franqueza" com a qual as Igrejas locais se expressam, juntamente com sua "capacidade de releitura e de autoavaliação", aspecto fundamental para "concretizar cada vez mais a necessidade de transparência, responsabilidade e avaliação" expressa pelo Il.
O Cardeal Hollerich não deixou, além disso, de mencionar alguns lugares onde a sinodalidade já se concretiza em iniciativas específicas, como a Índia, a África francófona, Papua Nova Guiné, Lesoto ou Zimbábue. Por fim, o cardeal jesuíta destaca "a ampla e diversificada participação com um maior envolvimento dos leigos, dos jovens, das mulheres e dos grupos marginalizados" no caminho sinodal, do qual emerge um "desejo fortemente expresso de uma Igreja de relações, não burocrática ou de estruturas".
Por sua vez, os dois secretários especiais da XVI Assembleia Sinodal - Monsenhor Riccardo Battocchio e Padre Giacomo Costa, também da Companhia de Jesus - em sua intervenção em parceria chamaram a atenção para o "vínculo intrínseco entre sinodalidade e missão", destacando como o processo sinodal, lançado em 2021, não pode de forma alguma ser considerado "autorreferencial". Unânime foi a ênfase da "imensa gratidão" que emerge do Il, especialmente pela "alegria do encontro e do compartilhar, a descoberta do método da conversação no Espírito", "a beleza" e "as riquezas" que cada Igreja local pode compartilhar com as outras.
Certamente, explicaram os dois secretários especiais, não faltaram "tensões e conflitos", porque "a Igreja não é homogênea, mas harmônica" e é nessa perspectiva que se deve "colocar cada vez mais em primeiro lugar essa harmonia, e não ideias, ideologias ou interesses". A partir dessa perspectiva, a Igreja sinodal é, portanto, "uma Igreja relacional", ou seja, em movimento, dinâmica, em caminho, porque "somente caminhando se conseguem harmonizar as tensões constitutivas de nossa fé".
Ao mesmo tempo, Monsenhor Battocchio e Padre Costa lembraram "a exigência da formação, aquela que é absolutamente mais sentida em todo o mundo", porque "muitos percebem na perspectiva sinodal algo belo para a que o Senhor nos convida, mas também se sentem inadequados: faltam-lhes as palavras e os maneiras para seguir em frente". Em particular, se reportaram ao "discernimento pessoal, comunitário e eclesial: está em jogo aqui a percepção da diferença entre fazer programação pastoral e deixar-se guiar pelo Espírito".
Quanto à metodologia de trabalho da próxima assembleia, os secretários especiais explicaram que será marcada por módulos, correspondentes às seções do Instrumentum. Não faltarão momentos de oração, nem a apresentação dos frutos de alguns encontros, como aquele encontro internacional dos párocos, realizado entre abril e maio passado, ou o dos vários grupos de estudo criados nesse meio tempo. A assembleia de outubro próximo, acrescentaram Battocchio e Costa, não terminará com um Relatório de síntese (como aconteceu em 2023), mas com um Documento final. O processo sinodal, no entanto, continuará, pois "todo o Povo de Deus em cada Igreja local será chamado a concretizar o chamado para crescer como um povo sinodal missionário".
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Um formidável centro de treinamento de escuta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU